Pensamento
crítico é uma habilidade (que nem todos possuem, a propósito) muito útil: é a
maneira pela qual podemos nos libertar de ideias pré-fabricadas às quais
estamos sujeitos o tempo todo, e finalmente pensar por contra própria.
A
expressão, no fim das contas, significa saber absorver importantes informações
e ser capaz de usá-las para formar a sua própria opinião sobre determinado
assunto – em vez de apenas reproduzir um discurso pronto que se lê nos jornais
e revistas, que se ouve na escola ou na igreja ou que é propagado por outras
pessoas.
Esta
não é uma capacidade com a qual nascemos – normalmente, acontece exatamente o
oposto: somos treinados justamente para não desenvolver muito bem nosso
pensamento crítico e, desta forma, não sermos muito contestadores. Felizmente,
porém, esta é uma habilidade que podemos treinar e, consequentemente, nos
tornarmos melhores nela. Veja:
5.
Preste atenção nos detalhes certos
Uma
das partes mais importantes de pensar criticamente é aprender quais detalhes
são, de fato, importantes. Estamos expostos a tanta informação e opiniões
diferentes que fica muito fácil se perder nos detalhes. Comece confiando na sua
intuição. Se algo não soa verdadeiro para você, eis aí o seu primeiro sinal de
alerta.
Na
sequência, uma boa dica é refletir sobre quem se beneficia de uma dada
informação ou opinião. Se há uma discussão acalorada sobre, digamos, a
qualidade da água da torneira e se é adequado ou não consumi-la, preste atenção
se dentre as partes envolvidas não está uma indústria de garrafinhas de
plástico. Isso nem sempre é algo ruim – às vezes as motivações de uma pessoa
podem fazer sua opinião mais válida –, mas é aconselhável pensar em quem pode
ganhar com uma ideia.
O
que nos traz ao segundo ponto: questione a fonte. Principalmente após a grande
disseminação da internet nas últimas décadas, as fontes nem sempre são
imediatamente identificáveis. Portanto, se algo parece meio duvidoso, rastreie
de onde veio antes de formar uma opinião.
O
mesmo vale para os meios de comunicação. Cada publicação ou veículo tem uma
vertente – esquerda, direita -, e não é que é impossível acreditar em matéria
alguma de política por conta do posicionamento desses meios, mas para o bem do
seu pensamento crítico, é bom ter um pé atrás e analisar se o texto traz alguma
informação nova (e isenta) ao leitor, ou se serve apenas para reafirmar as
convicções da empresa.
Outro
detalhe com o qual se deve ter um pouco de cuidado são as afirmações óbvias e
de pouco sentido no contexto da discussão. É um truque comum em debates
(principalmente entre políticos na televisão) esconder um argumento crítico
dentro de uma série de declarações obviamente verdadeiras. É uma estratégia
traiçoeira que faz o oponente facilmente se perder, porque começa a concordar
com as afirmações, mesmo que não tenham ligação qualquer com o discurso.
Vemos
muito isso nos debates. O candidato pergunta ao atual prefeito em busca da
reeleição sobre a razão pela qual não foi destinada a verba planejada para a
área da saúde. O político responde que a saúde foi sempre uma prioridade na sua
gestão, os profissionais da área precisam ser valorizados, é importante equipar
nossos pronto-socorros e nos últimos quatro anos a expectativa de vida do
brasileiro subiu de 73,1 para 74,6 anos.
Todas
as afirmações podem estar corretas, mas nenhuma responde ao que foi pedido. Um
olhar desatento poderia concordar com tudo que o prefeito disse e achar que sua
resposta foi brilhante. Não caia mais nessa. Quanto mais você prestar atenção a
esse tipo de detalhe, mais fortalecido seu pensamento crítico se tornará.
4.
Sempre faça perguntas
Saber
quais detalhes precisam ser observados é a primeira parte para desenvolver um
bom pensamento crítico, mas de nada serve essa habilidade se você não souber
que tipo de pergunta fazer em seguida. Afinal, pensar criticamente e fazer
perguntas são duas coisas que caminham lado a lado.
A
escritora e psicóloga russa radicada em Nova York, Maria Konnikova, sugere uma
abordagem um tanto original, usando Sherlock Holmes como exemplo. Segundo ela,
depois que o personagem define seus objetivos, ele passa a observar e coletar
dados, perguntando-se sempre quais informações desta conversa, pessoa ou
situação lhe permitirá reunir os dados que ele não tem e que lhe serão úteis
para ver se sua hipótese se mantém.
“Em
seguida, ele dá um passo atrás e observa os dados, recombina-os e tenta buscar
uma possibilidade diferente, sendo criativo com as informações que possui para
verificar se existem novas abordagens a serem exploradas”, explica Konnikova.
O
escritor estadunidense Scott Berkun compartilha seu próprio conjunto de
questões para se pensar criticamente. “Qualquer um que tenha considerado
seriamente algo encontrou fatos suficientes tanto a favor, para adequar seus
argumentos, quanto contra”. Berkun ainda cita algumas questões úteis que devemos
fazer na construção de um pensamento crítico: “Quem além de você compartilha
dessa opinião? Quais são as suas maiores preocupações, e o que você vai fazer
para resolvê-las? O que precisa ser mudado para que você tenha uma opinião
diferente?”.
Se
esses questionamentos soaram familiares, você deve ter percebido a similaridade
dessa forma de pensar com o método socrático, em que uma série de perguntas lhe
ajuda a revelar o que você pensa sobre um determinado assunto. O importante
aqui é sempre se perguntar por que algo é importante e como isso se conecta com
as coisas que você já conhece. À medida que você faz isso, você treina seu
cérebro para fazer conexões entre ideias e a pensar criticamente sobre as mais
diversas informações que você for encontrar.
3.
Cuidado com “achismos”
No
árduo caminho de formar um pensamento crítico, devemos também treinar nossos
ouvidos para notar pequenas palavras e frases que servem como sinais de alerta.
Sabemos que é impossível prestar atenção em tudo, por isso, conhecer algumas
frases que tendem a vir antes de um argumento fraco é realmente útil.
São
os famosos “achismos”. Mesmo que de forma sutil, essas expressões entregam que
a opinião que vem a seguir muito provavelmente não é bem embasada. O Wall
Street Journal até elencou algumas dessas frases – dentre elas, destacam-se,
além da famosa “eu acho que”, expressões como “para dizer a verdade”, “só quero
que você saiba que” e “só estou querendo dizer que”.
Em
um debate de alto nível, você sabe que esse tipo de declaração tende a
introduzir uma inverdade. Sinal de que é hora de começar a prestar atenção
para, na sequência, começar a fazer perguntas.
2.
Conheça e confronte seus próprios preconceitos
Quando
falamos sobre o pensamento crítico, é imprescindível nos lembrarmos de que não
somos um templo de sabedoria e nós mesmos temos nossas questões a serem
resolvidas. E a dificuldade surge justamente porque adoramos apontar as falhas
dos outros, mas somos muito ruins em reconhecer preconceitos em nosso próprio
pensamento. Todos temos tendências a pensar de certa forma devido a uma gama de
fatores, mas parte do pensamento crítico é cultivar a possibilidade de enxergar
os fatos fora desses preconceitos.
A
ideia básica é resumida pelo escritor inglês Terry Pratchett, em seu livro “A
Verdade”. Na obra, Pratchett defende a percepção de que as pessoas só gostam de
ouvir o que elas já sabem. “Elas ficam desconfortáveis quando você lhes diz
coisas novas, pelas quais elas não esperam. Em suma, o que as pessoas pensam
que querem são novidades, mas o que elas realmente anseiam é por antiguidades,
que dirão a elas tudo o que elas já pensam e já acreditam ser verdadeiro”,
afirma.
Pensar
criticamente tem tudo a ver com confrontar esses preconceitos com a maior
frequência possível. Difícil? Sem dúvida. Se você se criar o hábito de pensar
sob diferentes pontos de vista ao longo do dia, você treinará seu cérebro para
fazer isso mais vezes, quase que automaticamente.
1.Pratique
o pensamento crítico sempre que possível
Seguindo
a mesma ideia do item anterior, chegamos ao último tópico da nossa lista. Como
acontece com qualquer outra habilidade, para ficar bom em pensamento crítico, é
preciso praticá-lo todos os dias. O que facilita o trabalho é o fato de que
isso pode ser feito em sua própria cabeça. Você também pode, no entanto, se
valer de alguns exercícios para forçar seu cérebro a entrar em forma.
Uma
tarefa fácil de ser feita é manter algum tipo de diário. A ideia é utilizá-lo
para registrar observações casuais ou suas opiniões diante de um assunto
enfrentado durante o dia.
O
objetivo é escrever diariamente. Assim que você tiver um número substancial de
textos produzidos, crie um blog (ou reative aquele seu de aaaanos atrás) e
poste suas ideias lá.
Esse
exercício é bom não apenas para você, mas também uma ótima maneira de envolver
outras pessoas e desafiar a si mesmo a confrontar seus pensamentos com pontos
de vista diferentes do seu (certamente algum amigo de um amigo seu não
concordará com suas palavras e deixará isso bem claro nos comentários. Essa é a
hora de colocar o pensamento crítico para funcionar). Da mesma forma,
participar de um debate saudável entre amigos é uma boa forma de praticar.
O
que você deve ter em mente é que o pensamento crítico não termina nunca. Quanto
mais conhecimento você cultiva, melhor você vai se tornar nisso. E o resultado
final é um cérebro que forma melhores argumentos, ideias mais focadas e
soluções criativas para os problemas. [Life Hacker]
hypescience
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