A
problemática acerca da falta de sangue volta a fazer eco, porque os pacientes e
seus familiares acusam algumas unidades hospitalares de Luanda, de se recusarem
a extrair o sangue dos seus reservatórios, mesmo em situações de emergência.
Fala-se até que os enfermeiros cobram algumas verbas para que o processo de
transfusão seja feito o mais rápido possível.
Pressupõe-se que o
problema passe pelo escasso número de doadores.
Edgar
Nimi
A falta
de sangue nos hospitais nacionais continua a ser uma grande dor de cabeça para
numerosos, pacientes que reclamam, por mau atendimento quando o assunto se
resume a transfusão. As unidades sanitárias têm normalmente, um banco de
reserva de sangue que serve para as transfusões de emergência.
O Hospital
Américo Boa Vida, situado no distrito urbano do Rangel, tem sido dos mais criticados.
Familiares de alguns pacientes perderam a paciência e decidiram denunciar
diversos actos, considerando ilícito o que tem acontecido nos hospitais aos
quais recorrem.
Pedro Manuel,
professor, afirmou que seu irmão viveu uma situação, em que esteve muito mal
e necessitava de uma transfusão sanguínea com urgência, mas não recebeu no
momento, por «falta de sangue no Hospital Américo Boa Vida.»
«O meu irmão
estava em más condições e eles diziam que não tinham o líquido da vida. Mesmo
garantindo que iriamos repor, não aceitaram. Usamos de influências para trazer
sangue de outra unidade e conseguir salvar o meu irmão», explicou o docente.
É cada vez maior
o número de pacientes a queixarem-se que lhes foi negada transfusão de sangue,
pelo facto de as reservas dos hospitais se encontrarem constantemente vazias.
Outros vão mais longe e apontam que, quando há dinheiro no meio, o atendimento
é mais rápido e eficiente.
Mudança precisa-se
«Tive de salvar
o meu filho no Hospital Geral, para tal, tive de dar dinheiro a um enfermeiro
para que trouxesse sangue, que, no princípio, me disseram que não havia»,
conta, por seu lado, Januário Razão, técnico de frio. Já Márcia Joaquim, que
perdeu um familiar por falta de sangue, numa das unidades hospitalares da
capital, defende que as coisas têm de mudar, principalmente no Américo Boavida.
«Este tipo de
situação tem de mudar e os médicos darem mais valor à vida humana, pois é a cuidar
de nós a que se resume o trabalho deles», desabafou.
Por parte do
Hospital Américo Boavida, a secretária da Direcção de Utentes, identificada
apenas como Jorgina, negou as acusações dos pacientes.
«Tudo isso é
mentira, os pacientes inventam coisas que não têm sentido, até me sinto
chocada com isso, eles que venham cá ao nosso gabinete reclamar, porque nunca
tivemos reclamações desta natureza», contestou.
A funcionária
disse ainda que, a fim de receber explicações superiores, o Semanário
Angolense teria de enviar uma carta a solicitar. Lamentamos que coisas desta
natureza ainda aconteçam neste país, em pleno século XXI, uma vez que o trabalho
jornalístico é dinâmico e não se compatibiliza com tais burocracias.
A falta de
sangue nos hospitais suscita uma questão aos nossos entrevistados, que é saber
para aonde vai o líquido doado por pessoas pertencentes a diversas instituições
e individuais.
Faltam doadores
No Hospital do Prenda, a realidade é
diferente, já que existe entendimento entre a direcção da unidade e os
pacientes, que levam familiares para que possam doar.
Maria Muhongo, chefe em exercício do
Banco de Sangue, afirmou que o Hospital tem condições para servir os doentes
que necessitam de transfusão, mesmo estando a precisar de um número maior de
dadores.
«A partir do momento em que o médico
prescreva a necessidade de transfusão de sangue, comunicamos à família do
doente, que traz doadores para manterem o nosso banco estável», reiterou.
Acrescentou que quando lhes falta o líquido da vida, recorrem ao Centro
Nacional de Sangue, que ajuda bastante, principalmente os de grupos mais
difíceis de encontrar.
A responsável referiu-se também à
redução de doadores, que tem causado dificuldades. «Penso que a redução dos
doadores não é por vontade própria, mas, sim, por causa das doenças sexualmente
transmissíveis e hepatites, que eles estão a ter», considerou.
Apelou as pessoas a cultivarem a virtude
humanista, doando sangue, que pode servir para salvar a vida do próprio dador
ou de um familiar. Para Jorge Andrade, estudante de Sociologia, um dos
factores que está a prender os jovens deve-se às tatuagens e o elevado consumo
de bebidas alcoólicas.
«Hoje em dia, a maior parte dos jovens
está a adquirir a mentalidade de que a diversão significa muito mais do que
fazer uma actividade de caracter social», alertou. Segundo Adriano Mambuenza,
secretário para mobilização e organização da Brigada Jovem Solidário, a
mobilização dos jovens para doarem não tem sido tarefa fácil. «Tem sido um pouco
difícil mobilizar os jovens do Cazenga, mas temos jovens com vontade e vamos
continuar a dar o nosso máximo», assegurou.
Apelo aos cidadãos
O mobilizador disse ainda que, depois de
fazerem a doação, preocupam-se em saber o destino do sangue, sendo que o
objectivo é que salvem a vida daquelas pessoas que realmente necessitam.
«Nós preocupamo-nos, porque tivemos uma
situação no Hospital Central do Kwanza-Sul, onde uma menina precisava de
sangue, mas a enfermeira dizia que não havia, quando tínhamos doado um dia
antes», sublinhou.
Quanto à situação que ocorreu naquela
província, foi falta de informação por parte da Enfermeira. Adriano Mambuenza
aconselha os pacientes a contactarem as pessoas certas para que tenham
respostas concretas.
Doar sangue é um procedimento simples,
rápido, sigiloso e seguro. Todos os dias aparecem pessoas a necessitar do líquido
que escorre nas veias, o que serve para salvar a vida a muita gente.
Algumas
organizações vão surgindo para doar, mas para os bancos dos hospitais não têm
sido suficientes, por isso, pede-se que a população, os jovens, principalmente,
façam esse gesto que salva vidas.
In SEMANÁRIO ANGOLENSE Nº 532 de 14 de
Setembro de 2013
Imagem: Rádio Nacional de Angola
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