Os centros de saúde dos bairros Bula-Matady,
Nabamby e o Hospital Municipal do Lubango, no bairro da Mitcha, na capital da
província de Huíla, têm estado a solicitar às parturientes que se façam
acompanhar de velas para a sua assistência, devido às falhas de energia e falta
de geradores.
Do mesmo modo, as parturientes são
aconselhadas a fazerem-se acompanhar de familiares com viaturas para o caso de
necessitarem de ser evacuadas para o Hospital Materno-Infantil Irene Neto.
Em Julho passado, Domingas Manuel teve uma
filha no Hospital Municipal do Lubango e levou consigo as velas para o parto.
Devido ao sistema de restrições na distribuição eléctrica, a zona do hospital,
também conhecido por “Ana Paula” por ter sido inaugurado pela primeira-dama,
fica regularmente às escuras à noite.
“Cada paciente ou seu familiar tem de levar
velas para o hospital, para receber tratamento”, explicou Domingas Manuel. “O
hospital não tem medicamentos. Nós é que temos de comprar e, em caso de
evacuação, o doente ou os familiares têm de arranjar carro porque este hospital
não tem ambulância”, adiantou ainda.
Por sua vez, Felicia Ngueve, vendedora do
mercado João de Almeida, contou que, a 20 de Agosto, levou a sua filha Laurinda
Ngueve, de 22 anos, ao “Ana Paula”, uma vez que esta se queixava de dores de
parto. Segundo a mãe da parturiente, por volta da meia-noite, o corpo clínico
manifestou-se incapaz de prestar tratamento adequado à sua filha e pediu à
família que organizasse transporte, por falta de ambulância, e a levasse a
outra unidade hospitalar.
Felícia Ngueve lamentou a sua pobreza e
disse: “Não conseguimos arranjar carro. A alternativa foi um carrinho de mão
“kangulo” para levarmos a Laurinda. No caminho, as águas rebentaram, o bébé
ficou atravessado [no útero da mãe] por muito tempo e acabou por morrer. Nem
chegámos à maternidade”.
No centro médico de Bula Matady a situação é
similar. Anatólia Rosalina, de 24 anos, relatou como, a 3 de Julho passado,
realizou o seu parto com a luz do seu telemóvel, e perdeu uma das suas filhas
gêmeas por falta de uma ambulância.
Segundo testemunho da jovem, “a enfermeira e
o guarda, devido aos meus gemidos, observaram-me com a lanterna do meu
telemóvel, por falta de energia eléctrica. Pediram-me para arranjar transporte
por falta de ambulância no hospital, para ser evacuada. Eu não tinha como
conseguir transporte”.
“Aguentei as dores. Eram gêmeas. A primeira
nasceu sem problemas, dei-lhe o nome de Sorte. A segunda não aguentou o tempo
de espera da ambulância e a falta de assistência. Morreu no útero”, disse
Anatólia Rosalina.
O director provincial de Saúde na Huíla,
Barnabé Lemos, garantiu que “estão a ser comprados geradores para os centros e
postos médicos, a fim de se poder ultrapassar esta realidade. Alguns centros já
possuem e está a ser feita a instalação dos mesmos. Pensamos que até Outubro
teremos a situação completamente ultrapassada”.
Barnabé Lemos lamentou a falta de ambulâncias
e reconheceu o caso como “um dos nossos grandes desafios”. O gestor apelou à
calma dos cidadãos e assegurou que estão a ser implementadas melhorias na
prestação de serviços de saúde, admitindo que “ainda há muito por fazer”.
Sobre as falhas de energia, o director
provincial da Empresa Nacional de Electricidade, João Pinto, reconheceu haver
debilidades no sector de distribuição. Segundo o referido responsável, a
reestruração da rede eléctrica da cidade do Lubango e as ligações anárquicas
por parte dos residentes, são os principais factores de restrição. Assegurou,
todavia que os trabalhos de melhoria da rede “estão quase no fim” e augurou
mais luz para os huilanos após a conclusão “da reabilitaçao total da barragem
da Matala”.
Enquanto as unidades hospitalares do Estado
são afectadas pela falta de ambulâncias, geradores e combustível, o governo
provincial tem dispendido uma fortuna considerável na aquisição de viaturas de
luxo para os seus altos funcionários. O vasto parque automóvel do governo
provincial inclui viaturas todo-terreno Toyota VX V8, que custam mais US
$80,000 por veículo.
O Presidente da República, José Eduardo dos
Santos, visita hoje a Huíla, como candidato do MPLA às eleições de 31 de Agosto
próximo. Certamente apresentará apenas uma imagem de grande desenvolvimento na
província e no país. Enquanto isso, continuarão a morrer recém-nascidos por
falta de luz eléctrica e de ambulâncias.
triste nem num pais democratico
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