A Associação de Medicina Intensiva Brasileira
(Amib), que representa os profissionais que atuam nas unidades de tratamento
intensivo (UTIs), quer implantar no Brasil o curso de catástrofe e desastres
(Fundamental Disaster Management-FDM) da Sociedade Norte-Americana de Medicina
Intensiva.
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O primeiro curso está previsto para abril, em
Goiânia, e há dois programados para São Paulo no final daquele mês.
Especialistas dos Estados Unidos e de Portugal participarão dos cursos já
programados. A expansão do treinamento para todo o país depende de parceria com
o Ministério da Saúde, disse à Agência Brasil o presidente da Amib,
José Mário Teles. Na semana passada, médicos intensivistas brasileiros
participaram do FDM.
Teles destacou que o curso existe há mais de
oito anos nos Estados Unidos, em função de ataques terroristas, desastres
naturais, infecções virais e pandemias. “Existe esse conceito nos Estados
Unidos que um hospital de porta aberta, isto é, um hospital de emergência, tem
que estar preparado para atender uma situação de múltiplas vítimas”.
A ideia da Amib é trazer o curso para o
Brasil em função dos grandes eventos que estão programados para o país, como a
Copa do Mundo de 2014. “Se vamos nos preparar para eventos como a Copa do Mundo
e as Olimpíadas, temos que ter essa conscientização, porque aglomerar pessoas
em estádios, festas, é uma situação que propicia esse tipo de coisa”.
Para o presidente da Amib, o Brasil não está
preparado para o atendimento súbito de muitas vítimas. Ele disse que a taxa de
ocupação nos hospitais brasileiros é de quase 100%, com um número significativo
de pacientes aguardando horas na fila de emergência para serem atendidos. Para
Teles, planejamento é a palavra-chave quando se tem uma situação em que aumenta
de maneira súbita o número de feridos. Segundo ele, se não houver planejamento
de pessoal, material, equipamentos e de espaço, a situação se complica.
O médico informou que existem atualmente
tendas infláveis que podem ser montadas do lado de fora dos hospitais, em
apenas um minuto e 15 segundos, para atendimento de 30 pessoas em macas. “Ou
seja, tem que ter mais profissionais, mais equipamentos, materiais,
medicamentos e mais espaço. Um hospital tem que ter estrutura”.
Teles comentou que a proximidade dos grandes
eventos internacionais vai obrigar os hospitais privados a investir em
planejamento de catástrofes. Ele considera, porém, que esses investimentos têm
que ser públicos, feitos pelo Ministério da Saúde. “Senão, não tem condição”.
A expectativa é que o ministério dê apoio à
realização desses cursos no país. O presidente da Amib ressaltou que ao mesmo
tempo que prepara os profissionais para lidar com situações extremas, o curso
ensina a fazer a triagem de pacientes e a usar os recursos de maneira mais
eficiente. “Esse curso no momento, infelizmente, é muito oportuno”, disse,
referindo-se à tragédia da Boate Kiss, em Santa Maria (RS), onde mais de 230
jovens morreram no domingo.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde
(OMS), nos países de baixa renda acontecem 9% do total de desastres no
mundo, com 48% das fatalidades. Teles disse que a falta de investimentos e de
preparo dos intensivistas explica esse fato. Gráfico apresentado durante o
curso pela Sociedade Norte-Americana de Medicina Intensiva revela que quando
ocorre um acidente com múltiplas vítimas, a pessoa que chega à emergência de um
hospital até uma hora depois 50% de perigo de morrer. Os que chegam duas horas
depois, têm 78% e os que chegam três horas depois, o índice de mortalidade se
aproxima de 95%.
Segundo Teles, o Brasil apresenta uma série
de dificuldades para atender vítimas de catástrofes, inclusive de locomoção. No
caso da Boate Kiss, em Santa Maria (RS), ele destacou que a ação dos órgãos
militares foi fundamental, ao disponibilizar aviões da Força Aérea Brasileira
(FAB) para o transporte dos feridos.
Ele destacou que o Rio Grande do Sul é o
estado que dispõe dos melhores profissionais de unidades de terapia intensiva
do país. ”Se essa tragédia tivesse acontecido em outro estado, com certeza, nós
teríamos muito mais que 300 mortos, por causa das dificuldades que poderiam ser
encontradas”. O médico enfatizou a necessidade de que sejam feitas simulações
nos hospitais a cada quatro meses, para que as dificuldades observadas antes e
depois possam ser discutidas pela equipe. A meta da Amib é treinar no curso de
catástrofes e desastres 5 mil pessoas por ano.
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