Novas
tecnologias estão perto de esclarecer um dos maiores mistérios da biologia: o
funcionamento efetivo do nosso cérebro
por Carl Zimmer
Van Wedeen afaga a barba grisalha e se
debruça sobre a tela do computador, examinando uma cascata de arquivos. Estamos
sentados em uma biblioteca sem janelas, rodeados por caixas lotadas de correspondência
antiga, edições amassadas de publicações científicas e um velho projetor de
slides, que ninguém teve coragem de jogar fora. “Espere um pouco. Vou levar um
instante para achar o seu cérebro”, diz ele.
No disco rígido de Wedeen estão
armazenados centenas de cérebros, sob a forma de imagens
tridimensionais detalhadas feitas com macacos, ratos e seres humanos. Wedeen se
prontificou a me conduzir em uma viagem pela minha própria cabeça. “Vamos
visitar todos os pontos turísticos”, promete com um sorriso.
Essa é a minha segunda visita ao Centro
Martinos de Imageamento Biomédico, em Boston. Na primeira vez, poucas semanas
atrás, em uma sala de escaneamento, eu me deitei em uma plataforma, com a parte
de trás da cabeça apoiada em uma caixa de plástico aberta. Um radiologista
baixou um capacete branco de plástico sobre o meu rosto. Eu o fitei através de
dois orifícios enquanto fixava bem o capacete com parafusos, de tal modo que as
96 antenas em miniatura ali instaladas ficassem perto o bastante do meu cérebro
para captar as ondas de rádio que iria emitir. À medida que a plataforma
deslizava para dentro da abertura cilíndrica do equipamento de ressonância
magnética, o que me veio à lembrança foi o filme O Homem da Máscara de Ferro.
Os magnetos ao redor passaram a roncar e
apitar. Durante uma hora, permaneci imóvel, de olhos fechados, tentando me
acalmar e pensar em outras coisas. Não foi fácil. Para obter o máximo de
resolução possível do aparelho, Wedeen e seus colegas projetaram o equipamento
com espaço suficiente apenas para acomodar uma pessoa do meu tamanho. Para
manter o pânico sob controle, passei a respirar com lentidão e me transportei
para locais da minha memória. Acabei me lembrando de como uma vez eu havia
levado a minha filha de 9 anos à escola em meio a montes de neve após uma
tempestade.
Enquanto estava deitado, refleti sobre o
fato de que todos esses pensamentos e emoções eram uma criação do pedaço de
carne que pesava apenas 1,4 quilo, o objeto daquele estudo: o cérebro. Dele
vinham o meu medo, transmitido por impulsos elétricos que convergiam para uma
estrutura de tecido cerebral em forma de amêndoa, conhecida como amígdala, e
também a reação tranquilizadora originada nas regiões do córtex frontal. A
lembrança da caminhada com a minha filha era coordenada por uma dobra de
neurônios em forma de cavalo-marinho, o hipocampo, que por sua vez reativou uma
vasta rede de associações, as quais haviam sido originalmente ativadas quando
tive de enfrentar aqueles montes de neve. Assim forma-se a memória.
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Imagem: Um engenheiro veste um capacete
com sensores no Centro Martinos de Imageamento Biomédico, na cidade americana
de Boston, parte de um equipamento de ressonância magnética do cérebro que
consome quase tanta energia quanto um submarino nuclear. As antenas captam os
sinais emitidos quando o campo magnético do aparelho excita as moléculas de
água no cérebro. Computadores convertem esses dados em mapas do órgão.
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