Primeiro
teste clínico com LSD em mais de 40 anos é feito com pacientes terminais
Ele
ficou sabendo sobre o teste clínico com a droga por meio de um amigo na Suíça e
decidiu que valia a pena se oferecer como voluntário, mesmo que isso
significasse longas e dolorosas jornadas ferroviárias de sua Áustria natal,
além da possibilidade real de um desastre mental. Ele não tinha muito tempo,
afinal, e a Medicina tradicional nada fizera pra aliviar os sintomas da
degeneração da coluna vertebral.
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'Eu
nunca havia tomado a droga antes, então o que eu sentia – bem, acho que a
palavra correta para isso, é pavor', disse durante entrevista telefônica Peter
(50), um assistente social austríaco. Ele pediu que o sobrenome fosse omitido
para proteger sua identidade. 'Havia o medo de que tudo pudesse dar errado, que
poderia ser uma viagem ruim.'
O 'Journal
of Nervous and Mental Disease' publicou resultados online do primeiro teste
clínico controlado com LSD em mais de 40 anos. Realizado no consultório de um
psiquiatra suíço nos arredores de Berna, o estudo testou os efeitos da droga
como um complemento para 12 pacientes de terapia em estado terminal, incluindo
Peter.
A
maioria dos pacientes tinha câncer terminal, e vários morreram dentro de um ano
após o estudo, mas não antes de ter uma aventura mental que parece ter reduzido
a tristeza existencial de seus últimos dias.
'A
ansiedade deles foi reduzida e assim se manteve', disse o Dr. Peter Gasser, que
realizou a terapia e fez um acompanhamento com os pacientes um ano após a
conclusão do experimento.
A
nova publicação marca a mais recente de uma série de pequenos passos de uma
coalizão informal de pesquisadores e arrecadadores de recursos que trabalham
para levar as alucinações de volta ao seio da psiquiatria convencional. Antes
de a pesquisa ser proibida nos Estados Unidos
A nova publicação marca a mais recente de uma série de pequenos passos
de uma coalizão informal de pesquisadores e arrecadadores de recursos que
trabalham para levar as alucinações de volta ao seio da psiquiatria
convencional. Antes de a pesquisa ser proibida nos Estados Unidos em 1966, os
médicos testaram a eficácia do LSD em uma série de sintomas, incluindo a
ansiedade do fim da vida.
Porém,
nos últimos anos, psiquiatras norte-americanos e do exterior – trabalhando em
conjunto com órgãos reguladores públicos e conselhos éticos – testaram a
terapia com auxílio do ecstasy para transtorno de estresse pós-traumático; e
outros estudos clínicos com alucinógenos estão a caminho.
'A
iniciativa é política e científica', disse Rick Doblin, diretor executivo da
Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos, fundação que financiou
muitos dos estudos. 'Queremos tirar essas substâncias do crivo da contracultura
e trazê-las de volta ao laboratório como parte de um renascimento psicodélico.'
Antes
de tomar LSD, os 12 pacientes do estudo suíço se encontraram com Gasser em seu
consultório para duas ou mais sessões visando se conhecerem. O estudo clínico
exigia dois cursos de terapia auxiliada por drogas, separados entre si por
algumas semanas.
Os
efeitos da droga durariam até dez horas, depois das quais o paciente dormiria
num sofá no consultório, atendido o tempo todo pelo terapeuta ou um assistente.
'Contei
a eles que cada sessão seria aqui, em um ambiente seguro, e eu faço parte
dele', disse Gasser. 'Eu lhes disse que não podia garantir que não teriam
aflições intensas, mas expliquei que elas passariam caso acontecessem.'
E
aconteceu assim mesmo – elas passaram de verdade, embora nem sempre com
facilidade. Muitos choraram, a maioria se contorceu; um homem de 67 anos
relatou ter encontrado o pai ausente, morto há muito tempo, em algum lugar do
cosmos, dando sua aprovação.
Todos
falaram durante períodos com Gasser, que atuou como âncora na tempestade e
colega explorador, acompanhando as fontes dessas emoções. No jargão da
profissão, a terapia foi focada no paciente, aberta e 'integradora', no sentido
de se concentrar em hábitos atuais de pensamento e em antigas cenas da
infância.
'Eu
tive o que se poderia chamar de experiência mística, creio eu, que durou algum
tempo, e a maior parte foi composta de aflição pura com todas aquelas
lembranças das quais eu havia me esquecido com sucesso durante décadas. Esses
sentimentos dolorosos, remorsos, o medo da morte. Eu me lembro de sentir muito
frio durante um longo tempo. Eu estava tremendo, embora suasse. Era um frio
mental, creio eu, uma lembrança da negligência.'
Ele
também fez algo com essas sensações, algo que quase nunca praticara antes. O
paciente falou sobre elas. 'Foi uma surpresa. Eu não sabia que estava falando
até o Dr. Gasser me fazer notar.'
Depois
de quase dois meses de terapia semanal, os oito participantes que receberam
doses integrais de LSD melhoram em aproximadamente 20 por cento segundo a
escala da medida padrão de ansiedade, e os quatro que ingeriram uma dose menor
pioraram. Terminado o estudo, esses pacientes tiveram permissão para 'mudar de
lado' e experimentar a dose completa. Os achados duraram um ano em quem
sobreviveu.
O
estudo clínico foi pequeno demais para ser conclusivo, garantiu Gasser, cujos
coautores foram Doblin, Dominique Holstein, do Hospital Universitário de
Zurique, e Rudolf Brenneisen, da Universidade de Berna. Entretanto, os
pesquisadores encaram os resultados como um começo.
A
droga não causou efeitos colaterais sérios, somente períodos de aflição
temporária, considerados valiosos terapeuticamente.
De
modo geral, os participantes consideraram a terapia compensadora. 'É a prova do
conceito. Ela prova que esse tipo de estudo clínico pode ser realizado com
segurança, e que vale muito a pena ser feito', disse Doblin.
Peter,
o assistente social, concordou. 'Admito que estou mais emotivo desde que o
estudo terminou, e nem sempre alegre, mas acho que é melhor sentir coisas
fortes – é melhor do que estar apenas vivo.'
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