Nós somos definitivamente humanos, mas muitas
das células no nosso corpo não são. Isso porque nós dependemos de um imenso
exército de micróbios para permanecer vivos: um “microbioma” amigável que nos
protege contra germes, quebra alimentos para liberar energia e produz
vitaminas.
Nosso sistema digestivo é o lar de cerca de
100 trilhões de micróbios – cerca de 10 vezes o número de células nos órgãos
principais. Mas nem todo mundo tem os mesmos micróbios.
Uma equipe coliderada por Jeroen Raes do
Instituto de Biotecnologia de Flandres descobriu que todos nós temos um de três
ecossistemas básicos de micróbios em nossas entranhas.
Porém, estranhamente, o tipo de cada pessoa
não está relacionado à sua raça, país de origem ou dieta. Esses “enterotipos”
são: Bacteriodes, Prevotella e Ruminococcus. Cada um reflete as espécies de
micróbio que dominam em cada um.
Pessoas com um ecossistema Bacteriodes, por
exemplo, têm tendência para bactérias que tiram a maior parte da sua energia
dos carboidratos e proteínas.
Esta revelação poderia explicar as diferenças
na nossa capacidade de digerir os alimentos. Alguns anos atrás, outra equipe,
de Jeffrey Gordon, descobriu que os intestinos de pessoas obesas contêm um
repertório um pouco diferente de micróbios, quando comparados com pessoas
magras.
No novo estudo, os pesquisadores encontraram
uma correlação semelhante entre a obesidade e a abundância de bactérias que
extrai energia rapidamente a partir de alimentos.
Já o professor Jeremy Nicholson, do Imperial
College London, duvida que a descoberta mais recente seja de grande importância
biológica, uma vez que os três enterotipos provavelmente têm funções e
capacidades similares.
No entanto, ele acredita que, algum dia,
talvez seja possível “criar” enterotipos, que poderiam ser usados, por exemplo,
para aumentar o número de calorias extraídas de dietas pobres em crianças nos
países em desenvolvimento.
Isto não quer dizer que tal coisa será fácil.
O intestino humano contém cerca de 1.500 espécies bacterianas, de modo que
mexer com a sua ecologia de uma maneira controlada pode ser complicado.
Embora existam produtos que pretendem
manipular bactérias, como prebióticos e probióticos (como iogurtes) que contêm
bactérias vivas, ainda sabemos muito pouco sobre isso para fabricá-los de forma
confiável.
No entanto, o reconhecimento da importância
do microbioma está crescendo. Ele já foi ligado à nossa compreensão da
obesidade, alergias, diabetes e câncer e, nos últimos dias, um estudo sugeriu
que os tipos e níveis de bactérias no intestino de uma pessoa podem ser
utilizados para prever a probabilidade de ter um ataque cardíaco, também.
A descoberta pode ser um marco revolucionário
na prevenção e tratamento de tais ataques. Como parte das experiências
conduzidas, o estudo induziu ataques cardíacos em três grupos distintos de
ratos.
O primeiro foi alimentado com uma dieta
padrão. O segundo tomou o antibiótico vancomicina, e o terceiro foi alimentado
com
um probiótico contendo Lactobacillus plantarum, uma bactéria que suprime a produção de um hormônio chamado leptina, ligado ao apetite e metabolismo.
um probiótico contendo Lactobacillus plantarum, uma bactéria que suprime a produção de um hormônio chamado leptina, ligado ao apetite e metabolismo.
O grupo tratado com o antibiótico também
mostrou diminuição dos níveis de leptina. Os dois grupos com menores níveis de
leptina sofreram ataques cardíacos menos graves, e se recuperaram melhor.
Segundo os pesquisadores, ainda não é
possível prescrever iogurte para prevenir ataques cardíacos, mas o estudo dá
uma compreensão muito melhor de como o microbioma afeta a resposta do corpo à
lesão.
Mais pesquisas são necessárias para mostrar
se as mudanças dramáticas em moléculas inflamatórias encontradas nos ratos se
aplicam aos seres humanos também. Mas, em um futuro não muito distante, podemos
ter ainda mais ajuda dos nossos passageiros microbianos.[Telegraph]
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