Por Rafael Marques de Morais , setembro 10, 2012 · Comments (0) [Edit]
A gemer de dores, Florinda Domingos contorcia-se no
chão parque de estacionamento do Hospital Especializado Materno-Infantil
Augusto N’gangula, em Luanda.
Aos gritos, um general à paisana exigia do corpo
médico atenção à parturiente, que havia sido retirada da sala de espera, pelos
guardas, por ordens do pessoal clínico. Familiares seus e de alguns pacientes
também se insurgiam, na noite de 9 de Setembro, contra os serviços hospitalares
que ignoravam os pedidos de socorro.
Flora Rosita explicou ao Maka Angola que a
sua cunhada “foi enxotada da sala de espera pelos guardas, porque as doutoras
disseram que só tinha autorização para entrar na sala de espera à meia-noite”.
Por sua vez, outra cunhada, Cândida Nimila,
explicou que o corpo clínico havia determinado que Florinda Domingos seria
assistida apenas à meia-noite, para dar início ao parto prematuro, ao sétimo
mês de gravidez.
Maka Angola
espreitou a sala de espera e constatou que havia várias cadeiras desocupadas.
Entre os presentes na sala, a maioria era constituída por acompanhantes de
pacientes.
Eram exactamente 22H25 quando Florinda Domingos, de
22 anos, deu à luz um menino, no chão do parque, entre duas ambulâncias
estacionadas, que serviam de biombos, sem assistência médica e com o testemunho
de guardas, familiares e do jornalista do Maka Angola presente no local.
Duas enfermeiras, mal-educadas e propositadamente
pouco expeditas, dirigiram-se por fim à parturiente. Na caminhada, tiveram
tempo de expedir ordens aos guardas e ao agente da Polícia Nacional para
expulsarem os que exigiam celeridade nos atendimento a Florinda Domingos e ao
seu recém-nascido.
Só passados muitos minutos as enfermeiras
finalmente prestaram alguma atenção à parturiente, com o corte do cordão
umbilical da criança.
Uma enfermeira, pachorrenta, levou o recém nascido
ao colo, coberto por um pano da mãe. A outra enfermeira segurou Florinda
Domingos pela mão e pediu-lhe para caminhar até ao interior da unidade
hospital, a vários metros de distância. Não havia uma maca ou uma cadeira de
rodas para transportar a paciente. À família, coube a tarefa de limpar o local
onde nasceu a criança.
O bébé acabou por falecer na incubadora. “Eles [o
corpo clínico] estavam a esconder a verdade. Hoje, no período da manhã, eu tive
de insistir muito para que nos permitissem ver o bébé, porque era um direito da
família. Só assim nos disseram que o bébé estava morto”, informou Cândida
Nimila.
Segundo o certidão de óbito passada pelo hospital,
a criança faleceu de madrugada, por volta das 4H00 e os familiares apenas
tiveram conhecimento perto das 10H00, apesar de terem pernoitado no local.
Imagem: jaimagens.com
Sem comentários:
Enviar um comentário