quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A mulher que precisava ficar de cabeça pra baixo


Ao chegar ao hospital, o Dr. Louis F. Janeira, eletrofisiologista cardíaco, achou que seria um dia como outro qualquer. Até que ouviu os gritos do segurança de “Ponha ela no chão!”. O médico foi correndo ver o motivo do alarde, e, naquele momento, percebeu que a rotina passaria longe de seu dia: viu um homem de mais de 2 metros de altura segurando uma pequena mulher de cabeça pra baixo. “Preciso segurá-la assim”, insistiu.
O segurança achou um absurdo e tentou libertar a mulher, enquanto a multidão assistia. Para evitar que alguém se ferisse, Dr. Janeira pediu que todos se acalmassem e tentou entender a situação.
O gigante, Jason, era marido da pequena senhora de 60 e poucos anos, Mary. No dia anterior, Mary deu entrada no hospital, pois estava com seu ritmo cardíaco perigosamente baixo (40 batidas por minuto, sendo que o normal seria entre 60 e 80), causando desmaios constantes. Não fosse por uma operação de emergência, na qual o médico implantou um marca-passo em Mary, a situação teria se agravado.
“Não esperava ver você tão cedo”, disse ele, logo que se lembrou da paciente. Ela tivera alta pela manhã e, segundo o casal, tudo estava bem até meia hora atrás, quando Mary desmaiou. Jason a colocou na cama e, depois de quatro tentativas, percebeu que ela não conseguiria se manter em pé: bastava se erguer um pouco e desmaiava novamente. Apenas de cabeça para baixo Mary conseguia manter a consciência.
Diagnóstico urgente
Sem demora, o médico começou a imaginar os vários diagnósticos possíveis. Talvez uma obstrução estivesse impedindo o fluxo de sangue, ou a pressão estivesse tão baixa que o coração não era capaz de bombear sangue até o cérebro. Reação alérgica, choque anafilático, desidratação, tamponamento cardíaco (acúmulo de líquido em torno do coração, a ponto de atrapalhar os batimentos)… eram muitas causas possíveis.
Mais estranho ainda era o fato de o recém-implantado marca-passo não ajudar. O aparelho, composto por um gerador de corrente e um fio, é capaz de estimular o coração a bater corretamente, e raramente falha: segundo dados do St. Jude Medical, um dos maiores fabricantes de marca-passos dos Estados Unidos, apenas 97 de 220 mil de seus aparelhos apresentaram problema de desconexão em 30 dias após o implante. Parece que era o caso de Mary.
Ainda carregada por seu marido, ela foi levada até a sala de cirurgia para uma nova intervenção, na qual o marca-passo seria reconectado. Como injeções de epinefrina (substância que acelera os batimentos cardíacos) não surtiam efeito, o procedimento foi feito com Mary pendurada de cabeça pra baixo.
No dia seguinte, Dr. Janeira recebeu novamente a paciente, mas desta vez ela estava de pé e fora agradecer pelo apoio e mostrar que a cirurgia havia sido um sucesso. Com a promessa de fazer revisões em seu marca-passo a cada três meses, ela saiu do hospital, dessa vez caminhando ao lado de seu gigantesco marido.[Discover Magazine]

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Tomates cozidos podem diminuir e até matar células cancerosas


Um estudo novo descobriu um nutriente em tomates cozidos que retarda o crescimento de – e até mesmo mata – células do câncer de próstata.
Em laboratório, os pesquisadores testaram o efeito do nutriente licopeno, que dá ao tomate sua cor vermelha. Ele tem a capacidade de interceptar o câncer, na hora que o tumor faz as ligações de que necessita para crescer.
Agora, os cientistas querem fazer testes para verificar se a mesma reação ocorre no corpo humano. “A reação química simples que o nutriente faz ocorre em concentrações de licopeno facilmente alcançadas através da ingestão de tomates processados”, disse o pesquisador do estudo Mridula Chopra.
O licopeno está presente em todas as frutas e vegetais vermelhos, mas suas concentrações são mais altas no tomate. Ele fica mais facilmente disponível e biologicamente ativo quando se trata de tomate com uma pequena quantidade de óleo de cozinha ou processado.
A pesquisa foi cofinanciada pelo fabricante Heinz, para acompanhar estudos anteriores dos mesmos pesquisadores que mostraram um aumento significativo nos níveis de licopeno em amostras de sangue e sêmen após os participantes comerem 400 gramas de tomate processado por duas semanas.
Os cientistas explicam que as células cancerosas podem permanecer dormentes por anos, até que seu crescimento é acionado através da secreção de substâncias químicas que iniciam o processo de vinculação das células cancerosas com células endoteliais que atuam como “portas” que revestem os vasos sanguíneos.
Isso permite que as células cancerosas alcançassem e se aproveitem do suprimento de sangue. Nos experimentos de laboratório, o licopeno interrompeu este processo de vinculação, sem o qual as células cancerosas não podem crescer.
Os pesquisadores explicaram que todas as células cancerosas usam um mecanismo similar (angiogênese) para se alimentarem de sangue. Mas o mecanismo é especialmente importante para o câncer de próstata porque o licopeno tende a se acumular nos tecidos da próstata.
As pessoas processam licopeno de forma diferente, bem como a capacidade do nutriente de interceptar o câncer varia entre os produtos de tomate. Também já foi sugerido em pesquisas anteriores que fumantes podem ter que consumir mais tomates que os não fumantes para obter os mesmos benefícios do licopeno.
Alguns medicamentos contra o câncer visam a formação de novos vasos sanguíneos, mas são necessárias mais pesquisas para mostrar como isso poderia ser usado para ajudar pacientes com câncer.
O novo estudo não diz diretamente se o licopeno tem algum efeito contra o câncer, mas pode ajudar os cientistas a entender mais sobre como a química afeta a formação dos vasos sanguíneos.[Telegraph]

O que move os cientistas a fazerem descobertas?


As descobertas científicas, em menor ou maior grau, são possíveis graças a uma intrigante condição humana que os pesquisadores têm de sobra: a curiosidade. Muito já foi pesquisado sobre os objetos de estudo da ciência, mas pouco sobre o estímulo que move os experimentos. Esta é a chamada “psicologia da ciência”: um campo que se dedica a descobrir porque os cientistas querem sempre saber mais.
Um psicólogo americano, Greg Feist, desenvolveu um estudo comportamental. Esta análise não se aplica, conforme conta ele, apenas a cientistas. O conceito vale para todos aqueles que pensam no mundo cientificamente, ou seja, como um conjunto de condições que podem ser observadas e examinadas. Isso está embutido na personalidade humana, de acordo com Feist.
O americano explica que os seres humanos são compostos de duas condições básicas: seu próprio perfil psicológico e a influência do meio em que vivem. No quesito da personalidade, ele defende que realmente existem algumas mentes mais abertas que outras, mais dispostas a receber ideias novas. Isso não se relaciona necessariamente a nível cultural ou inteligência, é uma característica separada.
A respeito da influência, Feist explica que alguns grupos sociais podem estimular sua busca por respostas de maneira mais intensa que outros. Ele cita o exemplo da doutrina judaica: um dos princípios básicos do judaísmo afirma que não existe uma verdade absoluta, ninguém a detém. Dessa forma, todos devem buscar chegar o mais próximo dela através do debate, e não aceitar conceitos prontos. Isso explica, segundo ele, que 30% dos vencedores de Prêmio Nobel na história foram judeus.
Dessa maneira, é possível determinar psicologicamente quão interessada em descobertas uma pessoa é. Isso é importante principalmente na educação, conforme explica Feist, para identificar crianças com potencial investigativo, dentro das escolas. Muitos futuros cientistas brilhantes foram perdidos, segundo o psicólogo, devido à falta de estímulo na primeira infância. [NewScientist]

Cientistas transformam células da pele em neurônios


Uma nova pesquisa converteu células da pele diretamente em células que se desenvolvem nos principais componentes do cérebro.
O experimento, feito com ratos, pulou a etapa do processo com células-tronco. Eles disseram a experiência tem potenciais usos médicos, mas muitos mais testes são necessários antes que a técnica possa ser usada na pele humana.
Células-tronco, que podem se transformar em qualquer tipo de célula, são uma promessa enorme em uma série de tratamentos.
Uma das grandes questões desse campo é onde obter as células. Células-tronco embrionárias invocam questões éticas, e pacientes precisariam tomar medicamentos imunossupressores se qualquer tecido com células-tronco não correspondesse às seus próprios.
Um método alternativo tem sido retirar células da pele e reprogramá-las em células-tronco “induzidas”. Isso pode ser feito a partir de células do próprio paciente, no entanto, o processo resulta na ativação de genes causadores de câncer.
Agora, pesquisadores americanos estão investigando uma outra opção – a conversão das células da pele de uma pessoa em células especializadas, sem criar células-tronco”induzidas”.
Eles transformaram as células da pele de ratos diretamente em neurônios, criando células “precursoras neurais”, que podem se desenvolver em três tipos de células do cérebro: neurônios, astrócitos e oligodendrócitos.
Essas células precursoras têm a vantagem de que, uma vez criadas, podem ser cultivadas em laboratório em números muito grandes, uma vantagem em tratamentos.
Células do cérebro e células da pele contêm a mesma informação genética, no entanto, o código genético é interpretado de maneira diferente em cada uma. Isto é controlado por “fatores de transcrição”.
Os cientistas usaram um vírus para infectar as células da pele com três fatores de transcrição conhecidos pelos seus altos níveis em células precursoras neurais. Depois de três semanas, cerca de uma em 10 das células tornaram-se células precursoras neurais.
As células se integraram nos cérebros dos ratos e produziram uma proteína importante para a condução do sinal elétrico pelos neurônios.
Os pesquisadores disseram que mais pesquisas precisam avaliar a segurança e eficácia do método, mas seu potencial é grande. O estudo abre a porta para considerar novas formas de regenerar neurônios danificados.[BBC]

As cores incríveis que você não enxerga


Quando você era criança e fazia uma mistura de duas cores com tintas, na escolinha de artes, o resultado não era realmente uma fusão dessas duas cores, e sim uma terceira. Se você misturava verde e vermelho, por exemplo, obtinha uma espécie de marrom, e não uma cor “vermelho-esverdeada” de fato. Embora existam, essas legítimas cores fusionadas estão além da capacidade de visão do olho humano: são as chamadas “cores proibidas”.
A origem dessa impossibilidade está no que a ciência chama de “processo oponente”. Verde e vermelho, por exemplo, são duas tonalidades com freqüências de luz distintas. Quando enxergamos vermelho, um grupo de células na retina entra em atividade, e dessa forma o cérebro sabe que deve enxergar essa cor.
Quando há luz verde, no entanto, o mesmo neurônio tem a atividade inibida, e assim enxergamos o verde. Como as células não podem estar ativadas e desativadas ao mesmo tempo, só podemos ver uma cor ou outra. Da mesma forma, funciona a relação do preto com o branco e o azul em oposição ao amarelo.
A “quebra” dessa regra aconteceu em 1983, quando dois cientistas americanos fizeram um experimento. Voluntários foram colocados em frente a um painel que apresentava faixas alternadas de luz verde/vermelha, ou amarela/azul. Um rastreador ocular, então, fez a distinção: dentro da retina de cada pessoa, metade das células recebia apenas a coloração verde, por exemplo, e outra metade das células apenas enxergava o vermelho.
O que os voluntários viram parecia ficção científica: as fronteiras entre as faixas começaram a sumir, e uma cor foi inundando pouco a pouco o espaço da outra. No final das contas, eles relataram ter observado cores que nunca haviam visto antes. Ninguém sabia descrever o que via, a cor era “simultaneamente verde e vermelha”, ou azul e amarela.
Estudos recentes identificaram, dentro de um espectro, como seriam essas cores. O “vermelho esverdeado”, por exemplo, é uma espécie de cor lamacenta, não muito diferente daquela que se obtém quando misturamos as duas tintas. Esta cor mista seria uma das chamadas “cores proibidas”: já se sabe como ela é, mas o olho comum não é capaz de vê-la sem ajuda de aparelhos.
Como não existe meio de enxergar essas cores naturalmente, elas só são vistas através do velho processo de rastreamento ocular que estabiliza a retina. O que falta acontecer, portanto, é que alguém invente uma espécie de aparelho conversor, que possa ser colocado como um par de óculos. Algo como um visualizador automático de cores proibidas. [LiveScience]