DOENÇAS MISTERIOSAS
Por Renato M.E. Sabbatini
Um livro publicado recentemente nos Estados Unidos, intitulado “A Teia de Osler”, está provocando muita polêmica com respeito às chamadas “doenças misteriosas”, que periodicamente causam muitas dificuldades e embaraços à ciência médica tradicional. Essas doenças são difíceis de identificar, têm causas desconhecidas, e muitas vezes não representam uma única entidade. Muitas delas acabam sendo imputadas a “problemas psicológicos” de seus portadores.
Existem várias nesse final de século: a síndrome de fadiga crônica (de que trata o livro referido), a síndrome dos veteranos da guerra do Golfo Pérsico, as seqüelas de implantes mamários de silicone, etc. O interessante é que todas essas doenças têm aparecido quase que exclusivamente nos EUA, onde existe uma poderosa e multimilionária “indústria” de processos jurídicos contra os supostos responsáveis por essas mazelas. Os veteranos do Golfo querem compensações miliardárias do Ministério da Defesa, as mulheres que receberam implantes de mama ganharam causas de enorme valor contra a empresa Dow Corning, inventora e fabricante do silicone, etc.
Mais interessante ainda, realmente existem doenças que hoje são entidades reconhecidas pela Medicina, e que passaram por esse processo de mistério, incompreensão, rejeição de sua existência pela classe médica, etc. Uma delas é o lupus eritematoso, uma doença auto-imune (o sistema imunológico ataca tecido saudável, e danifica a pele, o sangue, rins e articulações), que tem manifestações tão inespecíficas e difíceis de documentar, que muitos pacientes demoram, em média, cerca de quatro anos com a doença, antes de serem identificados corretamente. Doenças novas, como a AIDS, também não foram reconhecidas logo no início, o que atrasou a batalha científica contra elas.
O título do livro “A Teia de Osler” se refere à prática organizada e heterodoxa da Medicina, inaugurada no século passado pelo médico inglês Osler, que fixou a importância do diagnóstico como objetivo central do médico; e que, portanto, é muito resistente a reconhecer e tratar problemas que não consegue diagnosticar. Foi escrito por Hillary Johnson, uma jornalista e vítima da síndrome de fadiga crônica (conhecida por sua abreviatura em inglês, CFS), critica violentamente as autoridades de saúde dos EUA, por negarem a existência da síndrome durante muito tempo, identificando-a como um problema psicológico.
Nessa síndrome, a pessoa é acometida periodicamente de uma fadiga imensa e completa, que a impede de realizar qualquer atividade. Pode aparecer depois de uma fase aguda parecida com uma gripe comum. Não tem causa conhecida ainda (foi associada inconclusivamente a diversos tipos de vírus, entre os quais o vírus de Epstein-Barr, que muitos acreditam ser o responsável), e também não tem tratamento específico.
Foi chamada de “doença dos yuppies”, pois parecia atacar preferencialmente jovens executivos afluentes (puro artefato, pois esses são os que podem ir aos médicos e escrever artigos e livros chamando a atenção para seus problemas). Foi reconhecida e descrita pela primeira vez por volta de 1985, e somente uns dez anos depois entrou para o ról oficial das doenças. Praticamente não existe fora da América do Norte, mas conheço pessoas que pegaram essa doença ao viajarem para os Estados Unidos. Sabe-se, ainda, que cerca de 10% das pessoas que apresentam fadiga crônica não explicada por outras causas (anemia, câncer, etc.), apresentam a CFS.
Diagnósticos como esses frustram muito os médicos e pacientes, pois todos têm em comum um conjunto de sintomas muito comuns: dor crônica, fadiga, fraqueza muscular, tontura, pequenas alterações perceptuais e cognitivas. Podem ser devidas a problemas legítimos, de baixa intensidade, ou podem ser doenças imaginárias, hipocondríacas ou causadas pelo stress e por depressão psicológica.
http://www.geocities.com/saudeinfo/misteriosas.htm
Por Renato M.E. Sabbatini
Um livro publicado recentemente nos Estados Unidos, intitulado “A Teia de Osler”, está provocando muita polêmica com respeito às chamadas “doenças misteriosas”, que periodicamente causam muitas dificuldades e embaraços à ciência médica tradicional. Essas doenças são difíceis de identificar, têm causas desconhecidas, e muitas vezes não representam uma única entidade. Muitas delas acabam sendo imputadas a “problemas psicológicos” de seus portadores.
Existem várias nesse final de século: a síndrome de fadiga crônica (de que trata o livro referido), a síndrome dos veteranos da guerra do Golfo Pérsico, as seqüelas de implantes mamários de silicone, etc. O interessante é que todas essas doenças têm aparecido quase que exclusivamente nos EUA, onde existe uma poderosa e multimilionária “indústria” de processos jurídicos contra os supostos responsáveis por essas mazelas. Os veteranos do Golfo querem compensações miliardárias do Ministério da Defesa, as mulheres que receberam implantes de mama ganharam causas de enorme valor contra a empresa Dow Corning, inventora e fabricante do silicone, etc.
Mais interessante ainda, realmente existem doenças que hoje são entidades reconhecidas pela Medicina, e que passaram por esse processo de mistério, incompreensão, rejeição de sua existência pela classe médica, etc. Uma delas é o lupus eritematoso, uma doença auto-imune (o sistema imunológico ataca tecido saudável, e danifica a pele, o sangue, rins e articulações), que tem manifestações tão inespecíficas e difíceis de documentar, que muitos pacientes demoram, em média, cerca de quatro anos com a doença, antes de serem identificados corretamente. Doenças novas, como a AIDS, também não foram reconhecidas logo no início, o que atrasou a batalha científica contra elas.
O título do livro “A Teia de Osler” se refere à prática organizada e heterodoxa da Medicina, inaugurada no século passado pelo médico inglês Osler, que fixou a importância do diagnóstico como objetivo central do médico; e que, portanto, é muito resistente a reconhecer e tratar problemas que não consegue diagnosticar. Foi escrito por Hillary Johnson, uma jornalista e vítima da síndrome de fadiga crônica (conhecida por sua abreviatura em inglês, CFS), critica violentamente as autoridades de saúde dos EUA, por negarem a existência da síndrome durante muito tempo, identificando-a como um problema psicológico.
Nessa síndrome, a pessoa é acometida periodicamente de uma fadiga imensa e completa, que a impede de realizar qualquer atividade. Pode aparecer depois de uma fase aguda parecida com uma gripe comum. Não tem causa conhecida ainda (foi associada inconclusivamente a diversos tipos de vírus, entre os quais o vírus de Epstein-Barr, que muitos acreditam ser o responsável), e também não tem tratamento específico.
Foi chamada de “doença dos yuppies”, pois parecia atacar preferencialmente jovens executivos afluentes (puro artefato, pois esses são os que podem ir aos médicos e escrever artigos e livros chamando a atenção para seus problemas). Foi reconhecida e descrita pela primeira vez por volta de 1985, e somente uns dez anos depois entrou para o ról oficial das doenças. Praticamente não existe fora da América do Norte, mas conheço pessoas que pegaram essa doença ao viajarem para os Estados Unidos. Sabe-se, ainda, que cerca de 10% das pessoas que apresentam fadiga crônica não explicada por outras causas (anemia, câncer, etc.), apresentam a CFS.
Diagnósticos como esses frustram muito os médicos e pacientes, pois todos têm em comum um conjunto de sintomas muito comuns: dor crônica, fadiga, fraqueza muscular, tontura, pequenas alterações perceptuais e cognitivas. Podem ser devidas a problemas legítimos, de baixa intensidade, ou podem ser doenças imaginárias, hipocondríacas ou causadas pelo stress e por depressão psicológica.
http://www.geocities.com/saudeinfo/misteriosas.htm
Sem comentários:
Enviar um comentário