Doença também
infectou 240 profissionais da saúde e matou outros 120
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O atual surto de ebola matou cinco
pesquisadores que trabalhavam na análise genética da cepa do vírus atual para
um estudo, publicado recentemente pela revista "Science", mas que
eles não chegaram a ver divulgado. Desafiando a virulência e a rápida expansão
do vírus do ebola que atinge a África Ocidental, cientistas, enfermeiras e
médicos continuaram trabalhando para ajudar a combater este surto sem
precedentes que se estende por Guiné, Libéria, Nigéria e Serra Leoa.
O preço foi muito alto também para os
trabalhadores da área da saúde, já que a falta de equipamento suficiente ou seu
uso inadequado, a escassez de profissionais para a magnitude da epidemia e a
exposição prolongada aos pacientes causaram um forte impacto entre eles, com
240 infectados e 120 mortos.
Segundo a OMS (Organização Mundial da
Saúde), já passam de 3.000 os casos de ebola confirmados, e mais de 1.500
pessoas morreram, mas o órgão calcula que na realidade existam entre duas e
quatro vezes mais contaminações do que isso. O ebola matou renomados médios em
Serra Leoa e na Libéria, "privando estes países não só do atendimento
médico com experiência e dedicação, mas também de heróis nacionais",
lamentou esta semana a agência sanitária das Nações Unidas.
Entre esses heróis estão cinco dos
co-autores do estudo intitulado "Vigilância genômica esclarece a origem do
vírus do ebola e a transmissão durante o surto de 2014", que junto com
pesquisadores da Universidade de Harvard analisaram geneticamente 99 amostras
do vírus, o que permitiu detectar suas mutações.
Os cinco cientistas eram experientes
médicos do hospital Kenema Government Hospital em Serra Leoa, onde foi
detectado o primeiro caso neste país e onde a maioria das amostras foi
recolhida. Entre eles está Sheik Humarr Khan, um prestigiado virólogo que foi
diretor do programa nacional de combate à febre de Lassa - um tipo de doença
hemorrágica aguda com sintomas semelhantes ao ebola - para o Ministério da
Saúde de Serra Leoa. Khan, que também trabalhou para o ACEGID (Centro
Africano na Excelência Genômica de Doenças Infecciosas) na Nigéria, tratou
dezenas de pacientes antes de contrair o vírus.
No ACEGID anunciaram "com grande
tristeza e profundo pesar o falecimento de um médico excepcional, um homem
humilde e um amigo leal", escreveu Kenneth Onye, diretor de projeto, no
site do centro. Já a médica Onikepe Folarin destacou que Khan, também
colaborador da Iniciativa Africana de Herança Humana e Saúde, "demonstrou
coragem" em uma situação em que outros de seus colegas se afastaram. Entre
as vítimas está Mbalu Fonnie, uma enfermeira que há mais de 30 anos tratava
febre de Lassa, especializada em casos de mulheres grávidas e que contraiu a
doença enquanto cuidava de uma de suas colegas de trabalho que esperava um
filho.
Robert Garry, outro dos co-autores do
estudo e virólogo na Universidade Tulane em Nova Orleans (Louisiana, EUA),
lembrou em declarações à "Science" alguns de seus colegs, como
"a tia Mbalu, uma figura maternal para toda a equipe".
Outro enfermeiro com mais de dez anos de
experiência cuidando deste tipo de pacientes, Alex Moigboi, descrito por Garry
como uma pessoa "sempre sorridente", com grande senso do humor e que
gostava encorajar a todo o mundo, também se infectou cuidando da mesma
enfermeira. A mesma sorte infelizmente teve também a enfermeira Alice Kovoma,
"uma pessoa maravilhosa, muito dedicada e profissional com grande devoção
para seus pacientes e seus colegas de trabalho", assegurou Garry.
Também morreu Mohammed Fullah, um
técnico de laboratório que ajudou no estudo e que perdeu vários familiares por
causa do ebola e que suspeita-se ter sido contaminado por algum deles. Entre os
participantes deste estudo está Sidiki Saffa, um técnico de laboratório que
recolheu amostras de sangue e as processou e que morreu de um derrame cerebral
sem relação com o ebola.
Para Pardis Sabeti, da Universidade de
Harvard, também membro da equipe da pesquisa, "esta é uma extraordinária
batalha que ainda temos pela frente. Já perdemos vários amigos e colegas, como
nosso bom amigo e colega o doutor Humarr Khan, co-autor principal".
Os autores cederam os dados do estudo
porque "todos estamos nesta luta juntos" e consideram que "a
transparência e a parceria são a forma com a qual esperamos honrar o legado de
Humarr" e do resto da equipe. Mas para muitas sua morte não é o final:
"Seu trabalho sentará as bases para um tratamento do ebola. Seu trabalho é
imortal", podia se ler em uma das mensagens de pêsames publicadas na
internet.
Imagem: Segundo a OMS, já passa de 3.000 os
casos de ebola confirmados Reprodução/ DailyMail
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