Febre Puerperal
é o nome de uma doença que ocorria nas maternidades, matando milhares de mães e
crianças. Esse nome descrevia a fase em que a enfermidade surgia: ela era
observada no puerpério – o período logo após o parto.
http://www.cefetsp.br/edu/eso/semmelweisjussara.html
Turma 260
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Allan Rodrigo
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n.º 02
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André Braga
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n.º 03
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Regiane
Favorato
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n.º 36
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Jussara
Tassini
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n.º 38
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Era comum que,
de cada dez mães, uma ou mais morressem após o parto. Freqüentemente, os bebês
também morriam, com sintomas parecidos. Em certos casos, nas fases mais
intensas das epidemas, morriam todas as mulheres que davam entrada nos
hospitais – os partos em casa, por parteiras, raramente eram seguidos pela febre
puerperal.
A causa inicial
da infecção era a entrada de germes por meio de mãos sujas, instrumentos
cirúrgicos contaminados, contato com roupas infectadas, etc. Como o útero
ficava ferido após o parto, tornava-se fácil ocorrer uma infecção. Outra teoria
dizia que a causa era o acúmulo de leite dentro do corpo da mulher, após o
parto. Também se atribuía a febre puerperal a fatores emocionais, como medo,
vergonha, etc.
Desconfiava-se
de fatores externos, atmosféricos – miasmas, influências cósmicas ou terrestres.
Vários médicos
tentaram solucionar o problema da febre puerperal, mas foi somente o trabalho
do médico húngaro Ignaz Philipp Semmelweis (1818-1865) que proporcionou
evidências claras sobre o processo de transmissão da enfermidade.
Em 1846,
Semmelweis iniciou o seu trabalho em Viena. Havia duas divisões ma maternidade.
Ele trabalhava na Primeira Clínica Obstétrica, na qual eram instruídos os
estudantes de medicina. Em média, de cada seis mulheres que entravam na
maternidade, uma saía morta.
Semmelweis
procurou explicações para a febre puerperal. Através de um estudo cuidadoso,
foi excluindo as várias causas sugeridas.
Uma das
explicações preferidas era a de causas atmosféricas, como miasmas ou variações
climáticas. Semmelweis observou que havia uma mortalidade grande, constante, em
todas as épocas do ano, com qualquer tipo de clima. Além disso, sabia-se que as
pessoas que as pessoas que preferiam realizar o parto em suas casas raramente
ficavam doentes, o que parecia excluir qualquer qualquer causa atmosférica,
cósmica ou telúrica. Quando a epidemia se intensificava e a maternidade era
fechada, as mortes diminuíam.
A causa devia
estar dentro do próprio hospital. No entanto, mesmo dentro do prédio, ocorria
um fato inexplicável. Em geral, a mortalidade na divisão de Semmelweis era
quatro vezes maior do que na Segunda da Clínica. Como ambas ficavam no mesmo
prédio, Semmelweis começou a procurar a causa dessa diferença, convencido de
que havia fatores nocivos dentro dos limites da Primeira Clínica Obstétrica.
Era fato
conhecido, na cidade, que a mortalidade na Primeira Clínica era grande.
Sugeriu-se que o medo poderia influir nas pacientes da Primeira Clínica,
enfraquecê-las e produzir a febre puerperal. Semmelweis, no entanto, afastou
essa possibilidade. Por um lado, o medo só poderia ter surgido após um período
em que a mortalidade na Primeira Clínica fosse maior que na Segunda. Por outro
lado, não se podia conceber como o medo poderia produzir uma doença tão grave e
mortal.
Semmelweis
tomaca hipótese por hipótese, analisava as evidências, e ia excluindo uma a
uma. Mesmo as sugestões mais estranhas eram levadas em conta, pois tratava-se
de um problema gravíssimo: estava em jogo a vida de centenas de mulheres.
Na Primeira
Clínica, as doentes de febre puerperal eram isoladas em uma sala especial e
visitadas pelo padre, que passava antes pelos quartos onde estavam as mulheres
sadias, com o sacristão tocando o sino. Sugeriu-se que isso podia criar um
terror muito grande entre as mulheres e aumentar a doença. Na Segunda Clínica,
ao contrário, o padre chegava às doentes sem passar pelas outras. Semmelweis
conseguiu fazer com que o padre desse uma volta por fora dos quartos das
parturientes e que o sacristão não tocasse mais o sino. As mortes continuaram,
sem mudança.
Notou-se uma
outra diferença entre os dois setores da maternidade. Na Segunda Clínica, as
parturientes eram colocadas de lado, durante o parto. Na Primeira, eram
deitadas de costas. Semmelweis mudou a posição das parturientes da Primeira
Clínica, apesar da resistência dos médicos e das enfermeiras. Não houve
melhora, e retornou-se a posição anterior.
Com a mudança do
diretor, que não aceitava a teoria do contágio, os métodos foram abandonados e
a mortalidade havia aumentado. O próprio Semmelweis não acreditava no contágio
da febre puerperal através doa ar, pois nesse caso a epidemia deveria ser ainda
pior.
Na verdade,
Semmelweis não tinha inicialmente nenhuma idéia sobre a causa da enfermidade ou
sobre sua transmissão.
O fato que veio
lhe trazer uma repentina compreensão desse problema foi a morte de um colega.
Seu amigo, professor de Medicina Legal, feriu-se com o bisturi após realizar
uma autópsia. A ferida se infectou e surgiu uma infecção geral, chamada
"piemia", da qual ele faleceu poucos dias depois. Semmelweis ficou
chocado com a morte e, ao mesmo tempo, informando-se sobre os detalhes,
percebeu que os sintomas do amigo tinham sido idênticos aos das mulheres com
febre puerperal.
Efeitos
semelhantes devem ter causas semelhantes. Mas o que poderia haver de semelhante
entre uma mulher que fica doente após o parto, e um médico que se infecciona
pela ferida de um bisturi sujo?
Semmelweis
pensava e repensava sobre a semelhança entre os dois tipos de morte. Por fim,
concluiu que deviam ter entrado "partículas cadavéricas" no corpo das
mulheres. E isso deveria ter sido causado pelos próprios médicos que as
examinaram.
Os estudantes e
os médicos da Primeira Clínica praticavam com grande dedicação a dissecação de
cadáveres. Após isso, lavavam apressadamente suas mãos com água (nem sempre
usando sabão) e as enxugavam em toalhas sujas ou em seus próprios aventais. Daí
passavam para o cuidado das pacientes, levando consigo um cheiro nauseante.
Semmelweis
percebeu que aí estava o problema. Durante a dissecação, algumas "partículas
cadavéricas" se prendiam às mãos dos médicos e não seriam removidas pelo
processo apressado de lavagem, como o próprio cheiro mostrava. Depois, ao
examinar as mulheres grávidas ou em trabalho de parto, a mão contaminada
passaria para os órgãos genitais dessas pessoas algumas partículas cadavéricas,
que se espalhariam pelo sangue, produzindo a doença. A causa da febre puerperal
seria igual a causa da morte de seu amigo: infecção por contato com substâncias
de cadáveres.
A hipótese de
Semmelweis explicava a diferença observada entre a Primeira e a Segunda
Clínicas. Na Primeira, tinham acesso os estudantes de Medicina. Na Segunda,
eram treinadas apenas as parteiras. Os primeiros realizavam autópsias; as
segundas, não.
Vários fatores
se tornaram significativos, de repente. As pessoas que tinham seus partos em
casa eram em geral atendidas por parteiras ou clínicos que não praticavam
autópsias. Houve até uma mulher que se recusava a ter filho no hospital,
preferindo tê-lo dentro de uma charrete.
Semmelweis
percebeu que ele próprio tinha sido responsável pela morte de muitas mulheres.
Quase todos os dias, pela manhã, antes de atender às mulheres, ele realizava
autópsias de cadáveres e, depois, ia examinar as pacientes.
Se a hipótese
estivesse correta, pensou Semmelweis, o modo de evitar a enfermidade seria
destruir as partículas cadavéricas nas mãos, por meios químicos. Ele começou a
usar uma solução de cloreto de cálcio.
Todos os
estudantes e professores que entravam na clínica deviam lavar e esfregar as suas
mãos, antes de atender às pacientes. Após essa desinfecção inicial,
considerava-se que bastava lavar as mãos com água e sabão, entre os exames das
várias doentes.
O resultado foi
muito bom. A mortalidade tornou-se aproximadamente igual à da Segunda Clínica.
Portanto, parecia que Semmelweis havia descoberto a diferença entre as duas
divisões.
Apesar do
sucesso prático, o superior de Semmelweis, o diretor do hospital, não aceitou
suas idéias e se recusou a formar uma comissão para estudar o assunto. Houve
também resistências entre os estudantes e professores à adoção do método de
desinfecção. Um estudante ridicularizou o método de Semmelweis, recusando-se a
tomar as precauções indicadas. Nessa época, a mortalidade aumentou. Semmelweis
descobriu o estudante e o puniu. A mortalidade diminuiu novamente.
No entanto,
houve um novo problema. Embora todos os cuidados estivesse sendo respeitados,
doze mulheres que estavam todas na mesma fileira de camas ficaram doentes e
onze delas morreram de febre puerperal.
Semmelweis logo
entendeu que ainda não tinha conseguido encontrar a explicação completa nem o
método seguro de prevenir a febre puerperal. Analisando esse caso, logo se
convenceu de que a doença devia ter sido transmitida às mão dos estudantes e
médicos depois que eles haviam entrado na clínica. Notou então que, na fileira
de mulheres que haviam morrido, a primeira paciente já tinha ingressado no
hospital com uma doença do útero. Após examiná-la, Semmelweis e seus estudantes
haviam apenas lavado as mãos com sabonete, e passado a examinar as pacientes
seguintes, que depois adoeceram com febre puerperal.
Semmelweis
concluiu que o material transmitido da primeira paciente para as outras havia
produzido a enfermidade. Embora não se tratasse propriamente de "matéria
cadavérica", o líquido que saía da ferida do útero podia ser considerado
como um material em decomposição, tendo propriedades semelhantes ao material de
uma cadáver.
A hipótese
inicial de Semmelweis teve de ser rejeitada. A causa da mortalidade não era apenas
o transporte de material dos cadáveres para as pacientes. Existia uma
semelhança entre os dois casos, mas não uma identidade. Apesar disso,
Semmelweis continuou a se referir sempre à "matéria cadavérica", o
que produziu muita confusão sobre suas idéias.
A partir de
então, Semmelweis modificou seu procedimento: era necessário desinfetar as mãos
com cloreto de cálcio depois de qualquer contato com alguém que tivesse feridas
ou alguma doença de onde pudesse sair algum material pútrido. Posteriormente,
como mesmo essa medida não se mostrou suficiente, adotou o procedimento de
isolar das demais pacientes qualquer pessoa que tivesse alguma doença que
pudesse infectá-las.
Após a adoção
desse cuidado, a mortalidade permaneceu baixa. Aparentemente, a febre puerperal
havia sido superada.
Nota-se que não
houve qualquer menção, aqui, a estudos microscópicos ou químicos, nem discussão
sobre a natureza do material cadavérico infeccioso. Semmelweis não discutiu se
a causa da febre puerperal era algum tipo de germe vivo ou outro tipo de
agente. De fato, Semmelweis nunca estudou esses aspectos. Seu objetivo
principal era a prevenção da febre puerperal e, tendo atingido esse fim, sua
maior preocupação era que o método se difundisse e fosse usado em outros
hospitais.
A recepção da
descoberta de Semmelweis foi muito lenta. Em parte, pode-se entender isso como
uma reação contrária à idéia de que os próprios médicos eram responsáveis pela
morte das pacientes – ninguém queria admitir isso. Por outro lado, a divulgação
das idéias de Semmelweis foi muito imperfeita. Ele próprio demorou vários anos
para publicar seu trabalho. Outras pessoas divulgaram o que ele estava fazendo,
mas às vezes de modo incompleto. Difundiu-se a idéia de que ele explicava a
febre puerperal apenas através da infecção por matéria proveniente dos
cadáveres. No entanto, em vários hospitais europeus, as pessoas que atendiam
aos partos não praticavam autópsias – e, apesar disso, havia muitas mortes por
febre puerperal. Isso parecia indicar que Semmelweis estava errado.
Em Viena, a
oposição de importantes médicos fez com que Semmelweis fosse perseguido. Ele
abandonou a Áustria e foi para a sua terra natal, a Hungria. Lá, começou a
trabalhar no hospital de Budapeste – inicialmente, de graça. Nesse hospital,
ele também conseguiu reduzir a mortalidade.
Outras pessoas
antes de Semmelweis já haviam sugerido idéias muito parecidas com as dele. No
entanto, não basta apenas sugerir uma idéia: é necessário examinar as várias
sugestões existentes, testá-las, ir eliminando as alternativas até isolar uma
hipótese que explique todos os fatos conhecidos.
Depois que seu
trabalho teve sucesso, Semmelweis procurou difundi-lo, mas de forma pouco
hábil, conseguindo mais inimigos, por sua agressividade. Anos depois da sua
morte, generalizaram-se os cuidados de limpeza no tratamento obstétrico. Isso
ocorreu lentamente, em geral sem se reconhecer o valor do trabalho d
Semmelweis, que foi criticado em vida e esquecido após sua morte.
Imagem: pt.slideshare.net
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