quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Alemanha: uma nova “epidemia alimentar”


No ano passado, houve o caso da Escherichia coli: a partir do Mercado Público de Hamburgo disseminou-se uma epidemia desse coliforme sobretudo pelo norte da Alemanha, mas que atingiu também outros países, com milhares de atingidos, centenas de casos considerados gravíssimos e pelo menos 35 óbitos. Curiosamente os casos mais graves apareciam em pessoas de meia idade, particularmente mulheres. Até hoje não se sabe qual a razão desta incidência.
Inicialmente se atribuiu a epidemia a pepinos importados da Espanha, o que causou 250 milhões de euros em prejuízo aos agricultores daquele país, em especial da Andaluzia. Depois se estabeleceu que a causa inicial seriam brotos de hortaliças da própria região – porém com cepas importadas do Egito.
Doença considerada típica de terceiro mundo, a epidemia dos coliformes abalou a auto-estima alemã.
Agora a história e o abalo se repetem, embora com outros personagens. Já há mais de 8 mil crianças contaminadas por nova epidemia de origem alimentar, em Berlim, Brandemburgo (estado que fica em torno da capital), Turíngia e Saxônia, todos estados que ficam no leste alemão. A fonte apontada para a contaminação são merendas escolares de baixo custo. Os sintomas são diarreia e vômitos constantes. Felizmente, ainda não há relatos de óbitos. Muitas escolas fecharam as portas já na semana passada, e nesta semana de 1 de outubro todas as escolas alemãs fecham para as “pequenas férias de outono”, o que deve aliviar a situação.
Todas as escolas envolvidas tinham por fornecedora uma empresa chamada Sodexa, cujos executivos negam a possibilidade, apesar das afirmações em contrário.
De todo modo, ainda não se sabe exatamente como teria ocorrido a contaminação. Entretanto estudos preliminares, anteriormente feitos pela Universidade de Ciências Aplicadas de Hamburgo, apontam como possível causa de fundo a redução de verbas para a aquisição de merendas escolares. Segundo os pesquisadores, citados pela revista Der Spiegel (Stomach Bug Sweeps German Schools – Cheap Food, Sick Children – artigo de Jane Paulick, Spiegel International, 28/09/2012), o custo de cada refeição, para ela ser considerada segura, deveria oscilar entre 3,17 e 4,25 euros. Mas em Berlim, onde o estudo foi realizado, sob encomenda do setor de educação da Prefeitura, o custo real oscila entre 2,10 e 2,50 euros por refeição, considerado muito baixo para um padrão aceitável.
Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.

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