segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Luanda. Hospital Américo Boavida o principal visado. Hospitais rejeitam sangue a pacientes




A problemática acerca da falta de sangue volta a fazer eco, porque os pacientes e seus familiares acusam algumas unidades hospitalares de Luanda, de se recusarem a extrair o sangue dos seus reservatórios, mesmo em situações de emergência. Fala-se até que os enfermeiros cobram algumas verbas para que o processo de transfusão seja feito o mais rápido possível.
Pressupõe-se que o problema passe pelo escasso número de doadores.
 

Edgar Nimi
A falta de sangue nos hospitais nacionais continua a ser uma grande dor de cabeça para numerosos, pacientes que reclamam, por mau atendimen­to quando o assunto se resume a transfusão. As unidades sanitá­rias têm normalmente, um banco de reserva de sangue que serve para as transfusões de emergên­cia.
O Hospital Américo Boa Vida, situado no distrito urbano do Rangel, tem sido dos mais cri­ticados. Familiares de alguns pacientes perderam a paciência e decidiram denunciar diversos actos, considerando ilícito o que tem acontecido nos hospitais aos quais recorrem.
Pedro Manuel, professor, afir­mou que seu irmão viveu uma si­tuação, em que esteve muito mal e necessitava de uma transfusão sanguínea com urgência, mas não recebeu no momento, por «falta de sangue no Hospital Américo Boa Vida.»
«O meu irmão estava em más condições e eles diziam que não tinham o líquido da vida. Mes­mo garantindo que iriamos repor, não aceitaram. Usamos de influ­ências para trazer sangue de outra unidade e conseguir salvar o meu irmão», explicou o docente.
É cada vez maior o número de pacientes a queixarem-se que lhes foi negada transfusão de sangue, pelo facto de as reservas dos hos­pitais se encontrarem constan­temente vazias. Outros vão mais longe e apontam que, quando há dinheiro no meio, o atendimento é mais rápido e eficiente.
Mudança precisa-se
«Tive de salvar o meu filho no Hospital Geral, para tal, tive de dar dinheiro a um enfermeiro para que trouxesse sangue, que, no princípio, me disseram que não havia», conta, por seu lado, Januário Razão, técnico de frio. Já Márcia Joaquim, que perdeu um familiar por falta de sangue, numa das unidades hospitalares da capital, defende que as coisas têm de mudar, principalmente no Américo Boavida.
«Este tipo de situação tem de mudar e os médicos darem mais valor à vida humana, pois é a cui­dar de nós a que se resume o tra­balho deles», desabafou.
Por parte do Hospital Américo Boavida, a secretária da Direcção de Utentes, identificada apenas como Jorgina, negou as acusações dos pacientes.
«Tudo isso é mentira, os pa­cientes inventam coisas que não têm sentido, até me sinto chocada com isso, eles que venham cá ao nosso gabinete reclamar, porque nunca tivemos reclamações desta natureza», contestou.
A funcionária disse ainda que, a fim de receber explicações superio­res, o Semanário Angolense teria de enviar uma carta a solicitar. La­mentamos que coisas desta natureza ainda aconteçam neste país, em ple­no século XXI, uma vez que o traba­lho jornalístico é dinâmico e não se compatibiliza com tais burocracias.
A falta de sangue nos hospitais suscita uma questão aos nossos entrevistados, que é saber para aonde vai o líquido doado por pessoas pertencentes a diversas instituições e individuais.
Faltam doadores
No Hospital do Prenda, a re­alidade é diferente, já que existe entendimento entre a direcção da unidade e os pacientes, que levam familiares para que possam doar.
Maria Muhongo, chefe em exercício do Banco de Sangue, afirmou que o Hospital tem con­dições para servir os doentes que necessitam de transfusão, mesmo estando a precisar de um número maior de dadores.
«A partir do momento em que o médico prescreva a necessidade de transfusão de sangue, comu­nicamos à família do doente, que traz doadores para manterem o nosso banco estável», reiterou. Acrescentou que quando lhes fal­ta o líquido da vida, recorrem ao Centro Nacional de Sangue, que ajuda bastante, principalmente os de grupos mais difíceis de en­contrar.
A responsável referiu-se tam­bém à redução de doadores, que tem causado dificuldades. «Penso que a redução dos doadores não é por vontade própria, mas, sim, por causa das doenças sexual­mente transmissíveis e hepatites, que eles estão a ter», considerou.
Apelou as pessoas a cultivarem a virtude humanista, doando san­gue, que pode servir para salvar a vida do próprio dador ou de um familiar. Para Jorge Andrade, es­tudante de Sociologia, um dos factores que está a prender os jovens deve-se às tatuagens e o elevado consumo de bebidas al­coólicas.
«Hoje em dia, a maior parte dos jovens está a adquirir a men­talidade de que a diversão signifi­ca muito mais do que fazer uma actividade de caracter social», alertou. Segundo Adriano Mam­buenza, secretário para mobiliza­ção e organização da Brigada Jo­vem Solidário, a mobilização dos jovens para doarem não tem sido tarefa fácil. «Tem sido um pou­co difícil mobilizar os jovens do Cazenga, mas temos jovens com vontade e vamos continuar a dar o nosso máximo», assegurou.
Apelo aos cidadãos
O mobilizador disse ainda que, depois de fazerem a doação, pre­ocupam-se em saber o destino do sangue, sendo que o objectivo é que salvem a vida daquelas pesso­as que realmente necessitam.
«Nós preocupamo-nos, porque tivemos uma situação no Hospi­tal Central do Kwanza-Sul, onde uma menina precisava de sangue, mas a enfermeira dizia que não havia, quando tínhamos doado um dia antes», sublinhou.
Quanto à situação que ocorreu naquela província, foi falta de in­formação por parte da Enfermei­ra. Adriano Mambuenza aconse­lha os pacientes a contactarem as pessoas certas para que tenham respostas concretas.
Doar sangue é um procedi­mento simples, rápido, sigiloso e seguro. Todos os dias apare­cem pessoas a necessitar do lí­quido que escorre nas veias, o que serve para salvar a vida a muita gente.
Algumas organizações vão surgindo para doar, mas para os bancos dos hospitais não têm sido suficientes, por isso, pede-se que a população, os jovens, prin­cipalmente, façam esse gesto que salva vidas.
In SEMANÁRIO ANGOLENSE Nº 532 de 14 de Setembro de 2013
Imagem: Rádio Nacional de Angola




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