Ian Deary
© Project Syndicate, 2008. www.project-syndicate.org
As pessoas com melhores resultados nos testes de inteligência realizados durante a infância e no início da idade adulta tendem a viver durante mais tempo. Esta foi a conclusão de um estudo junto de cidadãos da Austrália, Dinamarca, Inglaterra e País de Gales, Escócia, Suécia e Estados Unidos.
As pessoas com melhores resultados nos testes de inteligência realizados durante a infância e no início da idade adulta tendem a viver durante mais tempo. Esta foi a conclusão de um estudo junto de cidadãos da Austrália, Dinamarca, Inglaterra e País de Gales, Escócia, Suécia e Estados Unidos. De facto, obteve-se o mesmo resultado em todas as populações submetidas ao estudo.
Com efeito, o impacto da inteligência sobre a mortalidade rivaliza com factores bem conhecidos de doença e morte, como a tensão arterial elevada, a obesidade, a hiperglicemia e o colesterol elevado. O efeito destes factores é quase tão significativo como o do tabaco.
As diferenças na inteligência humana têm causas ambientais e genéticas. O resultado de um teste de inteligência nos primeiros anos de vida é, em parte, um registo da influência do meio ambiente sobre o cérebro e sobre o resto do corpo até àquela data. Os bebés que nascem com pouco peso, por exemplo, são mais propensos a doenças crónicas mais tarde. Eles têm também, tipicamente, uma inteligência ligeiramente inferior. Mas os testes destinados a explicar até que ponto é que o peso à nascença pode influenciar a ligação entre inteligência e mortalidade não descobriram qualquer associação entre ambos.
As profissões dos pais também desempenham um papel sobre a inteligência dos seus filhos e sobre os riscos de posteriores doenças: as crianças criadas num contexto mais favorecido tendem a ter uma inteligência mais elevada e a serem mais saudáveis, bem como a viverem mais tempo. No entanto, não há qualquer prova convincente de que as raízes parentais expliquem a ligação entre uma maior inteligência e uma vida mais longa.
Para outros investigadores, os resultados dos testes de inteligência são possivelmente mais do que um mero indicador da eficiência de um cérebro. Acima de tudo, o cérebro é apenas um órgão do corpo, pelo que as pessoas cujos cérebros funcionam bem nos primeiros anos de vida provavelmente têm também outros órgãos e sistemas mais eficazes do que os das restantes pessoas a quem isso não acontece.
Mas esta ideia de "integridade do sistema" é, de certa forma, vaga e difícil de testar. O melhor que conseguimos até ao momento tem sido analisar se a rapidez de reacção das pessoas está relacionada com a inteligência e a mortalidade. Está, sim. Os testes de tempo de reacção não implicam muita reflexão. Consistem apenas em pedir às pessoas para responderem o mais depressa que conseguirem a estímulos simples. As pessoas que reagem mais depressa têm, em média, melhores resultados nos testes de inteligência e vivem durante mais tempo. Mas temos de encontrar melhores formas de medir a integridade do corpo para testar esta ideia de forma mais completa.
Uma terceira explicação possível é a de que a inteligência tem a ver com a tomada de decisões. Todos os dias da nossa vida tomamos decisões acerca da nossa saúde: o que e quando comer, e em que quantidade, o nível de exercício a praticar; como cuidarmos de nós se ficarmos doentes; e por aí em diante.
Assim, a razão para a inteligência e a morte estarem ligadas poderá ter a ver com o facto de as pessoas que se revelam mais inteligentes na infância tomarem melhores decisões em relação à sua saúde e terem comportamentos mais saudáveis. Na idade adulta, tendem a ter melhores regimes alimentares, a fazerem mais exercício, a ganharem menos peso, a não cometerem tantos excessos com as bebidas alcoólicas e assim sucessivamente.
Até aqui, tudo bem. Mas ainda falta uma parte da história. Não existem estudos completos com dados sobre a inteligência infantil, com dados subsequentes relativos os comportamentos de saúde na vida adulta e também com um acompanhamento, a longo prazo, das mortes. E só um estudo com essas características é que nos poderia dizer se são estes comportamentos saudáveis que explicam a ligação entre inteligência e morte.
Um quarto tipo de explicação é a de que as pessoas com maior inteligência na infância tendem a obter melhores qualificações académicas, a trabalhar em empregos mais profissionais, a ter rendimentos mais elevados e a viver em zonas mais endinheiradas. Estas variáveis também estão relacionadas com uma vida mais longa. Por isso, talvez seja isso mesmo: uma maior inteligência permite aceder a contextos mais seguros e melhores para a saúde.
É certo que nalguns estudos a classe social em que se está inserido na idade adulta parece explicar grande parte da ligação entre inteligência e morte. O problema é que esta "explicação" é estatística. Ainda não temos a certeza que, digamos, a educação e a profissão "expliquem" o efeito da inteligência sobre a saúde, ou se são, com efeito, medidas substitutas da inteligência.
Os investigadores procuraram também pistas sobre a relação inteligência-mortalidade em tipos específicos de mortes. E os resultados foram reveladores. Uma menor inteligência nos primeiros anos de vida está associada a uma maior probabilidade de morrer, por exemplo, de doença cardiovascular, de acidente, de suicídio e por homicídio. A prova quanto ao cancro é menos certa. À medida que fomos descobrindo estes dados, fomos percebendo que cada ligação poderá precisar de uma explicação diferente.
Por último, sabemos que o nosso nível de inteligência e a nossa longevidade são determinados simultaneamente por influências ambientais e genéticas. Existem experiências, com recurso a gémeos, que permitem descobrir a que ponto a inteligência e a mortalidade estão associadas porque partilham as mesmas influências ambientais e genéticas.
Um dos exercícios mais informativos que podemos realizar em matéria de epidemiologia cognitiva é o de obter um grande grupo de gémeos sobre os quais existam dados relativos à sua inteligência nos primeiros anos de vida e que tenham sido acompanhados durante bastante tempo para se determinar quem morreu. Ainda não descobrimos um grupo suficientemente grande de gémeos para o qual disponhamos dessa informação. Encontrar um grupo desses é prioritário.
O objectivo último desta investigação é descobrir o que é que as pessoas inteligentes têm e fazem que lhes permite viver durante mais anos. Assim que o saibamos, seremos capazes de partilhar e aplicar esse conhecimento a fim de proporcionarmos uma saúde óptima para todos.
http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS_OPINION&id=353416
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As pessoas com melhores resultados nos testes de inteligência realizados durante a infância e no início da idade adulta tendem a viver durante mais tempo. Esta foi a conclusão de um estudo junto de cidadãos da Austrália, Dinamarca, Inglaterra e País de Gales, Escócia, Suécia e Estados Unidos.
As pessoas com melhores resultados nos testes de inteligência realizados durante a infância e no início da idade adulta tendem a viver durante mais tempo. Esta foi a conclusão de um estudo junto de cidadãos da Austrália, Dinamarca, Inglaterra e País de Gales, Escócia, Suécia e Estados Unidos. De facto, obteve-se o mesmo resultado em todas as populações submetidas ao estudo.
Com efeito, o impacto da inteligência sobre a mortalidade rivaliza com factores bem conhecidos de doença e morte, como a tensão arterial elevada, a obesidade, a hiperglicemia e o colesterol elevado. O efeito destes factores é quase tão significativo como o do tabaco.
As diferenças na inteligência humana têm causas ambientais e genéticas. O resultado de um teste de inteligência nos primeiros anos de vida é, em parte, um registo da influência do meio ambiente sobre o cérebro e sobre o resto do corpo até àquela data. Os bebés que nascem com pouco peso, por exemplo, são mais propensos a doenças crónicas mais tarde. Eles têm também, tipicamente, uma inteligência ligeiramente inferior. Mas os testes destinados a explicar até que ponto é que o peso à nascença pode influenciar a ligação entre inteligência e mortalidade não descobriram qualquer associação entre ambos.
As profissões dos pais também desempenham um papel sobre a inteligência dos seus filhos e sobre os riscos de posteriores doenças: as crianças criadas num contexto mais favorecido tendem a ter uma inteligência mais elevada e a serem mais saudáveis, bem como a viverem mais tempo. No entanto, não há qualquer prova convincente de que as raízes parentais expliquem a ligação entre uma maior inteligência e uma vida mais longa.
Para outros investigadores, os resultados dos testes de inteligência são possivelmente mais do que um mero indicador da eficiência de um cérebro. Acima de tudo, o cérebro é apenas um órgão do corpo, pelo que as pessoas cujos cérebros funcionam bem nos primeiros anos de vida provavelmente têm também outros órgãos e sistemas mais eficazes do que os das restantes pessoas a quem isso não acontece.
Mas esta ideia de "integridade do sistema" é, de certa forma, vaga e difícil de testar. O melhor que conseguimos até ao momento tem sido analisar se a rapidez de reacção das pessoas está relacionada com a inteligência e a mortalidade. Está, sim. Os testes de tempo de reacção não implicam muita reflexão. Consistem apenas em pedir às pessoas para responderem o mais depressa que conseguirem a estímulos simples. As pessoas que reagem mais depressa têm, em média, melhores resultados nos testes de inteligência e vivem durante mais tempo. Mas temos de encontrar melhores formas de medir a integridade do corpo para testar esta ideia de forma mais completa.
Uma terceira explicação possível é a de que a inteligência tem a ver com a tomada de decisões. Todos os dias da nossa vida tomamos decisões acerca da nossa saúde: o que e quando comer, e em que quantidade, o nível de exercício a praticar; como cuidarmos de nós se ficarmos doentes; e por aí em diante.
Assim, a razão para a inteligência e a morte estarem ligadas poderá ter a ver com o facto de as pessoas que se revelam mais inteligentes na infância tomarem melhores decisões em relação à sua saúde e terem comportamentos mais saudáveis. Na idade adulta, tendem a ter melhores regimes alimentares, a fazerem mais exercício, a ganharem menos peso, a não cometerem tantos excessos com as bebidas alcoólicas e assim sucessivamente.
Até aqui, tudo bem. Mas ainda falta uma parte da história. Não existem estudos completos com dados sobre a inteligência infantil, com dados subsequentes relativos os comportamentos de saúde na vida adulta e também com um acompanhamento, a longo prazo, das mortes. E só um estudo com essas características é que nos poderia dizer se são estes comportamentos saudáveis que explicam a ligação entre inteligência e morte.
Um quarto tipo de explicação é a de que as pessoas com maior inteligência na infância tendem a obter melhores qualificações académicas, a trabalhar em empregos mais profissionais, a ter rendimentos mais elevados e a viver em zonas mais endinheiradas. Estas variáveis também estão relacionadas com uma vida mais longa. Por isso, talvez seja isso mesmo: uma maior inteligência permite aceder a contextos mais seguros e melhores para a saúde.
É certo que nalguns estudos a classe social em que se está inserido na idade adulta parece explicar grande parte da ligação entre inteligência e morte. O problema é que esta "explicação" é estatística. Ainda não temos a certeza que, digamos, a educação e a profissão "expliquem" o efeito da inteligência sobre a saúde, ou se são, com efeito, medidas substitutas da inteligência.
Os investigadores procuraram também pistas sobre a relação inteligência-mortalidade em tipos específicos de mortes. E os resultados foram reveladores. Uma menor inteligência nos primeiros anos de vida está associada a uma maior probabilidade de morrer, por exemplo, de doença cardiovascular, de acidente, de suicídio e por homicídio. A prova quanto ao cancro é menos certa. À medida que fomos descobrindo estes dados, fomos percebendo que cada ligação poderá precisar de uma explicação diferente.
Por último, sabemos que o nosso nível de inteligência e a nossa longevidade são determinados simultaneamente por influências ambientais e genéticas. Existem experiências, com recurso a gémeos, que permitem descobrir a que ponto a inteligência e a mortalidade estão associadas porque partilham as mesmas influências ambientais e genéticas.
Um dos exercícios mais informativos que podemos realizar em matéria de epidemiologia cognitiva é o de obter um grande grupo de gémeos sobre os quais existam dados relativos à sua inteligência nos primeiros anos de vida e que tenham sido acompanhados durante bastante tempo para se determinar quem morreu. Ainda não descobrimos um grupo suficientemente grande de gémeos para o qual disponhamos dessa informação. Encontrar um grupo desses é prioritário.
O objectivo último desta investigação é descobrir o que é que as pessoas inteligentes têm e fazem que lhes permite viver durante mais anos. Assim que o saibamos, seremos capazes de partilhar e aplicar esse conhecimento a fim de proporcionarmos uma saúde óptima para todos.
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