sexta-feira, 28 de maio de 2010

As habilidades eletivas


As mais recentes pesquisas mostram que cada habilidade depende de um tipo específico de conexão, cada uma delas com um tempo de maturação determinado pela natureza. No caso da linguagem, em algum momento do período que vai dos sete aos dez meses, a criança já identifica e imita os fonemas da língua materna. Ao chegar aos dois anos, os circuitos neurais estão em uma fase importante da evolução e estabelecimento de ligações. Nesse momento, é fundamental conversar com a criança para enriquecer-lhe o vocabulário.

Fonte: http://www.estado.estadao.com.br/
edicao/especial/ciencia/cérebro

É justamente nessa fase que o indivíduo começa a traduzir o pensamento em frases e a misturar as palavras, seguindo um projeto mental lógico. Os especialistas recomendam ensinar uma segunda língua antes dos dez anos de idade. Há grandes chances de que o novo idioma seja falado sem sotaque. No caso da música, a chamada porta da oportunidade está aberta entre 3 e 10 anos de idade. E, de fato, a maioria dos grandes músicos começou a desenvolver suas habilidades exatamente nessa idade.

Também as emoções e o equilíbrio psicológico dependem de exercícios cerebrais. O processo tem início no primeiro minuto de existência e se estende até a adolescência. O sistema límbico é o principal centro ativado para essas funções. Essa maravilhosa usina das emoções funciona bem ou mal de acordo com o combustível que recebe e com a diligência dos operários que lhe dão manutenção. Um agrado ao menino que acertou um charada, por exemplo, estimula e fortalece as conexões do sistema límbico.

Dar parabéns ao garoto por ajudar um colega que se machucou tem o mesmo efeito. É como se programar a máquina do pensar para que no futuro o indivíduo seja sociável e solidário. Essa é a gênese física do bom cidadão, daquele que poderá, na maturidade, desprezar o "jeitinho". O que não quer dizer que doses de exercícios desse tipo possam transformar o pequeno em um Ghandi, ou em um Luther King. Para que surja um fora-de-série desse tipo é necessária uma complexa combinação de fatores genéticos, educacionais e ambientais.

Moldando o caráter da criança – Segundo o consagrado neurologista norte-americano Antônio Damasio, emoção e razão estão intimamente ligadas e "acertar" na vida depende muito da qualidade dessa mistura. Um abraço e palavras de estímulo à criança que caiu do escorregador podem produzir importante diferença na conformação dos microscópicos circuitos de entrelaçamento das emoções e da razão. Uma sucessão de experiências desse tipo pode conferir à criança a capacidade de controlar as emoções e, anos depois, sair-se bem de situações embaraçosas ou de risco.

As experiências ligadas ao medo também são importantes nesse aprendizado. A amígadala (uma região destinada a tocar a sineta do alarme e da inibição) é responsável pelo grito de horror da criança acuada por um gato enraivecido. A experiência fica gravada de acordo com a intensidade da emoção. A memória desses fatos funciona como um guia de conduta futura para o indivíduo, auto-instruído a não enfiar a mão na jaula do leões quando levar os próprios filhos ao zoológico.

O esportista e a dançarina – Por volta dos cinco anos de idade, a criança desenvolve o senso de lateralidade e de direcionalidade. Completa a estrutura mental que lhe permite reconhecer conceitos como o de em cima e embaixo. Enfim, aprende a se localizar no espaço. É o momento indicado para iniciar atividades como a dança e o esporte.

Depois de várias fases de desenvolvimento, a criança ultrapassa os dez anos e passa a cultivar o pensamento abstrato. É o primeiro passo para o amadurecimento final. O cérebro do adolescente já formula hipóteses e tira conclusões a partir dos fatos observados. Nesse momento, o indivíduo passa a conhecer as próprias habilidades e pode definir, por si próprio, de que maneira pode ajudar o próprio cérebro a completar o ciclo de evolução.

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