quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A neurologia na arte. O polígono de Willis


Com exceção de Leonardo, cujos desenhos não estiveram ao alcance dos anatomistas do século 16, o artista do Renascimento era anatomista somente de modo secundário.

Sebastião Gusmão. Eric Morato e Elizabeth Regina Comini Frota
http://www.sbhm.org.br/index.asp?p=noticias&codigo=94

Ainda que tenham feito importantes contribuições na representação realística da forma humana (como o uso da perspectiva e do sombreado para sugerir profundidade e tridimensionalidade), os verdadeiros avanços científicos exigiam a colaboração de anatomistas profissionais e de artistas. Tal colaboração ocorreu na associação de Vesalius (1514 - 1564) com a escola de Ticiano (1485 – 1576).

Na edição, em 1543, de De humani corporis fabrica, tratado do belga Andréas Vesalius, ocorre a perfeita combinação de forma e ilustração, tornando-o a maior contribuição isolada às ciências médicas. As ilustrações, sendo várias referentes ao sistema nervoso, foram produzidas no ateliê de Ticiano. Jan van Kalkar, Domenico Campagnola e outros artistas participaram do trabalho sob a supervisão do mestre. Com esta obra, Vesalius contestou a anatomia de Galeno, baseada em dissecações de macacos, e inaugurou a moderna medicina.

SÉCULO XVII
O século XVII eleva ainda mais o conhecimento adquirido nos dois séculos do Renascimento e marca o nascimento da ciência moderna. Na medicina ocorreu significativo avanço na anatomia e fisiologia, sendo o mais importante a descoberta da circulação do sangue por Harvey.

Em oposição aos renascentistas, os artistas do século XVII inovam em audacioso descaso por formas e cores naturais, e procuram expressar uma visão dramática e emocional. Ocorre uma ênfase sobre a luz e a cor; desprezo pelo equilíbrio simples e preferência por composições mais complicadas. É o barroco (início do século XVII a meados do século XVIII). Parecem não dar a menor importância à beleza, e nem mesmo evitar uma fealdade. Atribuíam á verdade e à franqueza um valor muito mais alto do que à harmonia e á beleza. Tal concepção propicia o aparecimento de lesões e doenças nas obras de arte.

A anatomia e a função do sistema nervoso tiveram grande avanço com os trabalhos de Thomas Willis (1621-1675). Em sua obra Cerebri Anatome (1664) ele coloca as bases da moderna neurologia. Nesta obra é pela primeira vez cunhada a expressão Neurologia. Descartes (1596 - 1650) imaginara o corpo humano como a união de uma alma racional, responsável pelo pensamento, e uma máquina de barro. Willis vai além e fundamenta uma explicação mecânica do raciocínio com uma anatomia rigorosa do cérebro e coloca neste o pensamento.

A Cerebri Anatome foi ilustrada por Christopher Wren (1632 – 1723), arquiteto que elaborou o projeto de reedificação de Londres depois do incêndio em 1666 e cuja obra prima é a catedral de São Paulo em Londres. A primeira figura do livro mostra o grupo de vasos sanguíneos na base do crânio conhecido como polígono de Willis.

Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital da Clínicas - UFMG
Serviço de Neurocirurgia do Hospital Luxemburgo – Belo Horizonte
Endereço para correspondência:
Sebastião Gusmão. R. Padre Rolim, 921/21 30130090 Belo Horizonte
e-mail: gusmao@medicina.ufmg.br

Imagem: o polígono de Willis. Wikipedia

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