quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Viajem ao epicentro da tuberculose resistente. (1)


A Rússia tem 85 casos por cada 100.000 habitantes, mais de 6% não respondem a fármacos

Cumprir o tratamento é essencial
Actualizado Quinta-feira 29/10/2009 06:03 (CET)

MARÍA VALERIO ELMUNDO.ES
(enviada especial a Tomsk, Rússia). - Provavelmente não há um lugar mais diferente no sanatório de tuberculosos que Thomas Mann descreve na sua Montanha Mágica (1924) que é o actual hospital de Tomsk, uma localidade situada a 3.000 quilómetros ao Este de Moscovo. As habitações onde vários pacientes vêem a televisão, em nada se parecem ao quarto individual que desfrutava na novela o jovem Hans Castorp.

Este é um dos remotos lugares da Federação Russa onde as autoridades tratam de combater um problema crescente e preocupante: a tuberculose multirresistente (MDR-TB). De facto, junto à África do Sul, China e Índia, a Rússia ostenta a duvidosa honra de encabeçar a lista dos países com mais casos de pacientes que deixaram de responder a pelo menos dois dos fármacos disponíveis na primeira linha para combater esta infecção respiratória (a isoniazida e a rifampicina). Quando o problema se agrava ainda mais, aparece a tuberculose extremamente resistente (XDR-TB).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que um terço da população mundial é portador de alguma forma latente da enfermidade nos seus pulmões. Na maioria dos casos, o sistema imune mantém baixo controlo ao Mycobacterium tuberculosis (o bacilo de Koch). Como explica o doutor Rafael Blanquer, neumólogo do Hospital Doctor Peset de Valência, nestas infecções latentes não se costuma administrar tratamento; salvo que o indivíduo haja estado em contacto com algum caso confirmado. Estas pessoas não costumam receber um ou dois fármacos durante três meses, "é o que antes se chamava quimioprofilaxis; que é especialmente importante nos meninos que, por exemplo, estiveram em contacto com um familiar afectado".

Sem embargo, entre os 5% e os 10% dessa população mundial desenvolverá a forma activa (e contagiosa) da enfermidade em algum momento da sua vida: "O bacilo ganha a batalha e as defesas deixam de controlá-lo. Então, pode observar-se nas amostras de cuspo. O tratamento alarga-se então até aos seis meses: os dois primeiros com três ou quatro antibióticos e os quatro restantes só com isoniazida e rifampicina", aclara Blanquer. Sem embargo, muitos enfermos começam a sentirem-se bem poucas semanas depois de começarem a medicação e a interrompem antes do tempo. Então, a bactéria se fortalece e o paciente volta a recair, desta vez com uma cepa mais agressiva que exige terapias ainda mais prolongadas.

Neste círculo vicioso entrou Vladimir Vudniov (50 anos), que leva quatro anos de ingresso no hospital de Tomsk e não responde a oito medicamentos antituberculose diferentes. Acaba de passar pela sala de curas, onde a enfermeira limpa uma ferida debaixo da sua axila, donde os médicos extraíram várias costelas para facilitar-lhe a respiração. Antes, já lhe haviam removido completamente o pulmão direito, uma prática desterrada há muitos anos em Espanha.

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