A obesidade moderada encurta a vida três anos, e a mórbida, até uma década
GONZALO CASINO – Barcelona – 24/03/2009
Pesar 20 ou 30 quilos a mais encurta a vida uns três anos. E quem pesar o dobro do saudável (algo todavia infrequente), viverá uns 10 anos menos do que o esperado. Trata-se, por suposição, de cifras médias, de projecções estatísticas, de simples cálculos da esperança de vida da população obesa e com sobrepeso. Mas estas cifras são novas e rigorosamente certas, com um nível de certeza muito superior ao que se tinha até agora.
Tabagismo e excesso de peso
O risco de morte precoce dos grandes obesos é como o dos fumadores
Um em cada quatro falecimentos por enfarte e icto associam-se ao peso
Pela primeira vez pode afirmar-se rotundamente que a obesidade mata. A afirmação apoia-se na análise da mortalidade de 900.000 adultos de 19 países, dos quais morreram uns 100.000 nos 10-15 anos de seguimento.
A análise publicada em The Lancet mediu o nível de gordura mediante o índice de massa corporal ou IMC. Este índice (o resultado de dividir o peso em quilos pelo quadrado da altura do corpo em metros) é uma boa medida da adiposidade de uma pessoa; permite saber se, em relação com a cintura, se tem um peso normal (IMC de 18,5 a 25), sobrepeso, obesidade moderada, severa ou mórbida (veja-se o gráfico). Assim, uma pessoa que meça 1,75 metros estará em sobrepeso se pesa mais de 77 quilos, terá uma obesidade moderada se pesa mais de 92 quilos e será um grande obeso se pesa mais de 125 quilos.
E outro dado importante: a análise foi realizada por uma equipa de bioestatísticos dirigida por Richard Peto, o epidemiólogo que colaborou com sir Richard Doll para chegar a idêntica conclusão em relação com o tabagismo: fumar mata.
Hoje sabe-se de certeza que fumar encurta a vida uns 10 anos em média. E o novo estudo da equipa de Peto, que se publicará em 28 de Março na revista The Lancet e está já na sua edição de Internet, mostra que o risco de morte prematura dos grandes obesos (que pesam o dobro do saudável) é comparável ao dos fumadores. Contudo, a comparação deve ter em conta um detalhe: há muitos mais fumadores que grandes obesos.
Sem dúvida, a obesidade moderada é muito mais frequente na maioria dos países ocidentais (um terço dos adultos de meia idade no Reino Unido e algo menos em Espanha). A obesidade moderada é esses 20 ou 30 quilos a mais, segundo os casos, que encurtam a vida três anos. "Três anos é muito, mas é muito menos que o efeito do tabagismo, pois fumar toda a vida reduz a esperança de vida una década", explica a EL PAÍS o epidemiólogo da Universidade de Oxford (Reino Unido) Gary Whitlock, primeiro signatário deste estudo.
"Fumar tem como diferença principal, o risco evitável para a saúde das pessoas. Mas o segundo é sem dúvida o sobrepeso e a obesidade", assegura rotundo a EL PAÍS Richard Peto, professor de Estatística Médica e Epidemiologia da Universidade de Oxford (Reino Unido).
Ainda desde há séculos se suspeita que a obesidade favorece diversas enfermidades, e provavelmente as companhias de seguros conhecem desde há muito tempo que os gordos têm maior risco de mortalidade prematura, as primeiras provas científicas não apareceram até à década de 1960 ou 1970. Agora, há provas cada vez mais consistentes de que "a obesidade causa pelo menos uma dezena de enfermidades graves, incluindo as do rim e do fígado, meia dezena de tipos de cancro e, o que é mais importante quanto ao número de pessoas afectadas, enfarto do miocárdio e icto", assegura Whitlock. Nos EE UU, uma de cada três mortes por enfarto e icto e uma de cada 12 por cancro associam-se com o excesso de peso; no Reino Unido, a relação é de uma em cada quatro e de uma em cada 16, respectivamente.
Qual é a massa corporal óptima? O estudo dirigido por Peto e Whitlock reflexa que as menores taxas de mortalidade por todas estas causas relacionam-se com um IMC de 23 ou 24, embora Whitlock reconheça que é difícil responder com precisão: "Tudo o que posso assegurar é que um índice de massa corporal entre 20 e 25 é muito seguro. E que o risco somado por ter um índice de massa corporal de 18-19 ou de 26-27 é ligeiro, para logo crescer rapidamente para debaixo de 18 e para cima de 27". O excesso de mortalidade associado a um IMC inferior a 22,5 deve-se provavelmente a enfermidades relacionadas com o tabagismo, segundo se comenta no estudo, embora isto não esteja todavia bem aclarado.
"Mudar a dieta mas seguir fumando não é a melhor maneira de aumentar a esperança de vida. Para os fumadores, o que funciona é deixar de fumar", afirma Peto. "Se não fumas mas tens excesso de peso", acrescenta Whitlock, "o mais importante é não começar a fumar e evitar ganhar mais peso". E tentar emagrecer.
Tabagismo e excesso de peso
- Esperança de vida. Fumar encurta a vida tanto como a obesidade mórbida (pesar o dobro do saudável).
- Riscos. Um em cada quatro cancros associa-se ao tabagismo; um em cada 16, com a obesidade e o sobrepeso.
- Recomendações. Se fuma e tem excesso de peso, o principal é deixar de fumar; se não fuma, não ganhar mais peso.
EL PAÍS
GONZALO CASINO – Barcelona – 24/03/2009
Pesar 20 ou 30 quilos a mais encurta a vida uns três anos. E quem pesar o dobro do saudável (algo todavia infrequente), viverá uns 10 anos menos do que o esperado. Trata-se, por suposição, de cifras médias, de projecções estatísticas, de simples cálculos da esperança de vida da população obesa e com sobrepeso. Mas estas cifras são novas e rigorosamente certas, com um nível de certeza muito superior ao que se tinha até agora.
Tabagismo e excesso de peso
O risco de morte precoce dos grandes obesos é como o dos fumadores
Um em cada quatro falecimentos por enfarte e icto associam-se ao peso
Pela primeira vez pode afirmar-se rotundamente que a obesidade mata. A afirmação apoia-se na análise da mortalidade de 900.000 adultos de 19 países, dos quais morreram uns 100.000 nos 10-15 anos de seguimento.
A análise publicada em The Lancet mediu o nível de gordura mediante o índice de massa corporal ou IMC. Este índice (o resultado de dividir o peso em quilos pelo quadrado da altura do corpo em metros) é uma boa medida da adiposidade de uma pessoa; permite saber se, em relação com a cintura, se tem um peso normal (IMC de 18,5 a 25), sobrepeso, obesidade moderada, severa ou mórbida (veja-se o gráfico). Assim, uma pessoa que meça 1,75 metros estará em sobrepeso se pesa mais de 77 quilos, terá uma obesidade moderada se pesa mais de 92 quilos e será um grande obeso se pesa mais de 125 quilos.
E outro dado importante: a análise foi realizada por uma equipa de bioestatísticos dirigida por Richard Peto, o epidemiólogo que colaborou com sir Richard Doll para chegar a idêntica conclusão em relação com o tabagismo: fumar mata.
Hoje sabe-se de certeza que fumar encurta a vida uns 10 anos em média. E o novo estudo da equipa de Peto, que se publicará em 28 de Março na revista The Lancet e está já na sua edição de Internet, mostra que o risco de morte prematura dos grandes obesos (que pesam o dobro do saudável) é comparável ao dos fumadores. Contudo, a comparação deve ter em conta um detalhe: há muitos mais fumadores que grandes obesos.
Sem dúvida, a obesidade moderada é muito mais frequente na maioria dos países ocidentais (um terço dos adultos de meia idade no Reino Unido e algo menos em Espanha). A obesidade moderada é esses 20 ou 30 quilos a mais, segundo os casos, que encurtam a vida três anos. "Três anos é muito, mas é muito menos que o efeito do tabagismo, pois fumar toda a vida reduz a esperança de vida una década", explica a EL PAÍS o epidemiólogo da Universidade de Oxford (Reino Unido) Gary Whitlock, primeiro signatário deste estudo.
"Fumar tem como diferença principal, o risco evitável para a saúde das pessoas. Mas o segundo é sem dúvida o sobrepeso e a obesidade", assegura rotundo a EL PAÍS Richard Peto, professor de Estatística Médica e Epidemiologia da Universidade de Oxford (Reino Unido).
Ainda desde há séculos se suspeita que a obesidade favorece diversas enfermidades, e provavelmente as companhias de seguros conhecem desde há muito tempo que os gordos têm maior risco de mortalidade prematura, as primeiras provas científicas não apareceram até à década de 1960 ou 1970. Agora, há provas cada vez mais consistentes de que "a obesidade causa pelo menos uma dezena de enfermidades graves, incluindo as do rim e do fígado, meia dezena de tipos de cancro e, o que é mais importante quanto ao número de pessoas afectadas, enfarto do miocárdio e icto", assegura Whitlock. Nos EE UU, uma de cada três mortes por enfarto e icto e uma de cada 12 por cancro associam-se com o excesso de peso; no Reino Unido, a relação é de uma em cada quatro e de uma em cada 16, respectivamente.
Qual é a massa corporal óptima? O estudo dirigido por Peto e Whitlock reflexa que as menores taxas de mortalidade por todas estas causas relacionam-se com um IMC de 23 ou 24, embora Whitlock reconheça que é difícil responder com precisão: "Tudo o que posso assegurar é que um índice de massa corporal entre 20 e 25 é muito seguro. E que o risco somado por ter um índice de massa corporal de 18-19 ou de 26-27 é ligeiro, para logo crescer rapidamente para debaixo de 18 e para cima de 27". O excesso de mortalidade associado a um IMC inferior a 22,5 deve-se provavelmente a enfermidades relacionadas com o tabagismo, segundo se comenta no estudo, embora isto não esteja todavia bem aclarado.
"Mudar a dieta mas seguir fumando não é a melhor maneira de aumentar a esperança de vida. Para os fumadores, o que funciona é deixar de fumar", afirma Peto. "Se não fumas mas tens excesso de peso", acrescenta Whitlock, "o mais importante é não começar a fumar e evitar ganhar mais peso". E tentar emagrecer.
Tabagismo e excesso de peso
- Esperança de vida. Fumar encurta a vida tanto como a obesidade mórbida (pesar o dobro do saudável).
- Riscos. Um em cada quatro cancros associa-se ao tabagismo; um em cada 16, com a obesidade e o sobrepeso.
- Recomendações. Se fuma e tem excesso de peso, o principal é deixar de fumar; se não fuma, não ganhar mais peso.
EL PAÍS
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