segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Geriatria. A Opinião dos Idosos Acerca da Escolha de Tratamento Feita por Pacientes Terminais


Inúmeras pessoas são alheias em relação à existência de um documento que lhes permite, de forma legal (estabelecido pela lei), aceitar ou recusar um tipo de tratamento terapêutico que possa prolongar a sua vida, em caso de doença grave ou estado terminal. Apesar disso, estas pessoas se mostram bastante interessadas ao ouvir sobre esse assunto.

Copyright © 2000 eHealth Latin America
http://boasaude.uol.com.br/lib/ShowDoc.cfm?LibDocID=3817&ReturnCatID=1770

Em 1969, o advogado Louis Kutner, pela primeira vez, abordou o assunto relacionado à tomada de decisão de uma pessoa, de manter a vida através de intervenções terapêuticas, amparada pela lei.

Este advogado explicitou um anseio de que o desenvolvimento de tecnologia estava conduzindo os médicos a manterem a vida de uma pessoa sustentada por equipamentos, havendo o indivíduo consentido ou não com o procedimento; motivo pelo qual foi instituído neste mesmo período, um tipo de documento, mais especificamente um termo firmado por uma pessoa, em que a sua vontade seria expressa e registrada, aceitando ou rejeitando um determinado tratamento.

Este tratamento consiste em terapias que poderiam prolongar a vida de um paciente, como o uso de respiração artificial, medicamentos como antibióticos, ressuscitação cardíaca, equipamentos de última geração, elaborados com tecnologia de ponta, para o auxílio à saúde de um indivíduo.

Um estudo publicado pela revista British Medical Journal (BMJ), em junho de 2000, realizado por pesquisadores do Centro de Cuidados à Saúde dos Idosos (Care of the Elderly),da Faculdade de Medicina (Imperial College School of Medicine), Hospital Hammersmith, Londres, Inglaterra, concluiu que a maioria dos idosos não deseja prolongar a sua vida por meio de intervenções médicas que tenham ação de suporte à vida, como respiradores artificiais, antibióticos, infusões venosas de fluidos ou ressuscitação cardiopulmonar.

Estudos anteriores, realizados por pesquisadores nos Estados Unidos, revelaram que os indivíduos idosos possuem receios semelhantes aos encontrados neste estudo realizado em Londres, quanto à decisão em relação ao recebimento ou não, de suporte de vida quando em estágio terminal de alguma patologia.

O estudo
Neste trabalho, os pesquisadores ingleses verificaram que, nos dias atuais, a grande maioria dos pacientes idosos ainda possui certa insegurança quanto ao fato de poderem decidir sobre o seu futuro através de um termo (documento redigido e registrado, como se fosse um testamento) em que determina sua vontade de receber ou não terapêutica que poderia prolongar sua vida (mas por pouco tempo e, talvez, às custas de muito sofrimento).

Os cientistas ingleses avaliaram pacientes idosos de dois hospitais de Londres, totalizando um número de setenta e seis pacientes. Estes indivíduos foram submetidos à aplicação de um questionário acerca da escolha de um seguro de saúde e da decisão de fazer ou não um termo decidindo o tratamento que desejariam em um período seguinte.

Todos os indivíduos avaliados tinham idade superior a sessenta e cinco anos, sendo a idade média de 81 anos, além de possuírem um exame de consciência (denominado Mini-Mental, aplicado em idosos com o objetivo de avaliar o grau de demência destes indivíduos) absolutamente sem alterações. A maioria dos idosos (93%) vivia em casas independentemente; outros (64%) viviam sozinhos ou com algum membro da família (36%).

A metade dos indivíduos participantes da pesquisa recebia algum tipo de apoio de alguém, em sua casa, seja ele financeiro ou de qualquer outra origem. Dos setenta e quatro pacientes idosos que responderam ao questionário, a maioria (95%) nunca havia ouvido falar do termo em que a sua vontade seria expressa e registrada, aceitando ou rejeitando um determinado tratamento para prolongar a sua vida, mesmo que às custas de muito sofrimento, seja ele físico ou mental.

Os demais pacientes já sabiam da existência deste tipo de documento, mas, apesar disso, uma minoria deles sabia corretamente o significado deste termo.

Em relação às pessoas que iriam decidir os cuidados de saúde, a maioria dos idosos escolheu os familiares como procuradores dos cuidados de saúde: uma parcela dos indivíduos (17%) escolheu o esposo ou esposa; outra parcela de idosos (63%) escolheu alguns familiares; alguns (6%) optaram pelos amigos; e os demais (22%), fizeram a escolha do médico.

Os idosos que participaram desta pesquisa explicitaram certa incapacidade em aceitar determinadas situações. Por exemplo, ao escolherem outros familiares distintos dos esposos para serem os procuradores do termo em que decidiriam o tratamento ou não a ser adotado em situação de doenças em estágios terminais ou quaisquer outras situações de risco de vida.

Resultados
Nos resultados, verificou-se que, em um estágio terminal de qualquer doença, muitos idosos (94%) se mostraram contrários a um tratamento mais agressivo, invasivo, se recusando a submeterem-se a qualquer tipo de cirurgia; uma parcela deles (93%) recusou-se a receber respiração artificial (oxigenioterapia por sonda nasal ou traqueostomia); aproximadamente 92% dos idosos se mostrou contrários à ventilação mecânica; cerca de 90% dos pacientes recusou-se a ser submetido à ressuscitação cardiopulmonar em caso de parada cardio-respiratória; 86% recusou-se a receber por via venosa ou subcutânea, a infusão de líquidos e, por fim, 82%, aproximadamente, recusou-se a receber tratamento com antibióticos.

Os pesquisadores concluíram que a grande maioria dos idosos preferiu o cuidado de saúde que lhe proporcionasse única e exclusivamente um conforto e bem-estar, quando estivessem na iminência de morte, e até mesmo a morte, a tratamentos de última geração que visam a manutenção da vida. A situação mais temida pelos idosos foi a demência (degeneração gradativa do sensório) em estágios avançados. A situação mais aceitável pelos participantes foi a incapacidade de deambular (movimentar os membros inferiores, andar), e a necessidade de cadeira de rodas para locomoção. Em relação ao estudo da diferença entre os dois sexos, as mulheres se mostraram menos prováveis de aceitar um tratamento ativo (cirurgias, ventilação mecânica, antibióticos e manobras de ressuscitação) quando em estágios terminais, do que os homens.

Os pesquisadores verificaram que grande porcentagem dos idosos avaliados neste estudo explicitou interesse em redigir um documento, como este termo já há algum tempo implantado nos Estados Unidos, em que a sua vontade seria expressa e registrada, aceitando ou rejeitando um determinado tratamento, que consiste em terapias que poderiam prolongar a sua vida. Este interesse dos idosos, segundo os pesquisadores, se deve ao fato de que, desta maneira, eles estariam levando a conhecimento das pessoas a sua decisão, sua visão quanto ao seu estado de saúde. A conclusão foi de que, entre as mulheres e os homens, o interesse em redigir um documento como este é igual entre os ingleses.

Fontes:
BMJ 2000; 320: 1640-1641
BMJ 2000; 320: 1618-1619

Sem comentários:

Enviar um comentário