Por incrível que pareça, a resposta para isso
é não. Segundo a professora de psicologia e comportamento social Jennifer
Skeem, da Universidade da Califórnia (Irvine, EUA), nem todos os psicopatas
apresentam comportamento violento ou se tornam criminosos.
Ela explica que a psicopatia é um
transtorno de personalidade complicado e muito mal compreendido. Marcado
por ousadia, coragem, crueldade, agressividade e impulsividade, muitas pessoas
acham que psicopata equivale a serial killer, como o personagem fictício Norman
Bates, por exemplo, ou o caso brasileiro famoso do Maníaco do
Parque (que estuprou, torturou e matou pelo menos seis mulheres em São
Paulo).
Mas
isso não é verdade. Skeem estima que cerca de 1% a 3% da população em geral
seja psicopata. Isso significa que uma em cada trinta pessoas pode ser
diagnosticada como psicopata, e cinco milhões delas podem existir só no Brasil.
Cinco milhões de
assassinos frios? Não. Muitos deles não só não demonstram comportamento
violento, como nem sequer têm ficha criminal. Porém, isso também não significa
que eles sejam uns amores.
Assassinos cruéis, nem sempre.
Desagradáveis, o tempo todo
Skeem explica que nem todo psicopata nasce do
jeito que é. Como todas as pessoas, a condição é moldada por uma interação
complexa de fatores ambientais e genéticos. Ou seja, ter o “gene da psicopatia”
não significa que o indivíduo vai ser um monstro sem controle – e bem que
alguns criminosos iam adorar isso, pois significaria que eles “não tiveram
escolha” ao cometer as infrações que os enviou à prisão.
“Não existe uma receita para transtorno de
personalidade psicótica. Os fatores ambientais são tão importantes quanto os
fatores genéticos. Porém, o comportamento antissocial misturado com um
histórico de disciplina punitiva, abuso e negligência parece aplicar-se em muitos
casos”, disse Skeem.
O que a psicóloga quis dizer é que uma pessoa
com “genes psicóticos” que foi abusada na infância, por exemplo, tem mais
chances de se tornar violenta e cometer crimes. Mas isso não é regra:
psicopatia não é sinônimo de violência. Aliás, o inverso também é válido: não é
preciso ser psicopata para ser criminoso, para assassinar, roubar, etc. A
maioria dos presos não é psicopata (o índice de psicopatia entre os presos é de
20%, segundo a psiquiatra forense Hilda Morana, do Instituto de Medicina Social
e de Criminologia do Estado de São Paulo).
No entanto, a psicopatia influencia, sim, as
pessoas com a doença, caracterizada principalmente pela total ausência de
compaixão, culpa e medo, além de exibirem normalmente inteligência acima da média
e habilidade para manipular as pessoas à sua volta.
“Eles andam pela sociedade como predadores
sociais, rachando famílias, se aproveitando de pessoas vulneráveis e deixando
carteiras vazias por onde passam”, disse o psicólogo canadense Robert Hare, professor
da Universidade da Colúmbia Britânica e um dos maiores especialistas no
assunto, à revista Super Interessante.
Já Skeem acredita que não é sempre assim. Ou
seja, ela afirma que nem todos os psicopatas são necessariamente destrutivos ou
ameaçadores, mas que costumam, de fato, ser pessoas desagradáveis, por conta de
seu egoísmo, insensibilidade e falta de culpa, que tornam relações pessoais e
profissionais com eles insuportáveis.
“Você pode tentar trabalhar com o indivíduo,
tentar levá-lo a uma terapia ou tratamento”, explica Skeem. “Mas se você não
tem esse tipo de investimento na pessoa, é melhor manter distância”.
Geralmente, se a pessoa é da sua família,
você não vai abandoná-la. Nesse caso, Skeem diz que jovens e adultos com grande
pontuação em psicopatia podem reduzir o comportamento violento e criminoso após
tratamento intensivo, como aconselhamento de saúde mental (terapia) e
reabilitação do abuso de drogas, por exemplo. [MedicalXpress, Abril, PsicopatiaBrasil]
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