Margareth Rago
No ano de 1997, o jornal Folha de São Paulo noticiou com alarde a publicação de um romance, O Anatomista, por uma das mais famosas editoras brasileiras. De autoria do psicanalista argentino Federico Andahazy, trata-se de uma ficção real, ou de uma história romanceada a respeito da descoberta do clitóris, em 1559, por Readolus Colombus, ou Mateo Renaldo Colón. Risadas, brincadeiras, comentários jocosos, a verdade é que o livro vendeu bem e o autor se tornou famoso nos meios culturais e sociais também em nosso país. E com ele, o clitóris entra novamente em cena.
Digo novamente, é claro, porque o feminismo, liberal ou socialista, já havia feito esta mesma descoberta décadas antes. Logo no final dos anos 60, ou inícios dos anos 70, feministas radicais, lésbicas assumidas e mulheres emancipadas proclamavam sua independência sexual em relação ao império do falo, acusando os homens de desconhecerem o corpo e a sexualidade femininos, negando-lhes na prática o direito ao prazer. A revista Nova, publicada pela Editora Abril a partir de 1972, destinada a mulheres da classe média urbana, divulgava a nova e importante descoberta: as mulheres tinham sim orgasmo e este era sobretudo clitoriano, não apenas vaginal. O clitóris, órgão pouco falado e conhecido entre as mulheres principalmente, fazia sua portentosa aparição, de certo modo, assustadora para os homens: os holofotes punham em cena o pequeno órgão que havia passado tão despercebido e desconsiderado por homens e mulheres por muito tempo.
Na verdade, também não sabemos exatamente por quanto tempo, já que, em seguida, as pesquisas históricas e antropológicas sobre o corpo e a sexualidade do "sexo frágil" passaram a indicar, ao menos nos textos médicos do século 19 e das primeiras décadas do 20, na Europa e no Brasil, um conhecimento bastante aprofundado sobre o corpo feminino pela medicina moderna. Antes mesmo da descoberta de Freud, em 1905, vários médicos, ao explicarem as razões da anafrodisia ou da prostituição, demonstravam um conhecimento científico bastante aprofundado sobre o corpo e os órgãos prazerosos da mulher, desde meados do século 19. Vale lembrar, aliás, que nos séculos anteriores, esta era pensada biologicamente a partir do modelo masculino, sendo o clitóris interpretado como um pequeno pênis.
Gostaria de pensar, neste texto, as razões que levam a um esquecimento da existência do clitóris, a um apagamento do pequeno órgão em cada época histórica e a seu posterior e abrupto renascimento. Será possível detectar algum fenômeno maior associado a este movimento? Será possível dizer que o clitóris é redescoberto em momentos de modernização econômica e de maior liberação das mulheres e, do mesmo modo, esquecido e silenciado em momentos de retração, de maior repressão moral e conservadorismo político? Seria o controle dessa informação sobre o corpo da mulher uma forma de contenção do desejo e normatização das relações de gênero, garantindo o lugar privilegiado ao sexo forte? Minha hipótese é a de que o clitóris é silenciado física e discursivamente nos momentos de maior controle sobre a mulher, sobretudo naqueles em que é associada à figura da mãe e, portanto, totalmente dessexualizada. Exemplo disso são os regimes totalitários, o fascismo italiano e o nazismo alemão que promoveram a figura dócil da mulher camponesa, aconchegante e aninhada entre os filhos, abnegada e bondosa, porém, totalmente assexuada.
A releitura médica do corpo feminino no século 18
Alguns estudos, como o de Thomas W. Laqueur, Ivonne Knibiehler/Catherine Fouquet e Jean-Louis Flandrin trazem inquietantes informações a respeito das interpretações médicas do corpo feminino. O primeiro autor, por exemplo, explica que, a partir do final do século 18, os doutores mudaram radicalmente os parâmetros para pensar o corpo e a sexualidade feminina, o que levou a uma profunda dessexualização da mulher, ou para recorrer a Foucault, a uma patologização de seu corpo. Segundo ele, a partir do final do século 18, emerge uma nova conceitualização do orgasmo feminino, o qual deixa de ser relevante para a geração, como fora anteriormente a ciência médica das Luzes. Os textos renascentistas, em que o clitóris é concebido como um órgão que faz o prazer das mulheres e sem o qual elas "não teriam desejo, nem prazer e nem nunca poderiam conceber" se tornam superados.
O deslocamento do orgasmo sexual feminino se inscreve num quadro mais amplo de reinterpretação radical do corpo feminino, em relação ao masculino, no século 18. Por milhares de anos, embora a mulher fosse socialmente percebida como inferior ao homem, acreditava-se que tinha os mesmos órgãos genitais que ele, com a diferença de estarem dentro e não fora. Galeno, que desenvolve o modelo mais importante sobre a natureza homóloga entre os órgãos reprodutivos do macho e da fêmea, no século 2 d.C., afirmava que a mulher tem testículos acompanhados de canais seminais iguais aos do homem, um de cada lado do útero, com a única diferença de que os do macho estão contidos no escroto e os da fêmea não. Por dois milênios, o órgão que, no início do século 19, definirá a essência da mulher ainda não tinha um nome próprio. Galeno refere-se a ele usando o mesmo nome que utiliza para os testes masculinos, orchis. No século 17, Regnier de Graaf chama os ovários pelo nome latino, testiculi. No século 18, Pierre Roussel, autor do Système Plysique et Moral de la Femme, um dos autores mais influentes do período, denomina os dois corpos ovais em cada lado do útero de ovários ou testículos
"dependendo do sistema que cada um adota".
Por volta de 1800, a concepção que associava o orgasmo à geração se torna alvo de profundos ataques. Os autores passam a defender a tese da profunda diferença da sexualidade masculina e feminina, apoiando-se nas descobertas de suas diferenças biológicas. Em 1803, o médico Jacques Moreau de la Sarthe, autor da Histoire Naturelle de la Femme, em 3 volumes, afirmava, contra Aristóteles e Galeno, que não apenas os sexos são diferentes, mas são diferentes em todos os domínios do corpo e da alma, em cada aspecto moral e físico. Entre homem e mulher, haveria muito mais contrastes e oposições. Segundo Julien Joseph Virey, autor de inúmeras obras sobre a mulher:
"As diferenças sexuais não se limitam aos órgãos da geração simplesmente, no homem e na mulher, mas todas as partes de seus corpos, mesmo as que parecem indiferentes aos sexos revelam alguma influência destes."
O saber médico esforça-se por definir a especificidade do corpo feminino em relação ao masculino, acentuando seus principais traços: fraqueza e predestinação à maternidade. Para Roussel,
"os ossos são menores e menos duros, a caixa toráxica é mais estreita; a bacia mais larga impõe aos femures uma obliquidade que atrapalha o andar, pois os joelhos se tocam, as ancas balançam para encontrar o centro de gravidade, o andar é vacilante e inseguro, a corrida rápida é impossível às mulheres",
explica Knibiehler. (p.90)
Ao mesmo tempo, o útero é definido como o principal órgão feminino, responsável pelo funcionamento de todos os outros: cérebro, estômago, seios, lábios etc. (p.94) Portanto, o antigo modelo de interpretação do corpo, em que homens e mulheres eram definidos segundo o grau de perfeição metafísica, por seu calor vital, segundo um eixo cujo telos era masculino, foi substituído pelo modelo da diferença biológica, no século 18. Assim como Knibiehler, Laqueur nega que estas conclusões e especialmente o ataque ao orgasmo feminino tenham advindo de avanços científicos concretos, registrando um profundo desconhecimento da ovulação humana até recentemente. A mudança na interpretação dos corpos feminino e masculino, antes vistos como hierárquica e verticalmente dispostos e agora percebidos como horizontalmente disposto, como opostos, como "incomensuráveis" resulta de outros fatores. Até 1797, ninguém se preocupara em reproduzir um esqueleto feminino num livro de anatomia para ilustrar as diferenças do homem. Até então só existira uma estrutura básica do corpo humano, a do macho. Portanto, longe de refletir um avanço científico,
"novos modos de interpretar o corpo resultavam de novos modos de representar e de fato de constituir realidades sociais". (p.4)
Knbiehler refere-se à medicina das Luzes como aquela que promove a domesticação do corpo feminino, como aquela que
"invalida o ser feminino como nunca havia sido antes"
pois a mulher deverá ser afastada da vida pública e profissional por sua constituição fraca e por sua sensibilidade à flor da pele. (p.113) Ter prazer sexual significava, na lógica do século 16, como mostra Flandrin, ter tido uma relação sexual perfeita, portanto, gerado o ser perfeito, tese que era aceita pelos teólogos. Segundo estes, os membros inferiores e as costas da viúva solitária doeriam por causa da contenção do sêmen, até que ela descarregasse e sentisse um prazer semelhante ao que obteria na cópula: Segundo Ambroise Paré:
"Nenhuma concepção ocorre se as duas sementes não concorrerem junto no mesmo instante." (p. 133)
Ao mesmo tempo, vários autores viam a menstruação como um sangramento, entre outros. Para o médico Boerhaave por exemplo, os homens sangravam regularmente através das artérias hemorroidiais, do nariz, dedos, etc.
O clitóris, descoberto em 1559 por Readolus Colombus como "a sede do deleite das mulheres", era chamado nos textos do século 16 de mentula muliébris (female penis), nympha (termo de Galeno), columnella (coluna), crista (de galo), dulcedo amoris ou oestrum veneris; era visto como o pênis feminino, como, aliás, aparece no guia de parteira de Jane Sharp, de 1671. ainda não passaria pela cabeça de ninguém a idéia de que clitóris grande significasse lesbianismo
Laqueur chama a atenção para o fato de que a construção cultural da fêmea em relação ao macho, enquanto expressa em termos de realidades concretas do corpo estava mais profundamente enraizada em assunções sobre a natureza da política e da sociedade. O abandono destas crenças no Iluminismo tornou inapropriado o sistema de homologias hierarquicamente ordenado. A nova biologia, com sua busca por diferenças fundamentais entre os sexos e entre seus desejos emergiu neste momento preciso, quando as bases da sociedade estavam profundamente abaladas. O século 19, lembra Havelock Ellis, afirmará a tese da anestesia sexual da mulher. Mas, o que aconteceu com a velha biologia?
Para Flandrin, a seqüência é a seguitie: Aristóteles, com a teoria de que a mulher é um vaso receptáculo apenas do sêmen masculino e de que não necessita de orgasmo para a geração é seguido por São Jerônimo e Santo Agostinho, e ainda no século 13, na obra de Alberto, o Grande. Os médicos dos séculos 16 e 17 foram partidários de Galeno e a maioria dos teólogos também retomaram os argumentos galenistas. Contudo, ninguém seguiu à risca as diferentes teorias, mesclando-as muitas vezes. (p.132) Flandrin constrói seu texto no sentido de mostrar que não há um avanço com os séculos, mas um crescente irracionalismo com a modernidade.
Aí entra a reviravolta: por que muda o modelo de leitura do corpo? Por que há uma dramática reavaliação do orgasmo feminino e de interpretação do corpo feminino em relação ao masculino, no final do século 18? Os escritores do século 18 buscam na biologia uma justificação para as diferenças culturais e políticas entre os sexos, que foram cruciais para as articulações de argumentos feministas e antifeministas. Para Hobbes, não havia na natureza nenhuma base para justificar qualquer tipo de autoridade - de um rei sobre seu povo, do homem sobre a mulher. E a revolução, o argumento de que a humanidade em todas as suas relações sociais e culturais poderia ser refeita engendrou tanto um novo feminismo quanto um novo medo da mulher. Mas o próprio feminismo e sua luta pela entrada da mulher na esfera pública foi feita com base nesta diferença.
Sua tese segue a de Ivonne Knibiehler: com a emergência da sociedade burguesa houve, no final do século 18, uma redefinição do lugar social da mulher, para a qual a ideologia burguesa teve que fornecer novas justificações científicas. A ciência médica propõe, então, uma releitura do corpo feminino, tendo em vista responder a uma série de problemas colocados pela nova ordem sócioeconômica emergente: a concepção de indivíduo, já que as mulheres passam a se pensar como iguais aos homens; a separação entre as esferas públicas e a privada, a primeira associada aos negócios masculinos e a segunda à natureza feminina; uma re-significação da função social da mulher, agora destinada a constituir a família higiênica.
Segundo ele, deve-se considerar as mudanças políticas em curso: a emergência do discurso da igualdade se faz acompanhar do nascimento de uma nova biologia - "a biologia da incomensurabilidade" - segundo a qual a mulher é por natureza diferente do homem, inferior e incapaz de vida pública. A resistência das mulheres, o nascimento do feminismo acirram este discurso, levando a buscarem-se outros modos de restabelecimento das hierarquias de gênero, num momento em que as bases metafísicas estavam sendo solapadas. No Brasil, várias pesquisas tornaram conhecidas as teorias médicas sobre o corpo e a sexualidade feminina, seja da "mulher honesta", seja de seu avesso, "a prostituta", que fundamentaram as interpretações e os sentidos atribuídos à feminilidade e definiram o lugar da mulher na sociedade, e que referenciaram as práticas de controle social, incluindo-se as policiais. Fortemente marcados pelos pensadores e cientistas europeus, os médicos explicaram a inferioridade física, moral e intelectual da mulher em relação ao homem, como uma realidade inscrita em seu próprio corpo, na configuração diferenciada de sua estrutura óssea, concluindo por sua incompetência para participar da esfera pública em condições de igualdade com os homens. Avisaram que, por natureza, as mulheres haviam sido destinadas às tarefas da reprodução e as que se recusavam a essa função deveriam ser percebidas como "desviantes" ou "associais". Era o caso das feministas, consideradas mulheres que recusavam sua condição e seu espaço natural - a maternidade e o lar e desejavam ser homens, ou quase como homens. Era o caso também das prostitutas e lésbicas, mulheres dos excessos instintivos, degeneradas natas por hereditariedade.
Os médicos e a relações conjugais no Brasil
A partir do último quarto do século 19, os enunciados do discurso médico sobre a sexualidade feminina, no Brasil, reproduzem as concepções, dominantes da medicina vitoriana, ampliada, mais para o final do século, pelas teorias lombrosianas da Antropologia Criminal. Em 1872, o dr. Ferraz de Macedo, em sua já conhecida tese sobre A Prostituição na Cidade do Rio de Janeiro, classificava, as prostitutas, como mulheres excêntricas, gulosas, preguiçosas, irracionais, irrecuperáveis para a sociedade, signos da involução das espécies: sub-raça. Alguns anos depois, o criminologista italiano Cesare Lombroso classificava as cientificamente como "degeneradas natas", sendo então largamente difundido entre os médicos de todo o mundo. Aqui os doutores insistiam na ausência de instinto sexual nas "mulheres castas", a não ser para fins reprodutivos. Como ensinava o doutor J.B. de Moraes Leme, em 1926:
"Na mulher domina, sobre o instinto sexual, o instinto materno, ou melhor, o apetite sexual decorre do instinto materno, enquanto que no homem o instinto paterno tem parte muito pequena no coito, em que aquilo que ele procura é o prazer".
Ao lado dos médicos, juristas famosos como o dr. Viveiros de Castro, obcecados com a classificação do que consideravam "perversões sexuais", segundo as classificações do psiquiatra vienense Richard von Kraft-Ebing, enxergavam onanistas, pedófilos, homossexuais, tríbades, desviantes e perversos sexuais em quase todos os cantos dá cidade, sobretudo nos bares, restaurantes, cafés-concertos e pensões de artistas. Voyeuristas conscientes ou inconscientes, os homens da ciência seqüestraram a sexualidade desde o século 19, como apontou Foucault, e "perverteram o sexo". Todas as práticas sexuais foram postas sob o signo do discurso científico, analisadas, classificadas e condenadas, enquanto o corpo da mulher foi congelado sob o "império do útero", na expressão de Knibiehler. Dir-se-ia que a ciência domou o sexo, com medo de ser dominada.
É de se notar que o saber médico recolhia importantes informações sobre a anatomia do corpo feminino, não se detendo nas meretrizes, importantes, diga-se de passagem, apenas na medida em que permitiam sinalizar as formas de conduta que as "honestas" deveriam evitar. Por isso mesmo, insistiam no fato de que as mulheres tinham um desejo sexual muito menor do que os homens aliás, quase inexistente, já que sua energia sexual era canalizada para a realização de sua essência: o desejo de ser mãe.
Contudo, já em 1886, o médico A. D'Almeida Camilo, em sua tese O Onanismo na Mulher: explicava a anatomia feminina e destacava a importância do clitóris para o prazer sexual. Segundo ele:
"O clitóris é um órgão eréctil, cuja estrutura se assemelha à dos corpos cavernosos e que apoiado sobre o dorso do pênis, no ato da cópula, recebe a excitação pelo atrito deste, dando em resultado a satisfação do desejo venéreo."
Advertia, portanto, que, em geral, o homem terminava a cópula antes da mulher,
"de mudo que, havendo lentidão e portanto o clitóris não sendo perfeitamente friccionado pelo pênis, permitindo apenas um começo de prazer, este ato que lhe é mais enfadonho que agradável a obriga a masturbar-se para completar o prazer que começara a sentir"
Seria limitado, portanto, enxergar o discurso médico como homogêneo e de ponta a ponta coerente, ao longo dessas décadas. Alguns doutores aproximaram-se de teorias científicas mais abertas, em especial durante os , anos 20, quando as antigas leituras do corpo feminino e de suas necessidades passam a ser questionadas em vários países, como na Inglaterra e nos Estados Unidos. Para muitos historiadores, esta foi a década que presenciou a "primeira revolução sexual" do século 20, precedendo a segunda nos anos 60, e se caracterizaria por uma liberação dos costumes sexuais, mas apenas no que se refere às relações conjugais heterossexuais, e não homossexuais.
Já praticado na experiência anarquista da Colônia Cecília, no Paraná, em fins do século, o "amor livre" passa a ser um tema constantemente debatido nas rodas de intelectuais e de artistas, modernistas e libertários, como observa Maria Lacerda de Moura, enquanto ela própria contesta radicalmente o casamento indissolúvel como prisão e a exigência da virgindade apenas para as mulheres. Pagu e Oswald de Andrade ficam famosos, nos anos 20 por suas relações amorosas bastante livres e transgressoras, enquanto ela é lembrada como uma mulher que ousa desafiar a moral, que circula audaciosamente vestida nas ruas da cidade, protagonizando a "nova mulher", ou a "mulher emancipada", próxima da figura da "melindrosa" e da vamp sedutora, que aparecem nos romances da época. Nesse contexto, o casamento é contestado enquanto instituição deformada e desmoraliza-la, enquanto vários posicionam-se favoravelmente ao divórcio.
A preocupação com a erotização da mulher casada, na Inglaterra e nos Estados Unidos, é destacada por Jeffreys, como: uma das principais mudanças na ideologia, sexual desta década e, de certo modo podemos observar uma tendência semelhante no Brasil. Ao longo dos anos 20 e 30 cresce, entre nós, toda uma literatura que discute e questiona a moral sexual, por parte de médicos e juristas, tanto quanto de anarquistas e modernistas. A virgindade, o casamento, o adultério, a prostituição, o divórcio compõem um conjunto de temas amplamente discutidos, tanto em sentido conservador e misógino, como em sentido oposto.
Os argumentos desenvolvidos pelos homens cultos em favor da educação sexual dos jovens revelaram que a preservação dos valores morais burgueses se colocava com alguma insistência, e que esta aparecia como uma poderosa arma no combate moral aos perigos, imaginários e reais, que visualizavam. O dr. Ubaldino A. de Oliveira, por exemplo, em discussão sobre a questão da Profilaxia Sexual? ou Social em 1924, afirmava que as causas da "derrocada moral" de nossa sociedade se deviam a que a juventude buscava unicamente "o gozo" nas suas atividades. Pela falta de educação sexual, os jovens ficavam seduzidos pelas orgias e pelos "vícios elegantes", entenda-se, as drogas. Desde cedo, aprendiam a arte de seduzir as "mulheres honestas", e apenas quando "gastos" resolviam casar-se. Para o dr. Orlando Vairo, o vício se alastrava de tal modo na cidade de São Paulo, que até mesmo senhoras casadas da alta sociedade já se entregavam
"à embriaguez do ‘lança
http://www.nodo50.org/insurgentes/textos/mulher/16descobertas.htm
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