O secretário-geral da instituição é acusado de a
sufocar. Entretanto Américo Ubisse diz que está a ser vítima de ódio e de quem
levou a CVM ao estado em que se encontra hoje.
“Quando tomei posse encontrei uma instituição
financeiramente débil. Não fui informado dos problemas de fundo e de natureza
financeira. Os problemas eram muitos e já se haviam transformado num baril de
pólvora pronto a explodir”
“As contas da CVM estão a saldo negativo.
Ambulâncias, um hotel da CVM em Chimoio e uma propriedade em Pemba foram
penhorados pela banca. Em finais de Junho a Bélgica retirou o seu apoio. A
Finlândia está a gerir os seus fundos directamente dentro desta instituição
humanitária. A Cruz Vermelha da Espanha a qualquer momento também pode
abandonar-nos”, - dizem trabalhadores da Cruz Vermelho de
Moçambique.
Maputo (Canalmoz) – Alarme tocou na Cruz Vermelha
de Moçambique (CVM). A instituição humanitária está a atravessar um dos seus
piores momentos, segundo denúncia de um grupo de trabalhadores da instituição.
Falam de uma crise financeira sem precedentes que se abateu sobre a CVM,
causando atraso de salários, penhora de bens pela banca, retirada de ajuda por
alguns doadores europeus.
Américo Ubisse, secretário-geral da instituição, é
o principal acusado pelos trabalhadores que consideram que ele está a gerir a
instituição come de sua quinta se trate.
Ubisse, ouvido pelo Canalmoz nega as acusações e
diz que são pessoas que estão com dores de “cotovelo e com pulgas atrás das
orelhas”.
Os trabalhadores responsabilizam o secretário-geral
por esta situação. Por exemplo, dizem que no dia 27 de Junho foi mandar fazer
banners na África do Sul e pagou 52 mil randes. Mas segundo as fontes, os
mesmos custariam 14 mil meticais se tivessem sido feitos no país.
Os trabalhadores dizem ainda que desde que Ubisse
assumiu as rédeas da instituição, em Janeiro de 2010, instalou um clima de
ditadura, terror e desconfiança no seio dos trabalhadores.
“A missão do secretário-geral não é de alívio ao
sofrimento tal e qual o lema da CVM, mas, sim, de promover sofrimento
psicológico no seio da massa laboral. Somos violentamente chamados de burros e
que não sabemos trabalhar. Até podemos não saber, mas será que todos os colegas
afectos nos 110 distritos dos 128 existentes no país são burros?”, questionam
os trabalhadores.
Austeridade
Segundo os trabalhadores, depois de Américo Ubisse
entrar na CVM “elaborou um organograma que disse que era menos pesado” e
“Promoveu campanhas de despedimento por alegada falta de cobertura salarial”.
“O que não cabe nas nossas cabeças é o facto de se
despedir um simples técnico e nomearem-se novos directores”, dizem os
trabalhadores. Questionam: “Como é que se a verba existente não dá para pagar
técnicos, cobre as regalias dos novos directores e chefes de departamentos,
recentemente nomeados?”
Acusam ainda Ubisse de ter nomeado um engenheiro
agrónomo como chefe do departamento de Saúde e Serviços Sociais. Também dizem
que inventou dois postos de assessores para acomodar duas senhoras tidas como
“damas de ferro” na CVM.
Ambulâncias
As fontes da CVM dizem que foram adquiridas 10
ambulâncias nas vésperas dos jogos africanos para fazer os primeiros socorros,
mas desde a sua chegada estão a enfeitar o parque do Corpo de Salvação Pública.
Observam que para estas ambulâncias, foi aberto um
concurso público para a contratação de 40 motoristas. “De onde virá o dinheiro
para salário desta gente que mesmo para pagar o staff existente tem sido uma
dor de cabeça?”, interrogam-se.
Acrescentam que Américo Ubisse controla
directamente um hotel de três estrelas em Chimoio.
Secretário-geral reconhece dívidas elevadas
O secretário-geral da Cruz Vermelha de Moçambique,
Américo Ubisse, reconheceu ao Canalmoz que a CVM está endividada até ao
pescoço, mas diz que algumas pessoas ligadas à instituição, que estão a
levantar-se contra a sua pessoa, participaram na fraude.
“Quando tomei posse encontrei uma instituição
financeiramente débil. Não fui informado dos problemas de fundo e de natureza
financeira. Os problemas eram muitos e já se haviam transformado num baril de
pólvora pronto a explodir”, explica.
Américo Ubisse diz que durante o processo de
reorganização da CVM descobriu que havia fraudes e desvios de recursos.
Acrescentou que havia contractos com três empreiteiros que não chegaram a
realizar sequer uma obra. Outros contractos foram com fornecedores de produtos
e serviços que nunca chegaram a honrar os compromissos. Uma gráfica da praça
também participou no saque dos fundos da CVM para uma alegada produção de
boletins e folhetos.
“Quando cheguei a CVM estava em queda livre. Fiz
uma estruturação e coloquei homens certos nos momentos e lugares certos.
Desmontei o nepotismo, amiguismo e espírito de familiaridade que reinavam na
direcção anterior. Algumas pessoas próximas de mim não gostam disto”, vinca
Américo Ubisse.
Acrescenta que “hoje descobrimos isto e trazemos
esta sistematização da verdade. Então nós somos vistos como os maus da fita”.
“Há uma inversão propositada de factos. Descobrimos
fraudes. Eles levantam-se contra nós e acusam-nos de má gestão”, alega
SG.
Ainda segundo Ubisse, “neste momento a Cruz
Vermelha de Moçambique tem uma dívida de mais de quatro milhões de dólares
norte-americanos”. E acrescenta: “Deste valor, 1.4 milhões é com os projectos:
um milhão de dólares foi empregue na aquisição de dez ambulâncias e respectivos
kits. Dois milhões foram para reformas. A este valor juntam-se outros 3,4
milhões de dólares devido à gestão pouco eficiente e não profissional na CVM
nos últimos tempos”.
Saída de financiadores
Sobre a saída de alguns financiadores da CVM,
Ubisse diz que os seus detractores não percebem que os projectos chegam ao fim.
“Quando um projecto termina, o acordo de parceria também termina”, alega.
Explica que no tocante à dívida com os projectos dos parceiros (1.4 milhões), a
mesma será amortecida aos poucos com as receitas das ambulâncias.
Quanto à dívida de compra de dez ambulâncias em
Dubai (um milhão), feito com empréstimo dum banco comercial da praça, diz ser
uma dívida “soberana e de esperança”.
A Cruz Vermelha de Moçambique tem cerca de 300
trabalhadores humanitários, dos quais 84 porcento possui contractos
indeterminados e 14 porcento com contractos certos. (Cláudio Saúte)
Sem comentários:
Enviar um comentário