quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Por que assassinos não são necessariamente psicopatas


Se você acompanha os noticiários internacionais, está ciente da onda de tiroteios e assassinatos em massa que anda acontecendo nos EUA. Só nos últimos dias, ocorreu um terrível assassinato em massa em um cinema no Colorado, um duplo assassinato no Texas, e uma troca de tiros com seis vítimas em um templo em Oak Creek.
No Brasil, casos assim podem não ser tão comuns, mas já fizeram manchetes, como o do bairro Realengo, no qual um jovem foi à escola municipal onde havia estudado e matou a tiros 12 crianças no dia 7 de abril de 2011, no Rio de Janeiro.
Assassinatos em massa, ou massacres, representam o assassinato simultâneo ou em curto período de tempo de um grande número de pessoas. Mas seriam todos os assassinos em massa, ou mesmo assassinos em série, psicopatas?
Não.
O termo “psicopata” é muito mal compreendido. Ele é muitas vezes usado para descrever situações como as acima, mas uma coisa pode não ter nada a ver com a outra. Não é por que algo terrível, cruel, ou incompreensível para a maioria de nós aconteceu, que um psicopata tem que estar envolvido. Inclusive, os psiquiatras defendem que nem todo psicopata é sequer perigoso.
A psicopatia
A psicopatia é um transtorno de personalidade complicado e pouco entendido. Marcado por traços como ousadia, coragem, crueldade, agressividade e impulsividade, muitas pessoas acham que psicopata equivale a serial killer, como o caso brasileiro famoso do Maníaco do Parque, que estuprou, torturou e matou pelo menos seis mulheres em São Paulo.
Mas isso não é verdade. Estima-se que cerca de 1% a 3% da população em geral seja psicopata. Isso significa que uma em cada trinta pessoas pode ser diagnosticada como psicopata, e cinco milhões delas podem existir só no Brasil. Cinco milhões de assassinos frios? Não. Muitos deles não só não demonstram comportamento violento, como nem sequer têm ficha criminal.
A psicopatia é caracterizada principalmente pela total ausência de compaixão, culpa e medo, além dos psicopatas geralmente exibirem inteligência acima da média e habilidade para manipular as pessoas à sua volta. Isso significa que eles são, sempre, desagradáveis e difíceis de se conviver, mas não assassinos. Inclusive, já existe um debate que tenta entender se a psicopatia é uma doença e, portanto, se a pessoa deveria ser tratada com paciente ou ao invés de criminosa, caso tenha cometido alguma infração.
Discussões morais à parte, o que é fato é que maioria dos psicopatas não mata ninguém, e nem todo mundo que mata é um psicopata.
Assassinos em massa x psicopatas
As evidências recentes sugerem que os americanos dos últimos episódios violentos não são psicopatas. Psicopatas são pessoas que geralmente não têm empatia, não sentem remorso ou culpa por seus atos.
Jared Loughner, por exemplo, o jovem que se envolveu em um tiroteio no Arizona, notícia que ficou famosa porque uma das balas atingiu a congressista americana Gabrielle Giffords na cabeça, que sobreviveu ao ataque, não é um psicopata, segundo os especialistas.
Mas ele pode sofrer de esquizofrenia, de acordo com os médicos que vêm o avaliando. Uma pessoa que sofre da doença mental de esquizofrenia geralmente vive em sua própria realidade, tendo muitas vezes alucinações e delírios.
“As pessoas que cometem assassinatos em massa não estão, obviamente, indo bem”, disse Louis Schlesinger, psicólogo forense de Nova York (EUA). “Basta olhar para suas atitudes ou comportamento para saber disso. Mas não significa que são psicopatas”.
Segundo o Dr. Michael Welner, psiquiatra forense da Universidade de Nova York (EUA), enquanto psicopatas podem cometer homicídios, seus motivos tendem a ser específicos. Eles são geralmente conduzidos por sexo, dinheiro ou um desejo de fugir da cena de um outro crime.
Mas para assassinos em massa, um grande motivo pode ser a decepção consigo mesmo. Assassinos em massa podem ser homens que estão dolorosamente conscientes de si mesmos como rejeitados sociais e sexuais em uma sociedade que valoriza a desejabilidade social, explica Welner. “E em uma sociedade que valoriza a conquista, eles estão conscientes de que ficaram para trás, e não vão reverter isso. São perdedores”, diz.
Como identificar assassinos em massa
É muito difícil, até mesmo para especialistas, identificar possíveis ameaças a sociedade. Isso porque mesmo pessoas gravemente perturbadas, e até mesmo paranoicas, podem levar uma vida relativamente normal.
Mas existem algumas características que geralmente aparecem em assassinos em massa. Por exemplo, eles são normalmente homens, que são nove vezes mais propensos a cometer um assassinato do que mulheres.
Isso pode ser até biológico, já que homens têm níveis mais elevados de testosterona, o que os torna mais agressivos. Culturamente, eles também aprendem a usar a violência para se defender, diferente das mulheres.
Também existem diferentes tipos de assassinatos em massa, impulsionados por motivações diferentes. Assassinos podem ser motivados pela raiva, tristeza, ressentimento, ou por se sentirem usados ou maltratados.
Essas pessoas podem ter histórico de transtornos de ansiedade e depressivos. Tanto que muitos deles se suicidam após matar outros. Mas isso não significa que todos os assassinos em massa sofrem de doença mental, e os assassinos em massa que têm doenças mentais graves representam apenas uma pequena fração das pessoas com doenças mentais.
Essa pequena fração geralmente inclui pessoas que sofrem de transtornos de humor graves, como depressão, psicoses, um tipo particular de esquizofrenia ou algum tipo de transtorno delirante. A doença mental pode criar motivos para ataques violentos, como uma crença ilusória de que está sendo perseguido pelo governo.
Seja como for, é muito difícil classificar esses tipos de pessoas em grupos que realmente têm uma chance de cometer algum ato violento. A ciência ainda aguarda um melhor jeito de entender os profundos cantos da mente humana.[MyHealthNewsDaily]

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