sexta-feira, 28 de março de 2014

Luanda. Insuficiência renal: Número de doentes preocupa corpo clínico do Josina Machel


Luanda - Trezentos e cinquenta angolanos estão actualmente internados com a patologia de insuficiência renal crónica, muitos destes em estado grave. Apesar deste número, apenas 60 pessoas estão a fazer a diálise em dois turnos diários no Serviço de Nefrologia e Diálise, segundo Mariza Saraiva, nefrologista do Hospital Josina Machel.

Fonte: Agora
Club-k.net

A nefrologista, que falava ao Agora por ocasião do Dia Mundial do Rim, que se assinalou ontem, 13 de Março, sob lema Cuide dos seus rins frente ao envelhecimento, assegurou que existem cerca de 700 angolanos a receber o tratamento de diálise nas cinco unidades existentes em Luanda, nomeadamente nos Hospitais Josina Machel, Américo Boavida, do Prenda e nas Clínicas Sagrada Esperança e Multiperfil.

Mariza Saraiva salientou que o Hospital Josina Machel (HJM) possui uma capacidade de atendimento de 234 doentes, com 42 máquinas instaladas, sendo 39 em pleno funcionamento, no Serviço de Nefrologia e Diálise.

"Neste momento, temos 60 pessoas a fazer diálise em dois turnos, sendo que, na segunda- feira, o primeiro turno começa às 6 horas e termina às 11. O segundo turno começa por trabalhar às 12 horas e termina às 16 e, assim, sucessivamente", explicou a médica, acrescentando que, além deste serviço de hemodiálise, o centro possui outro de internamento com 20 camas, que estão superlotadas, face ao tempo médio de internação, que é de cinco a oito dias.

Mariza Saraiva esclareceu que a diabetes, a hipertensão arterial, a malária não tratadas correctamente, as infecções urinárias repetidas, o uso de medicamentos repetidos e regularmente em doses não controladas e as hemorragias não controladas durante partos difíceis são causas que podem levar à insuficiência renal e ao tratamento com hemodiálise.

DOENÇA JÁ É CONSIDERADA EPIDEMIA DO SÉCULO XXI

Em Angola, apesar de os dados ainda não estarem disponíveis, acredita-se que estas sejam também as principais causadoras das doenças renais.

Nos últimos anos, o número de pacientes com insuficiência renal crónica tem aumentado. A doença já é considerada a nova epidemia do século XXI, na medida em que o indivíduo pode ter a doença renal e não apresentar sinais ou sintomas que alertem para o problema e só vir a descobrir numa fase já avançada, em que as alterações são irreversíveis, disse, acrescentando que os doentes com insuficiência renal crónica de todas as partes do país são os que mais procuram os Serviços de Nefrologia e Diálise do Hospital Josina Machel.

A nefrologista realçou que tem esperança que, nos próximos tempos, assim que as condições estejam criadas e a lei do doente renal seja implementada, se comecem a fazer transplantes renais no país.

Existe uma preocupação do Governo Angolano em melhorar a assistência médica aos doentes renais, daí que, depois de ter constatado que havia um elevado número de angolanos que iam para o exterior do país para fazer o tratamento renal e por causa das avultadas somas com as juntas médicas, com grandes repercussões nas finanças do país, decidiu-se pela criação deste centro.

"Estamos esperançados de que, a breve trecho, será possível fazer transplantes de rins e a diálise peritoneal em Angola, a julgar pelo número elevado de casos que chega às clínicas de hemodiálise nos últimos dias", declarou a nefrologista, apelando às pessoas, principalmente aos hipertensos, para que façam sempre uma consulta com o médico especialista.

Mariza Saraiva fez saber que os recursos disponíveis para a prevenção e o tratamento dependem da doença e da pessoa que se quer atingir. "Para o diabético, por exemplo, existe a necessidade de cuidar bem do controlo do açúcar no sangue, usar medicação específica, menos sal e proteínas na dieta e manter a tensão arterial sob controlo rigoroso", elucidou.

SINTOMAS PARA IDENTIFICAR A DOENÇA

Entre os possíveis indícios para diferenciar ou identificar a doença, estão a tensão alta, edema (inchaço) nas pernas, anemia, fraqueza e desânimo, náuseas e vómitos frequentes pela manhã, sangue na urina, dores lombares, cólicas renais (pedras nos rins) e indícios de infecção urinária.

Os rins regulam a tensão arterial, filtram o sangue, eliminam o excesso de medicamentos, toxinas e outras substâncias ingeridas. Em Angola, a situação epidemiológica é preocupante, na medida em que não existem dados sobre a real situação, razão pela qual se alertam as pessoas para a necessidade de se prevenirem contra as causas que levam à perda da função dos rins.

PREVENÇÃO COM EXAMES TRIMESTRAIS E SEMESTRAIS

De acordo com o director do Serviço de Nefrologia e Diálise do HJM, Álvaro Malega, o melhor caminho para evitar as doenças renais é a prevenção da Saúde, de uma forma geral, e em particular a realização de um check-up trimestral ou semestral.

Entre as medidas de fácil execução e cumprimento, estão a tomada de decisão sobre a mudança do estilo de vida, medir a tensão arterial e a glicemia, sobretudo para aqueles que têm antecedentes familiares, reduzir o consumo de sal, gorduras, álcool e o peso.

O médico considera que os órgãos de informação podem ser um importante aliado no combate a esta doença, ao preocuparem-se com a divulgação dos perigos da insuficiência renal, as causas e cuidados a ter para se evitar esta doença, tal como acontece com o VIH Sida.

Cerca de 40 angolanos, com idades entre os 30 a 38 anos de idade, aguardam por transplante do rim, em Portugal, revelou uma fonte do hospital Josina Machel.

A mesma fonte acrescenta que o Hospital Municipal de Benguela está a funcionar há um ano e oito meses, mas já se encontram ali cerca de 80 pacientes a fazer o tratamento de diálise.

A fonte que vimos citando disse ainda que a Associação Angolana dos Doentes Renais fez chegar à Assembleia Nacional um dossier sobre a lei de transplante de órgãos, um pressuposto fundamental, uma vez que, só com a aprovação deste documento, se torna o transplante legal.

"É o tratamento de eleição para a insuficiência renal e, aprovada a lei, podemos salvar talvez mais de metade das pessoas que morrem vítimas desta doença", evidenciou.

Por sua vez, João da Silva, funcionário público, realça que tem enfrentando muitos desafios desde o momento que descobriu que sofre de insuficiência renal.

"Quando tomei conhecimento de que tenho este problema, fui a muitos hospitais e os resultados apresentados apontavam quase sempre para uma tensão arterial alta. Mais tarde, fui surpreendido com a falência do rim, estou a sofrer muito com essa doença, perdi o meu emprego, devido ao tratamento que tenho de fazer ao longo da semana", frisou, sublinhando que tem de fazer o tratamento de diálise três vezes por semana.

"Não sei o que fazer, estou desempregado, não tenho onde trabalhar, com filhos para sustentar. A minha vida está a tornar-se muito complicada, a cada dia que passa", lamenta.

Suzana Ermelinda, de 59 anos, ouvida pelo Agora, disse que faz hemodiálise há cinco anos. "Eu nunca tive problemas, desde o momento em que descobri que tenho esta doença. Qualquer um está sujeito a apanhar esta doença, levo a minha vida normalmente, sei que é uma situação muito difícil, mas devemos ser fortes para encarar certos desafios que a vida nos dá", desabafou resignada.

A Campanha do Dia Mundial do Rim teve como objectivo a medição da tensão arterial a todos os citadinos que estavam em plena circulação nos arredores do HJM, previamente identificados e que aceitaram participar na jornada. Os alunos do curso de Medicina na Universidade Jean Piaget também fizeram parte da palestra.

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