O colo interno do útero, ou cérvix, é a extremidade inferior do útero, a qual chega ao interior da vagina. Dos cancros que afectam o aparelho reprodutor feminino, o cancro cervical (carcinoma cervical) é o segundo mais frequente entre todas as mulheres e o mais comun entre as mulheres mais jovens. Em geral, afecta mulheres entre 35 e 55 anos. Este tipo de cancro pode ser provocado por um vírus (o papilomavírus humano) que se transmite através das relações sexuais. (Ver secção 17, capítulo 189)
http://www.manualmerck.net/?id=265&cn=1707
O risco de cancro cervical parece ser maior à medida que diminui a idade em que a mulher teve a sua primeira relação sexual e também aumenta quanto maior é o número de parceiros sexuais. O facto de não se fazer regularmente um teste de Papanicolaou (Pap) também aumenta o risco.
Quase 85 % dos cancros cervicais são carcinomas de células escamosas, que se desenvolvem nas células escamosas, planas e semelhantes à pele que revestem o exterior do colo interno do útero. A maioria dos outros cancros desenvolvem-se a partir de células glandulares (adenocarcinomas) ou de uma combinação de diferentes tipos de células (carcinomas adenoescamosos).
Quando o cancro cervical invade o colo uterino, entra na rica rede de minúsculos vasos sanguíneos e linfáticos que atapetam o seu interior e, assim, dissemina-se por outras partes do organismo. Deste modo, o cancro pode-se espalhar para áreas distantes ou próximas do colo uterino.
Sintomas e tratamento
Os sintomas incluem pequenas perdas entre as menstruações ou hemorragias depois do coito. É possível que a mulher não tenha nenhuma dor nem sintoma até às últimas fases da doença, mas os Pap feitos sistematicamente podem detectar o cancro cervical de forma precoce. O cancro cervical começa com alterações lentas e progressivas nas células normais e leva vários anos a desenvolver-se. Estas alterações progressivas são observadas ao microscópio, colocando as células extraídas mediante a técnica Pap sobre uma lâmina. Os anatomopatologistas descreveram estas alterações em diferentes estádios que vão desde a normalidade até ao cancro invasivo.
O Pap pode detectar, de forma exacta e pouco dispendiosa, até 90 % dos cancros cervicais, inclusivamente antes de aparecerem os sintomas. Consequentemente, o número de mortes por esta doença reduziu-se em mais de 50 %. É recomendável que as mulheres façam o seu primeiro Pap quando começam a ser sexualmente activas ou a partir dos 18 anos e que o repitam sucessivamente uma vez por ano. Se os resultados forem normais durante 3 anos consecutivos, então o teste pode espaçar-se e ser feito de 2 em 2 ou de 3 em 3 anos, desde que não se mude o hábito de vida. Se todas as mulheres se submeterem ao Pap de forma periódica, poderão ser eliminadas as mortes causadas por este tipo de cancro. No entanto, cerca de 40 % das mulheres dos países desenvolvidos não faz o teste regularmente.
Se se encontrou uma massa, uma úlcera ou outra formação suspeita sobre o colo uterino durante um exame pélvico ou se os resultados dos Pap indiciarem uma anomalia ou cancro, deve-se fazer uma biopsia (extracção de uma amostra de tecido para a examinar ao microscópio). A amostra de tecido obtém-se durante uma colposcopia, na qual se usa um tubo de visualização com uma lente de aumento (colposcópio) para examinar minuciosamente o colo interno do útero e escolher o local certo para a biopsia.
Fazem-se dois tipos de biopsia: a biopsia com pinça (biótomo), em que se extrai uma minúscula porção do colo uterino que se selecciona visualmente com o colposcópio, e a raspagem endocervical, em que se raspa o tecido do canal do colo visualmente inacessível. Ambos os procedimentos são um pouco dolorosos e provocam uma pequena hemorragia, embora juntos costumem proporcionar tecido suficiente para que o patologista faça um diagnóstico. Se este não for claro, faz-se uma biopsia em cone, em que se extrai uma maior porção de tecido. Geralmente, esta biopsia faz-se por excisão electrocirúrgica na própria consulta do médico.
Uma vez feito o diagnóstico, devem ser determinados o tamanho e a localização exacta do cancro (ou seja, faz-se uma estadiação). O processo começa com um exame físico da pélvis e vários testes (cistoscopia, radiografia do tórax, pielografia endovenosa, sigmoidoscopia) para determinar se o cancro cervical se espalhou a outras estruturas circundantes ou a partes mais distantes do corpo. Além disso, podem ser feitos outros testes, como uma tomografia axial computadorizada, um clister com papa de bário e radiografias aos ossos e ao fígado, dependendo das características de cada caso.
Tratamento
O tratamento depende do estádio em que o cancro se encontra.
Se o cancro estiver confinado à camada mais externa do colo (carcinoma in situ), muitas vezes pode ser eliminado por completo extraindo parte do colo com um bisturi ou mediante excisão electrocirúrgica. Este tratamento tem a vantagem de não alterar a capacidade de ter filhos. Mas, uma vez que é possível que o cancro recidive, os médicos aconselham as mulheres a fazerem revisões e Pap de 3 em 3 meses durante o primeiro ano e depois de 6 em 6 meses. Se uma mulher tiver um carcinoma in situ e não desejar ter filhos, é recomendável a extirpação do útero (histerectomia).
Se o cancro estiver num estádio mais avançado, é necessário fazer uma histerectomia e uma extracção de estruturas adjacentes (histerectomia radical) e de gânglios linfáticos. Os ovários, se estiverem normais e se funcionarem correctamente, não são extraídos quando as mulheres são jovens.
A radioterapia também é muito eficaz para o tratamento do cancro cervical avançado que não se espalhou para além da região pélvica. Apesar de provocar poucos ou nenhum problema imediato, pode causar irritação no recto e na vagina. As lesões na bexiga e no recto podem dar-se até algum tempo depois, e os ovários, em geral, deixam de funcionar.
Se o cancro se tiver propagado para além da pélvis, por vezes deve-se recorrer à quimioterapia. No entanto, só é eficaz em 25 % a 30 % dos casos tratados e os efeitos normalmente são temporários.
Resultados do teste de Papanicolaou (Pap): fases do cancro cervical
Normal
Displasia cervical mínima (primeiras alterações que ainda não são cancerosas)
Displasia grave(alterações posteriores que ainda não são cancerosas)
Carcinoma in situ (cancro confinado à camada mais externa do colo uterino)
Cancro invasivo
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