A maioria dos pais querem o melhor para seus filhos.
Mas, quando se trata de disciplina, alguns equivocadamente usam a força física
para punir ou intimidar. Bater e machucar desnecessariamente crianças nunca se
justifica, e nunca é bom.
O governo australiano ratificou a Convenção das
Nações Unidas sobre os Direitos da Criança (1989). Em outras palavras, a
Austrália reconhece as crianças como pessoas com direitos. Por isso, o governo
do país, para se juntar aos outros 33 países “esclarecidos” do mundo, precisa
proibir o castigo físico de crianças em todas as suas formas.
A proibição bem sucedida na punição física das
crianças também deve ser acompanhada de uma campanha para apoiar e educar os
pais a mudar atitudes ultrapassadas como essas.
Os malefícios do castigo físico
O castigo físico, mesmo quando é chamado de
“disciplina” ou “palmadas”, pode causar a curto e longo prazo danos às
crianças. Sabemos agora, através da investigação rigorosa, que existem associações
entre a punição física e a adoção de comportamentos agressivos e violentos,
saúde mental prejudicada, e outros problemas de saúde e desvantagens.
Mesmo sem a evidência da pesquisa, sabemos
intuitivamente que bater e ferir pessoas desnecessariamente afeta o
relacionamento social e a confiança. As nossas crianças são os adultos do
futuro. Como nós tratamos os nossos filhos hoje afetará sua saúde, autoestima e
sensação de bem-estar futuramente.
Mudando o comportamento
A Austrália tem estado na vanguarda de muitas
reformas da saúde pública, tais como cintos de segurança nos carros, controle
do tabagismo e uso de preservativo, mas ainda falta um semelhante despertar
sobre a punição física.
Mas como fazer os pais mudarem seu comportamento –
ou seja, parar de dar “palmadas” nos filhos?
Campanhas recentes, como o grande sucesso animado
educativo intitulado “Maneiras idiotas de morrer”, é um bom exemplo de como uma
campanha de publicidade pode ajudar a mudar atitudes ultrapassadas e
comportamentos de risco. Neste caso, o vídeo promove a segurança ferroviária
para os jovens através de anúncios em jornais, rádio, outdoors, redes sociais,
etc. A campanha visa “envolver um público que realmente não quer ouvir qualquer
tipo de mensagem de segurança”.
Uma campanha de educação como esta, com apoios e
incentivos para encorajar os pais a adotar métodos disciplinares positivos,
pode ser suficiente para mudar comportamentos de risco na educação infantil.
Tal campanha poderia ser tanto contundente quanto
inspiradora; retratando os impactos imediatos e possíveis do castigo físico
através de palavras e imagens. Ela também pode fornecer informações importantes
sobre o desenvolvimento normal da infância, e maneiras positivas de interagir e
estabelecer limites razoáveis para as crianças.
Na Suécia, os castigos corporais e outras formas de
tratamento humilhante a crianças foram proibidos em 1979, e panfletos foram
fornecidos para todas as famílias, bem como informações foram postas em caixas
de leite, incentivando o diálogo entre pais e filhos. O resultado? Famílias
suecas mais modernas praticam disciplina positiva, sem violência. As crianças
são respeitadas, e os pais são valorizados e apoiados no seu importante papel
como modelos para os seus filhos.
Alterando a lei
Alguns adultos responsáveis irão voluntariamente modificar suas atitudes e
comportamentos à luz da evidência que a motiva. Mas a mudança comportamental,
por vezes, só ocorre em resposta a legislação ou reforma da mesma.
Pode ser uma opção criar legislação pertinente em
cada um dos estados e territórios da Austrália para remover explicitamente a
“correção legal” em defesa para a agressão e enviar uma mensagem clara aos pais
de que o castigo físico não é mais uma forma perdoável de disciplina ou
controle das crianças. As crianças terão a mesma proteção contra a agressão
conferida aos adultos.
Claro que essa lei deve proteger contra a
criminalização dos pais que, ocasionalmente, “dão pequenos corretivos” em seus
filhos, mas a punição física será fortemente desencorajada.
Dar voz às crianças
Bater e desnecessariamente ferir crianças
degrada-as. Quando dadas a oportunidade de comentar sobre a punição física, as
crianças dizem que ela dói fisicamente e emocionalmente.
Ao mesmo tempo, as crianças simpatizam com os pais
que estão cansados e estressados, mas perdem o
controle – elas entendem e acreditam que a questão dos pais que batem é como um
ato de ensino de uma lição, pra ter bom comportamento.
Muitos pais têm manifestado arrependimento por
terem recorrido a bater em seus filhos – eles preferiam ter utilizado meios
alternativos de disciplina que não resultam em raiva, lágrimas e ressentimento.
Em casos extremos, os arrependimentos dos pais são inúteis, quando seus filhos
foram gravemente feridos.
Alguns comentários infantis sobre o assunto
esclarecem parte do problema. Como disse uma criança de oito anos de idade:
“Como os adultos são mais velhos, eles pensam que sabem mais coisas, mas às
vezes não… Às vezes eles estão enganados”. Outra sugeriu que os adultos não
“tem que bater, porque podem escolher”.
Incentivar as crianças a falar sobre questões como
essa, e ouvir o que elas têm a dizer, deve nos levar a questionar nossas
perspectivas desatualizadas. O castigo físico de crianças continuará a ser
tolerado até que adultos responsáveis e esclarecidos reconheçam que as crianças não são menos dignas que os
adultos. [MedicalExpress]
http://hypescience.com