Menino pesa 2,8 quilos e passa bem.
Milagre foi a definição de quatro policiais militares do município de Laranjeiras do Sul, na região oeste do estado (entre Guarapuava e Cascavel), ao retirar com vida um recém-nascido de uma toca de tatu, na tarde de ontem. O bebê ficou parcialmente enterrado por cerca de 24 horas e, possivelmente, só sobreviveu porque o cordão umbilical não havia sido cortado. Ele foi levado ao hospital, pesa 2,8 quilos, mede 46 centímetros e passa bem.
Patrícia Cavallari
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O recém-nascido foi encontrado a tempo, graças aos olhares atentos dos moradores do bairro São Miguel. Segundo o tenente Paluch, que participou do resgate, os vizinhos perceberam quando Lucinda Ferreira Guimarães, 40 anos, saiu de casa, por volta das 16h30 de domingo. Perto das 18h, a mulher retornou com as roupas sujas de sangue e com a barriga menor. Os vizinhos desconfiaram que algo errado teria acontecido e resolveram fazer algumas buscas. Cerca de 24 horas depois de a mulher ter dado à luz, os moradores encontraram o bebê com o corpo enterrado dentro de uma toca de tatu, apenas com a cabeça para fora, em um matagal situado a aproximadamente 100 metros da casa de Lucinda.
Resgate
Moscas sobre a cabeça do bebê e o fato de ela estar quieto fizerem com que todos acreditassem que o bebê estivesse morto. Os moradores chamaram a polícia. Quando os PMs chegaram ao local e apanharam o bebê, ele começou a chorar. “Tiramos a terra de sua boca e corremos para o hospital. O médico então cortou o cordão umbilical, que ainda estava ligado à placenta. Por um milagre a criança passa muito bem”, contou Paluch.
Assim que deixaram o bebê no hospital, os policiais foram atrás da mãe. Eles encontraram Lucinda em um bar. “Ela estava em estado de choque e não conseguiu falar nada quando foi presa. Em princípio, Lucinda negou ser a mãe da criança, mas, no hospital, o médico a examinou e constatou que no corpo dela haviam indícios de que teria dado à luz nas últimas horas”, contou o PM.
Lucinda foi levada à delegacia e presa em flagrante por tentativa de homicídio.
A mulher não pode ser interrogada pois só falava frases sem nexo. Em poucas palavras, disse apenas que é mãe de outros quatro filhos e que não queria ter o bebê, porque ele não era filho do seu atual marido.
Placenta
De acordo com um médico obstetra da Maternidade Curitiba, consultado pela reportagem da Tribuna, provavelmente o recém-nascido sobreviveu porque o cordão umbilical não havia sido cortado, o que impediu a criança de perder sangue. “Ele não passou fome porque tinha nutrientes armazenados no organismo, capazes de sustentá-lo durante o tempo que ficou enterrado. O buraco em que ficou também o protegeu, de certa maneira, pois fez com que ele não perdesse calor”, avaliou o médico.
Problemas psicológicos pra toda a vida
Solidão e rejeição são alguns dos sentimento que poderão ser despertados durante a infância e a vida adulta do bebê. A constatação é do psiquiatra e chefe do laboratório de Hipnose Forense do Instituto de Criminalística de Curitiba, Rui Fernando Cruz Sampaio.
Segundo o médico, o próprio parto é um processo traumático para todos os bebês, uma vez que eles saem do útero, que é calmo, com ausência de luz e ruídos, para uma realidade com que não estão ambientados. No caso do filho de Lucinda, o trauma é agravado pelo abandono cruel praticado pela da mãe. “A criança não vai lembrar que foi enterrada, mas seu inconsciente vai registar a rejeição que viveu durante as 24 horas que ficou no buraco, além da sofrida durante a gestação indesejada”, explicou Sampaio.
No futuro, a criança também poderá ter baixa auto-estima e depressão. Vai depender agora do carinho e da proteção dispensados pelos responsáveis pela guarda criança, para que ela não desenvolva esse quadro. “O que importa é que a criança seja bem cuidada. Daqui para frente ela precisa receber uma boa compensação. Somente desta forma poderá se recuperar do trauma”, disse o médico.
Meu Deus...
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