quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Luanda. Seis dias na (clínica) Multiperfil custam mais de 30 mil USD, revela o Jornal O PAÍS


Os familiares de Nuno Miguel Gonçalves de Almeida, que veio a falecer na Clínica Multiperfil no passado dia 15 deste mês, contestam o valor de 30.041, 52 dólares norte-americanos cobrados por esta instituição hospitalar pela assistência que prestou ao malogrado durante seis dias.

O jovem, cujos restos mortais foram transladados para Portugal nos últimos dias, deu entrada na referida instituição às 21 horas do dia 10 de Julho, com fortes dores de cabeça e mal-estar. Depois de ter sido observado e medicado, o médico assistente optou pelo seu internamento.

Um dia depois, isto é a 11 deste mês, foi transferido para a Unidade de Cuidados Intensivos, uma medida confirmada pelo médico Juan Bautista Palay Maurisset. Mas acabou por morrer.

Quando se preparava para fazer o transladação do corpo para Lisboa, onde vivem a esposa, filhos, mãe e irmãos, os familiares foram encerrar as contas e não acreditaram no quadro que lhes foi presente.

Pelas horas que esteve no Banco de Urgência pagaram 265.952,00 Kz (quase 2700 dólares norte-americanos). A medicação e o internamento durante dois dias 1.068.000 Kz (10. 680 dólares) e pelos dois dias seguintes (13 e 14 de Junho) foi-lhes presente uma conta de 1.707.573 Kz (17.070 dólares).

Como a família só se fazia acompanhar de 700 mil kwanzas, segundo uma carta enviada pelo avô do malogrado, José de Oliveira Madaleno, foram obrigados a assinar um termo de confissão de dívida, mas em momento algum podiam contestar o valor exigido.

A não contestação dos valores que constam das facturas apresentadas pela repartição financeira da Clínica Multiperfil é feita através das cláusulas 7ª e 8ª do citado termo de confissão de dívida. E os pacientes ou seus parentes são obrigados a assiná-lo.

A primeira cláusula determina literalmente que o devedor renuncia expressamente a qualquer contestação quanto ao valor e procedência da dívida. E a seguinte que a confissão da dívida constante deste instrumento é definitiva e irretratável, não implicando, de modo algum, renovação ou substituição e vigorará imediatamente.

“O senhor Assis disse não poder fazer sem a autorização do seu chefe, foi falar com o citado chefe, brasileiro de nome Paulo, que num ar de desrespeito por nós disse logo: não tira nada. Eles não querem pagar”, contou José Madaleno, acrescentando que “argumentamos ser um absurdo aquela atitude, pois a não retirada daquelas cláusulas tiravam-nos a possibilidade de contestar os valores apresentados”.

De acordo com uma que foi enviada ao ministro da Saúde, José Van-Dúnem, os parentes do paciente que faleceu foram encostados à parede pelo cidadão brasileiro, que lhes exigia que “ou assinam como está ou nada feito”.

A irredutibilidade do brasileiro fez com que os familiares assinassem o termo de confissão da dívida para que não se prolongasse a saída do corpo, que tinha de ser enviado para Portugal.

Madaleno acredita que este foi um dos episódios mais tristes que presenciou nos últimos anos. Ainda está estupefacto por ter estado numa sala com mais de 30 técnicos angolanos e ser um estrangeiro o chefe com poderes deliberativos.

“Senhor ministro, os médicos com quem contactámos ficaram estupefactos com os valores cobrados, pelo que é urgente pôr cobro ao roubo descarado que se está a praticar na área da saúde superiormente por Vossa Excelência, principalmente em clínicas subsidiadas pelos angolanos”, desabafou o responsável da família. E propõe: “ante este quadro, esperamos sinceramente uma tomada de medidas enérgicas, ordenando uma inspecção e auditoria àquela clínica, tornando público os seus resultados. USD 2.659, 20 por pouco mais de duas horas no banco de urgências. USD 27.755, 73 por quatro dias na UCI, sendo cerca de USD 8.000 só em medicamentos é mesmo muito dinheiro e com certeza acima da média praticada no mundo civilizado”.
Aléxia Gamito no Facebook

Sem comentários:

Enviar um comentário