quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Gordura marrom ‘queima’ gordura comum


Pessoas gordas têm menos do que as magras. Pessoas velhas têm menos do que as jovens. Homens têm menos do que mulheres jovens.
É a gordura marrom, e o seu grande feito é queimar calorias – e muitas. Um novo estudo revela que uma das formas dessa gordura, que é a ativada no frio, suga a gordura do resto do corpo para usar como combustível. Outro estudo recente afirma que uma segunda forma dela pode ser criada da gordura branca comum, através do exercício.
E os pesquisadores não são bobos. Eles sabem que se puderem ativar a gordura marrom colocando as pessoas em salas geladas ou fazendo elas se exercitarem, pode surgir um fantástico tratamento para perder peso. E as empresas já estão se mexendo para chegar nisso.
Mas o endocrinologista André Carpentier, da Universidade de Sherbrooke, autor principal de um dos novos estudos sobre a gordura marrom, comenta que ainda falta muito trabalho para isso. É completamente possível, por exemplo, que as pessoas fiquem com fome e comam mais para compensar as calorias que a gordura marrom queima.
“Nós temos uma prova de que esse tecido queima calorias”, afirma ele. “Mas o que acontece a longo prazo é desconhecido”.
Até três anos atrás, os pesquisadores pensavam que a gordura marrom era algo presente em roedores, que não conseguem tremer e usam-na como forma de manter a temperatura. Recém-nascidos também possuem isso, com o mesmo motivo. Mas eles imaginavam que os adultos, que já tremem, não a possuíam.
Então três grupos, independentes, divulgaram que haviam descoberto a gordura marrom em adultos. Eles conseguiram percebê-la quando as pessoas eram colocadas em salas geladas, usando apenas finas roupas de hospital. As avaliações conseguiram detectar a gordura porque ela absorve a glicose.
Não há muito dessa gordura no nosso corpo, apenas um pouco no topo das costas, nos lados do pescoço, entre a clavícula e o ombro, e ao longo da espinha. Apesar dos bebês e ratos terem muito mais, e em locais diferentes, parece ser a mesma coisa. Então, generalizando pelo que eles sabiam sobre os roedores, muitos pesquisadores assumiram que a gordura estava queimando nossas calorias.
Mas Barbara Cannon, pesquisadora da Universidade de Estocolmo, afirma que não é porque a gordura marrom absorve a glicose que ela está necessariamente queimando calorias.
“Nós não sabíamos o que glicose estava fazendo”, comenta. “A glicose é guardada em nossas células, mas isso não significa que ela pode ser queimada”.
No novo estudo de Carpentier e seus colegas, essas questões foram respondidas. Ao fazer uma análise diferente, que mostra o metabolismo da gordura, o grupo descobriu que a gordura marrom pode queimar a gordura comum e que a glicose não é a fonte principal de combustível para essas células. Quando elas ficam sem energia, passam a sugar a gordura do resto do corpo.
No estudo, os participantes – todos homens – eram mantidos com frio, mas não até o ponto de tremer, que já queima calorias por si só. Os níveis do metabolismo subiram até 80%, apenas com as ações de algumas células. E a gordura marrom também manteve o sujeito aquecido.
Na média, Carpentier afirma que a gordura marrom queimou cerca de 250 calorias em três horas.
Mas existe outro tipo de gordura marrom, difícil de ser estudado porque geralmente está disperso na gordura branca e não existe em grandes quantidades. Pesquisadores descobriram essa gordura em ratos, há poucos anos. Mas agora, no novo artigo, Bruce Spiegelman e seus colegas escreveram que, pelo menos em ratos, o exercício pode fazer ela aparecer, transformando gordura branca comum em marrom.
Quando os animais se exercitam, suas células musculares liberam um recém-descoberto hormônio, que recebeu o nome de irisin. O irisin então converte as células de gordura em gordura marrom, que queima calorias extras.
Spiegelman afirma que a gordura marrom dos seus estudos é diferente do tipo que aparece em grande quantidade nos roedores – o que Carpentier estava examinando. Aquela gordura é derivada das células musculares, e não da gordura branca.
Spiegelman suspeita que os humanos, assim como os ratos, fabricam a gordura marrom da branca quando se exercitam, porque também possuem o irisin no sangue, idêntico ao dos ratos.
“O que eu diria é que isso é uma explicação para alguns dos efeitos do exercício”, comenta. As calorias queimadas durante uma prática excedem o que seria necessário para o esforço. Isso poderia ser o efeito das células de gordura branca virando marrom.
Muitas questões permanecem. A única gordura marrom que pode ser facilmente vista nas pessoas é a derivada dos músculos. E ela só aparece quando as pessoas estão com frio.
Quase todas as pessoas com peso normal ou abaixo do normal apresentam essa gordura quando estão com frio, apesar da quantidade variar muito de indivíduo para indivíduo. Mas ela nunca se forma em pessoas obesas. Isso seria uma razão para elas serem obesas ou a gordura extra já esquenta o suficiente?
Existe também uma intrigante relação entre a gordura marrom que emerge por baixo da pele e a densidade dos ossos. O professor de medicina Clifford Rosen está estudando ratos que não conseguem fabricar gordura marrom e ficou assustado com o estado de seus ossos.
“Os animais têm as piores densidades ósseas que já vimos”, comenta. “Eu vejo ossos osteoporóticos toda hora, mas esses casos são extremos”.
E se você está pensando em passar frio para perder peso, Capentier comenta que “ainda há muita pesquisa a ser feita antes que essa estratégia seja segura e explicada clinicamente”. [NewYorkTimes]
http://hypescience.com/os-segredos-da-nossa-gordura-marrom-que-queima-nossa-gordura-comum/
Hypescience

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