A diabetes
tipo 1, o tipo menos comum da doença, é causada pelo próprio sistema
imunológico do corpo, que ataca células do pâncreas. Apesar de ocorrer em
qualquer idade, é mais comum em crianças, adolescentes ou adultos jovens, por
isso também é conhecida como “diabetes juvenil”.
Como muitos já sabem, a diabetes ainda não
tem cura,
e o seu tratamento pode ser complicado. A doença do tipo 1 exige injeções
diárias de insulina para regular os níveis de glicose no sangue do paciente,
com risco de vida se as doses não forem dadas regularmente.
Agora, uma cientista bastante criticada pelos seus
semelhantes, Denise Faustman, diretora do Hospital Geral de Massachusetts
(EUA), acaba de divulgar os resultados de um estudo experimental que usou uma
vacina para a tuberculose criada há um século que conseguiu “banir” a doença
nos pacientes temporariamente.
O avanço
Publicado na revista PLoS One, o estudo envolveu
uma vacina genérica conhecida como BCG (Bacillus Calmette-Guérin, ou vacina contra a tuberculose,
obtida através da bactéria Mycobacterium bovis em estado atenuado). O
medicamento genérico, com mais de 90 anos de uso clínico, é atualmente aprovado
nos EUA para a vacinação contra a tuberculose e para o tratamento de câncer de
bexiga.
A primeira fase do ensaio clínico confirmou que o
uso da vacina eleva os níveis de um modulador do sistema imunitário, o que pode
causar a morte de células autoimunes que alvejam células secretoras de insulina
do pâncreas, restaurando temporariamente a secreção de insulina em pacientes
humanos com diabetes do tipo 1.
O estudo
Em 2001, a equipe descobriu que induzir a expressão
do fator de necrose tumoral (TNF, na sigla em inglês) destruía células de
insulina autorreativas T, curando diabetes tipo 1 em ratos, por permitir que o
pâncreas se regenerasse.
Como doses elevadas de TNF são tóxicas para os
seres humanos, na próxima fase da pesquisa os cientistas usaram a vacina BCG,
que eleva os níveis de TNF nos humanos com segurança.
“Nossos resultados mostram que esta vacina simples
e barata modifica a autoimunidade subjacente a diabetes tipo 1, aumentando a
produção de TNF e matando as células T causadoras de doenças, o que parece brevemente
restabelecer a função das células beta do pâncreas”, explica Faustman.
Três pacientes com diabetes de longa duração
receberam duas injeções, com quatro semanas de intervalo, de BCG. Três outros
receberam injeções de solução salina, ou placebo, servindo como grupo de
controle.
Em dois dos três pacientes do BCG, os níveis de
células T (que atacam ilhotas do pâncreas) caíram. Células mortas autoimunes
foram liberadas na corrente sanguínea, o que indicou que o TNF as matou como
deveria. A medida da produção de insulina aumentou.
“Descobrimos que mesmo pequenas doses da vacina
poderiam transitoriamente reverter a diabetes tipo 1, em pacientes que tiveram
a doença por 15 anos”, disse Faustman. O efeito durou cerca de uma semana, e
não teve reações adversas.
Porém, alguns especialistas em diabetes têm suas
dúvidas quanto ao estudo. “Há um pouco de ‘pensamento mágico’ nisso”, opinou o
Dr. Domenico Accili, da Universidade Columbia (EUA). “A ideia de que BCG
‘apaga’ as células autoimunes é totalmente infundada”.
Mas também há quem apoie o estudo. “Este é um
momento emocionante para a pesquisa em diabetes tipo 1”, disse Paul Burn, da
Universidade de South Dakota (EUA). “Restaurar a função das células beta é um
promissor primeiro passo para a cura da doença. É difícil fazer com que um
estudo com ratos se traduza em bons dados em seres humanos, então esses
resultados são muito impressionantes”.
O próximo passo da pesquisa é aumentar a dosagem de
BCG em uma segunda fase do estudo clínico, que deve durar três anos e tem
milhões de dólares de financiamento. [Diabetes,
MedicalXpress, Reuters]
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