sábado, 20 de março de 2010

Ataque da luz verde


A nova arma contra o aumento benigno da próstata é uma cirurgia a laser que evapora o tecido a mais

EXERCÍCIO CONTÍNUO
Depois da cirurgia a laser, a esteira diária de Ronaldo Laguardia voltou a ser feita sem interrupções

Adriana Dias LopesManoel Marques
http://veja.abril.com.br/021209/ataque-luz-verde-p-186.shtml

Aos 20 anos, o homem desconhece por completo a função da próstata. Aos 50, ele se torna um especialista no assunto." A ironia preferida dos urologistas sintetiza com exatidão a relação dos pacientes com a glândula produtora de PSA, a proteína responsável por diluir o sêmen durante a ejaculação. Do tamanho de uma noz, a próstata só chama atenção quando começa a incomodar. Durante o processo de envelhecimento, é natural que ela cresça.

Para 80% dos homens com 50 anos ou mais (o equivalente a 14 milhões de brasileiros), ela se faz notar pela dificuldade de urinar, em menor ou maior grau. Localizada abaixo da bexiga, a glândula prostática se avoluma e comprime o canal da uretra - o que caracteriza a hiperplasia benigna da próstata. "Apesar de sintomas tão evidentes, metade dos pacientes os subestima", diz o urologista Gustavo Guimarães, do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo. Com isso, um problema que seria facilmente controlável pode exigir intervenção cirúrgica - uma possibilidade de fazer tremer os senhores mais destemidos. Uma técnica recém-chegada ao Brasil, no entanto, ajuda a amenizar esse pesadelo. Com o poder de emitir ondas a uma temperatura de 200 graus, o laser verde faz o excesso de tecido prostático evaporar. Como evita sangramentos, o novo procedimento resulta na recuperação mais rápida do paciente e, consequentemente, reduz o tempo de sua internação para um dia - contra os quatro exigidos pelo método convencional.

Aplicado desde 2005 em alguns dos mais célebres hospitais americanos, como o MD Anderson, em Houston, e o Memorial Sloan-Kettering, em Nova York, o laser verde para o tratamento da hiperplasia benigna da próstata pouco lembra a cirurgia por endoscopia criada há cerca de trinta anos. A única semelhança entre as duas técnicas é um tubo finíssimo que chega à próstata por meio da uretra. Na operação tradicional, a cânula leva em sua ponta instrumentos para recortar e sugar as sobras de tecido prostático. No tratamento a laser, um tubinho de 1,8 milímetro de diâmetro libera o feixe de luz quente. "Esse é o procedimento cirúrgico menos agressivo já criado na medicina para tratar a hiperplasia", diz o urologista Miguel Srougi, do Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo. A terceira opção é a cirurgia aberta, indicada principalmente para os casos mais graves, quando a próstata tem mais de 100 gramas (normalmente, ela pesa 20 gramas).

As causas da hiperplasia benigna não são completamente conhecidas. A hipótese mais aceita relaciona o problema ao hormônio testosterona, que funciona como combustível para a multiplicação das células prostáticas. Um dos medicamentos usados para o controle da doença, a finasterida, reduz os níveis de testosterona na glândula. Outro remédio também indicado para os casos moderados é a doxazosina, que relaxa o canal da uretra e aumenta a contração da bexiga. O tratamento medicamentoso, porém, nem sempre consegue conter o crescimento da próstata. Antes de ser submetido à cirurgia a laser, o engenheiro Ronaldo Laguardia, de 66 anos, foi medicado por cinco anos. No início do ano, o quadro se agravou. Ele não conseguia completar a caminhada diária de uma hora na esteira sem ter de ir ao banheiro pelo menos três vezes. "Se soubesse da simplicidade da intervenção, não teria padecido tanto." Agora, Laguardia pode até esquecer qual é a função da próstata.

O teste da próstata
Oito em cada dez homens acima dos 50 anos apresentam hiperplasia prostática benigna. O principal sintoma é a dificuldade em urinar - o comprometimento varia conforme o grau da doença. Metade dos pacientes subestima o problema, aumentando o risco de ter de passar por procedimentos mais agressivos. O teste a seguir é usado como ferramenta de apoio para o diagnóstico da hiperplasia

Das vezes em que urinou no mês passado, em quantas você...
1) ...ficou com a sensação de não ter esvaziado completamente a bexiga?
Nenhuma vez
Uma vez
Menos da metade das vezes
Metade das vezes
Mais da metade das vezes
Quase sempre

2) ...teve de urinar novamente em menos de duas horas?
Nenhuma vez
Uma vez
Menos da metade das vezes
Metade das vezes
Mais da metade das vezes
Quase sempre

3) ...teve o jato interrompido mais de uma vez?
Nenhuma vez
Uma vez
Menos da metade das vezes
Metade das vezes
Mais da metade das vezes
Quase sempre

4) ...teve dificuldade em controlar a vontade?
Nenhuma vez
Uma vez
Menos da metade das vezes
Metade das vezes
Mais da metade das vezes
Quase sempre

5) ...viu que o jato foi mais fraco do que o normal?
Nenhuma vez
Uma vez
Menos da metade das vezes
Metade das vezes
Mais da metade das vezes
Quase sempre

6) ...teve de fazer força para começar a urinar?
Nenhuma vez
Uma vez
Menos da metade das vezes
Metade das vezes
Mais da metade das vezes
Quase sempre

7) ...teve de acordar com urgência durante a noite?
Nenhuma vez
Uma vez
Menos da metade das vezes
Metade das vezes
Mais da metade das vezes
Quase sempre
Total: pontos
RESULTADO
De 1 a 7 pontos
A hiperplasia é inicial e, na maioria das vezes, o paciente é mantido apenas em observação pelo médico

De 8 a 19 pontos
O crescimento da próstata já interfere na rotina do paciente. O tratamento-padrão consiste sobretudo em medicamentos

20 pontos ou mais
Os sintomas já prejudicam os compromissos do dia a dia. O paciente não consegue, por exemplo, ficar sem urinar durante uma sessão de cinema. A indicação é cirúrgica

Fontes: International Prostate Symptom Score, urologistas Gustavo Guimarães, do Hospital A.C. Camargo, e Miguel Srougi, do Hospital Oswaldo Cruz

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